A BOLA em Riade Soares de Oliveira explica porque não contratou Galeno e fala de outros tempos no Benfica

FUTEBOL24.09.202407:00

Chegou à Arábia Saudita há precisamente um ano, depois de ter deixado Luz,. Falou pela primeira vez do negócio falhado com o FC Porto e obviamente que o Benfica marcou a conversa, mas pouco

Domingos Soares de Oliveira deixou o Benfica há precisamente um ano. Rumou até à Arábia Saudita, mais propriamente até à cidade de Jeddah, para assumir o cargo de CEO do Al Ittihad, um dos quatro clubes geridos pelo PIF: fundo soberano saudita que controla o Al Ittihad (onde joga Danilo), o Al Hilal (de Jorge Jesus, Rúben Neves e João Cancelo), o Al Nassr (de Cristiano Ronaldo e Otávio) e o Al Ahli. Depois de um ano em silêncio A BOLA desafiou Domingos Soares de Oliveira para uma entrevista, aproveitando o facto de nos encontrarmos em Riade, a convite da Liga Saudita, juntamente com o Maisfutebol.

O Al Itthihad viajou desde Jeddah até Riade para jogar com o Al Hilal de Jorge Jesus (derrota por 3-1) na última jornada e para além do jogo da liga saudita, Domingos Soares de Oliveira teve uma reunião precisamente do PIF. Findos estes compromissos, partilhou com A BOLA e o Maisfutebol o que lhe vai na alma, depois de um longo período em silêncio.

Como está a ser esta aventura, como responsável máximo do Al Ittihad, que até esta quarta jornada era um dos líderes da liga saudita, juntamente com o Al Hilal?

É uma experiência muito interessante. É um desafio grande porque o futebol na Arábia Saudita está numa fase de profissionalização muito forte. Temos tido aqui oportunidade de ter grandes jogadores, a jogar nas várias equipas, e aquilo que estamos a construir nesta indústria aqui, para qualquer profissional, é uma experiência absolutamente invulgar e única. Portanto, eu, pessoalmente, estou muito satisfeito com aquilo que tem sido a evolução da indústria aqui na Arábia Saudita.

O que é destacaria mais dessa evolução e desse envolvimento que existe à volta do futebol saudita nesta altura?

Acho que aquilo que se nota é uma transformação do futebol. Os próprios clubes tinham estruturas mais amadoras. Hoje já têm uma estrutura profissional. Nós, no Ittihad, temos um conjunto de pessoas que vieram de vários países e que estão a ajudar a desenvolver o futebol, mas também temos a capacidade de atrair talento. Este ano contratámos um conjunto de jogadores mais jovens do que aquilo que tínhamos contratado no ano passado e, portanto, isso dá uma dinâmica diferente ao futebol. E, aquilo que acredito é que esta liga vai ser extremamente interessante nos próximos anos. Já este ano, mas também certamente nos próximos dois ou três anos.

Um dos jogadores que não contratou foi o Galeno. Foi uma transferência não concretizada, muito falada, com críticas à mistura também por parte do FC Porto. Conte-nos lá qual é a versão do seu clube para aquilo que aconteceu? Nós tínhamos um conjunto de alvos identificados, trabalhámos relativamente a esses alvos e trabalhámos com todos os clubes. Efetivamente o Galeno era um jogador que nos poderia interessar, mas dentro das opções que existiam, e eu próprio tive ocasião de falar com pessoas do Futebol Clube do Porto, entendemos que efetivamente o Steven Bergwijn era um jogador que se adaptava mais às características do futebol saudita.

Mas, porque é que a situação teve de ser resolvida até aquele limite?

Porque no futebol, muitas vezes, o último dia de transferências é o dia mais intenso e, portanto, as negociações são normais. São feitas com os clubes, são feitas com os jogadores, são feitas em função dos interesses do clube e, portanto, nessa altura, foi aquilo que foi entendido fazer. E não estamos arrependidos.

Basicamente, queriam manter mais do que uma opção em aberto por ser o último dia?

Nós temos sempre várias posições em aberto e, relativamente à posição do extremo, tínhamos efetivamente um conjunto de jogadores que estavam identificados e, portanto, isso é uma coisa normal. Quer dizer, não há nenhuma negociação que seja feita só com aquele alvo. Portanto, foi uma negociação que se prolongou para além daquilo que seria desejável, mas é absolutamente normal. Quer aqui quer quando estava em Portugal, fechávamos muitos negócios praticamente no fim do mercado.

A Arábia Saudita surge numa altura ideal para si. Precisava de sair de Portugal?

Não. Pessoalmente, não tinha nenhuma necessidade de sair de Portugal. Mas, o projeto da Arábia Saudita, como me foi apresentado, é o desafio de, por um lado, ser um clube, mas por outro ser uma entidade, que tem um acionista como o fundo soberano, era uma oportunidade interessantíssima. Ainda hoje falava aqui com CEO do Al Hilal, e comentávamos os dois que efetivamente um bom profissional não pode efetivamente dizer não estas oportunidades.

E à distância que está de Portugal, consegue estar alheio a tudo aquilo que se passa no seu Benfica?

Acompanho tudo o que se passa no meu Benfica, mas não faço nenhum comentário sobre a situação atual.

Prefere manter se à margem daquilo que se passa por lá?

Acho que o tempo passou e efetivamente, hoje em dia, os dirigentes do Benfica seguem uma estratégia diferente. Portanto, acompanho, mas não faço absolutamente nenhum comentário. Tenho mantido um bom contacto com todas as pessoas que estão no Benfica, com quem me relacionava, vamos falando, mas agora é o tempo deles, não é o meu.

Ao contrário desta posição, o anterior presidente do Benfica fez questão de falar sobre o atual Benfica. Viu a entrevista?

Não faço nenhum comentário. Acho que não o devo fazer, sinceramente, por uma questão de princípio. Aliás, se virem aquilo que foi o meu ano, vai agora fazer um ano que saí do Benfica e até agora nunca fiz nenhum comentário. Não é agora que vou fazer.

Não sente necessidade por vezes de se defender, perante as muitas coisas que se dizem?

O meu bom nome é aquilo que eu tenho relativamente às pessoas com quem trabalho, às pessoas com quem trabalhei, àquilo que são os meus amigos e aquilo que é a minha família. Isso é que é para mim é o mais importante.

Os adeptos não sabem o que é que verdadeiramente se passa ou se passou nestes últimos anos no Benfica?

Sabem. Acho que os adeptos sabem perfeitamente aquilo que se passou no Benfica e sabem efetivamente o caminho que o Benfica fez durante estes anos todos e o caminho que continua a fazer. Portanto, isso é uma coisa normal. Os profissionais passam nos clubes, todos os dirigentes passam nos clubes, deixam a sua marca e depois seguem o seu caminho.

Ao vir para a Arábia, sento que o seu tempo em Portugal já acabou ou ainda sonha voltar ao futebol português?

 Não, não tenho nenhuma ideia relativamente a isso. Acho que o projeto aqui é um projeto de três anos e esses três anos são intensos. Neste momento, aliás, já tenho aqui a minha família, e não tenho propriamente planos de estar a pensar o que é que vou fazer daqui a dois anos.

Sente-se bem, em termos pessoais a viver aqui na Arábia?

Muito bem. É uma qualidade de vida grande, um conjunto de profissionais extremamente competentes, um acionista que é o fundo soberano, extremamente exigente e, portanto, obriga-nos todos os dias, por um lado a reinventarmos e, por outro lado, a sermos muito melhores naquilo que fazemos.

Teve uma Assembleia Geral, precisamente de acionistas, do Fundo Sobreano da Arábia Saudita que gere quatro clubes. Consegue resumir-nos o que é esse tão falado PIF?

A Arábia Saudita tem um projeto importantíssimo chamado o «Vision 2030», que é um projeto de desenvolvimento do país onde a indústria de futebol também se insere. Os clubes, como referi há pouco, tinham umas estruturas relativamente inexistentes em termos de posição acionista, e entrada do fundo nestes quatro clubes visa dotá-los de uma estrutura profissional e de mecanismos de gestão que sejam ao mais alto nível daquilo que se encontra na Europa. É isso que o fundo tem feito. E nós estamos a seguir esse caminho, que não acaba aqui. Ainda vai desenvolver-se até 2030, com a construção de novos estádios, construção de equipas, desenvolvimento de jovens jogadores, criação de uma academia. Tudo isso faz parte dos nossos planos e é um projeto extraordinário.

As pessoas que falam do 'Sportswashing' na Arábia Saudita não sabem o que é que se passa cá?

Acho que as pessoas têm de ver o trabalho que está aqui a ser feito e efetivamente, quando conseguimos atrair jovens talentos, como atraímos este verão, não é uma questão de fazer qualquer lavagem de imagem ou outra coisa qualquer. É porque efetivamente todos os responsáveis do país acreditam naquilo que é esta indústria e naquilo que devem fazer para desenvolver esta indústria aqui na Arábia Saudita