Entrevista A BOLA: «Talvez Schjelderup tenha a cabeça de alguém com 50 anos»

Benfica Entrevista A BOLA: «Talvez Schjelderup tenha a cabeça de alguém com 50 anos»

NACIONAL28.07.202319:39

Poucos conhecerão tão bem Schjelderup como Cato Hansen. O treinador acompanhou os primeiros passos do extremo no Bodo/Glimt e tornou-se amigo e confidente. Sempre que Andreas volta à Noruega treina-se com Hansen. E, na última vez, «o tempo não passava suficientemente depressa» para voltar ao Benfica.


- Andreas Schjelerup ganhou um prémio de desempenho escolar e ofereceu-lhe o dinheiro por tê-lo ajudado na carreira. Pode contar-nos do que se tratou?
- Sim. No ano anterior a ele ir para a Dinamarca, diria nos seis meses antes, fomos atingidos pela pandemia e ele não conseguiu treinar-se muito com a equipa do Bodo/Glimt, por causa das regras e também por causa da situação contratual. Não quis assinar um contrato e não podia treinar-se. Foi nessa altura que nos aproximámos mais, tive mais sessões com ele, para ajudá-lo, porque não tinha equipa para treinar-se antes de sair para a Dinamarca. Foi o período mais intensivo que tive com ele. Ele continuou, à distância, a escola na Dinamarca e cada vez que regressa a casa ajudo-o para continuar a treinar-se no verão e no período do Natal, durante as férias. Foi um gesto bonito, passei algum tempo a ajudá-lo quando esteve em casa, na Noruega.


- Ele é mesmo um bom estudante?
- Sim. É um aluno exemplar. Tem boas notas em todas as disciplinas, seja matemática ou línguas.


- Acabou por completar os estudos em Portugal, certo?
- Quando voltou agora no verão fez os exames e teve as melhores notas.


- Como o conheceu?
- Ele esteve na academia [do Bodo/Glimt] desde novo, foi um dos jogadores em quem sempre acreditámos. Ele conseguiu triunfar porque é muito concentrado e determinado. É muito curioso e quer sempre dar o próximo passo em frente. Está sempre interessado em encontrar novas formas de treinar para melhorar. Numa forma positiva, quer alcançar depressa os objetivos.


- O que o tornava e torna diferente em campo?
- A concentração e mentalidade nos treinos e jogos. É excecional a fazer as coisas com qualidade. Quando treinamos muitos jovens na academia percebemos as diferenças deles na forma de pensar e treinar, na forma como querem que as coisas aconteçam sem fazer o trabalho. É, definitivamente, o rapaz com o foco certo naquilo que precisa para dar o próximo passo a cada ano. Ele treina-se no duro, muito, com qualidade, quer descobrir sempre detalhes para melhorar. Essa é a grande diferença entre ele e outros. Muitos esperam que os treinadores os tornem bons, mas ele percebe que ele é que precisa de trabalhar. A diferença entre ele e muitos outros jovens é mesmo muito grande.


- Como analisa a progressão dele?
- Discutimos isso quando deixou o Bodo/Glimt para a Dinamarca. Pensámos que poderia precisar de seis a nove meses para adaptar-se ao nível do Nordsjaelland. Mas precisou apenas de três meses. E habituou-se ao ritmo e às exigências para jogar na primeira equipa. Chegou sempre ao nível superior muito mais depressa do que o esperado. Talvez esteja a acontecer o mesmo no Benfica. Estava curioso para saber quanto tempo precisava, mas, pelo que sei, talvez esteja adaptado e possa competir por um lugar e jogar com regularidade. Mas talvez saibam mais disso que eu.


- Na época passada não houve oportunidade de vê-lo na primeira equipa, mas a verdade é que esteve bem nos jogos de pré-época e sabemos que Roger Schmidt está a gostar. Ele aconselhou-se consigo quando teve a oferta do Benfica?
- Não. Não estive envolvido. O pai dele é um homem inteligente e tem controlado tudo. Mas discutimos muito sobre qual o próximo e natural passo na carreira. Ele não está interessado em manhãs de glória, está interessado num sítio em que possa jogar. Sempre teve bem definido que queria jogar na Champions e ao mais alto nível. Mas sobre as escolhas de equipas acredito que estão a fazer um trabalho fantástico para que ele se possa desenvolver. Tem escolhido com o pensamento em como pode integrar-se na equipa e em como pode jogar depressa. Como jovem, tem planeado bem a carreira. Na cabeça dele talvez tenha 50 anos, é muito inteligente.


- O que lhe disse ele este verão do Benfica, dos companheiros de equipa, do treinador, do país?
- Ele falou muito sobre a grande qualidade dos jogadores. Mesmo muito bons, top. Para ele é muito divertido ir para os treinos diariamente. Jogar com companheiros de equipa de qualidade top e de classe mundial é como, perdoem-me a expressão, usar drogas. Quer-se sempre mais e mais. Ele sabe que se estiver na posição certa a bola chegará sempre. Ele nunca teve esta experiência. Se fizer as coisas bem os companheiros vão sempre vê-lo e dar-lhe oportunidades com a bola. Ele está mesmo a gostar da qualidade dos jogadores. E, claro, tudo o que envolve o Benfica. É uma grande equipa, um grande clube, com muitos adeptos em todo o lado. Muito maior ao que estava habituado. Na Dinamarca, o Nordsjaelland não é um grande clube como o Benfica, não tem tantos espectadores nos jogos. O Benfica é gigante, se compararmos os dois clubes. Ele tem sentido isso, é uma coisa a sério.


- Ele sente que vai ter mais oportunidades esta época?
- Sente que tem progredido no que precisava de trabalhar. Teve muitos feedbacks positivos dos companheiros e dos treinadores. As coisas parecem boas. Se isso significa que vai jogar mais ou não, não sei responder. Mas tem jogado mais nos particulares. Talvez seja um sinal dos treinadores de que ele está a progredir.


- Ele está feliz no Benfica?
- Penso que sim. Estava muito animado quando treinámos no verão. Está em boa forma porque está treinar-se bem. Estava ansioso para recomeçar. O tempo não passava suficientemente depressa para ele para voltar. Parecia bem, em forma.


- Como é socialmente?
- Tem bons amigos em Bodo, alguns também jogam futebol. Socialmente, é como a maioria dos jovens, talvez a característica mais forte dele, neste aspeto, é preocupar-se com quem está à volta dele, amigos e família. Isso é o que mais me impressiona nele. E isso é importante. Como pessoa, mantém-se igual, não perdeu qualidades, apesar do progresso na carreira ou por estar agora num clube grande. É o mesmo rapaz que conheço há 5/6 anos.