Benfica Entrevista A BOLA: «Jorge Jesus é um grande pensador do futebol»
Na entrevista a A BOLA, Helton Leite falou de Jorge Jesus, treinador com quem trabalhou na Luz, enquanto ambos estiveram nas águias, e se cruzou já no futebol turco.
Esta última etapa da sua carreira levou-o até à Turquia. Como foi a adaptação ao futebol turco?
- Foi uma oportunidade que tive e agarrei. Estava há um ano e meio sem jogar regularmente no Benfica e chegou o momento de seguir em frente. Tinha várias alternativas, mas optei por aquela que mais garantias me dava para jogar. E vim para a Turquia, um campeonato muito disputado, com vários clubes muito fortes, e optei por um clube com uma boa estrutura. Mas foi também o desafio de conhecer um país novo, uma nova cultura. Estava há cinco anos em Portugal, creio que foi o momento certo para seguir em frente, respirar novos ares e ter novas oportunidades. E após estes primeiros cinco, seis meses estou muito contente com a decisão que tomei porque fiz todos os jogos sempre que estava disponível. E conseguimos o objetivo que estava definido, que era a manutenção.
- Foi uma opção difícil a mudança para o Antalyaspor?
- Fácil não foi… Porque tive ofertas do Brasil e de Espanha também, mas olhei para os clubes que me garantiam mais oportunidades de jogar. E o Antalyaspor acabou por ser aquele que manifestou mais vontade que eu fosse e isso foi muito importante, saber que contavam comigo para jogar. Estava num período muito longo sem jogar e para todos os jogadores, ainda mais para um guarda-redes, é importante estar a jogar e senti essa confiança para voltar a ser o que sempre fui. Nós somos do Brasil - embora a minha esposa seja portuguesa - mas sentimos que não era o momento de voltar ao Brasil. Temos uma ligação grande com Portugal e com a Europa e no futuro queremos fixar-nos por aí, então a oportunidade de ficar na Europa falou mais alto. E estou muito feliz.
- Havia essa garantia que iria para jogar, não para ser segunda opção para a baliza?
- No futebol, quando mudamos de um clube para outro, não existe isso de ter o lugar garantido, é preciso mostrar dentro de campo. Mas é verdade que já existia uma predisposição para tal e claro que isso já era qualquer coisa e foi preponderante. Porque já estou numa idade [32 anos] em que preciso de minutos e de me sentir importante e de competir. Fiquei surpreendido, de alguma forma, com a qualidade do campeonato turco. É um campeonato onde se joga muito futebol, os jogos são muito disputados, os adeptos são apaixonados, os estádios estão quase sempre cheios e as equipas apresentam estrangeiros de qualidade, muitos internacionais pelos seus países, com jogadores locais.
- O Helton foi logo titular mal tinha chegou, apenas com um treino creio?
- Foi isso mesmo, foi diferente. Cheguei, fiz um treino e no dia seguinte já estava a jogar e logo contra o Galatasaray, que foi o campeão. Foi algo novo para mim, mas demonstrou também a confiança que tinham em mim, e isso foi importante.
- E como foi o reencontro com Jorge Jesus, no jogo contra o Fenerbahçe?
- Foi uma sensação boa. O Fenerbahçe é um clube importante no futebol turco e reencontrar o mister foi especial. Tenho uma gratidão grande pela oportunidade que me deu quando estava no Benfica e reconheço-o como grande treinador de futebol, um grande pensador do futebol. Então, foi muito bom esse reencontro. É gratificante estar na Turquia e reencontrar muita gente que se cruzou connosco ao longo da carreira, sobretudo jogadores que estiveram em Portugal. Aqui há muitos portugueses ou que passaram por Portugal, alguns que foram colegas outros que joguei contra e nem conhecemos bem mas que aqui acabamos por ficar a conversar no final dos jogos.
- Como é que foi ultrapassar as dificuldades da comunicação, já diz alguma coisa em turco?
- [risos] Já sei algumas coisas. O Fred [Fredy, ex-B SAD] está há quatro épocas e meia lá e ajudou muito na adaptação, foi muito importante. De um modo geral as pessoas lá falam apenas turco, são poucos os que falam inglês também. Isso gera uma dificuldade muito grande, porque não temos nenhuma base do que é o turco. Com o tempo vamos aprendendo e apanhando uma ou outra coisa. O clube tem um tradutor e ajuda-nos muito. As pessoas turcas são muito atenciosas, carinhosas, gostam dos estrangeiros e tratam-nos bem. No dia a dia, mesmo não falando a língua deles e eles não percebendo o que eu dizia, há sempre boa vontade na forma de comunicar e as coisas foram dando certo.
- Avaliando esta experiência de seis meses, nenhuma dúvida que a próxima época será também na Turquia?
- Sim, tenho mais um ano de contrato e estou contente com percurso feito até aqui. E estou convicto que tenho muito mais ainda para conquistar. Estão tenho a plena convicção e desejo de continuar. Fui bem acolhido e estou bem adaptado, estou num momento feliz também a nível pessoal - o nosso primeiro filho está a caminho. Fiz 17 jogos, mas agora tenho uma época inteira para ajudar o clube a lutar pelos seus objetivos.
- Que passam essencialmente pela manutenção ou algo mais?
- Sim. O campeonato turco tem 20 equipas na I Liga e apenas cinco vagas nas competições europeias e acaba por ser complicado entrar na luta pelo acesso às provas europeias. Mas o objetivo é sempre lutar na parte de cima da tabela para tentar algo mais que a manutenção. O campeonato turco por ter muitos jogadores de qualidade e uma cultura muito ofensiva, qualquer clube pode bater o outro independentemente da classificação. Há sempre jogos com muitos golos, muitas reviravoltas, coisas inusitadas acontecem e por isso temos de estar atentos e lutar para que as coisas corram sempre bem.