«Dragão num manual de lugares comuns», a crónica do FC Porto-Leixões
Jogo com argumento já tantas vezes visto; Dragão com muitas mudanças teve de ir ao banco; Leixões a fazer pela vida
O FC Porto cumpriu os serviços mínimos ao vencer em casa o Leixões, por 2-1, num jogo que se tornou num verdadeiro manual de lugares comuns. De incidências facilmente antecipadas pelo contexto do jogo, o desnível dos intervenientes e a absoluta ausência de objetivo para ambas as equipas - já eliminadas da final-four - que não a de honrarem o compromisso de vitória. Tudo o que aconteceu era, pois, previsível à luz do tal manual:
- Sendo muito superior e não contando o jogo para nada em termos de apuramento, Sérgio iria fazer uma revolução no onze. Check. Em relação ao jogo de Alvalade, apenas Zé Pedro e João Mário repetiram a titularidade. - Com tantas mudanças, o futebol dos dragões seria menos fluido e acertivo. Check. Grosso modo, um futebol insípido, lento e quase sempre previsível.
- A equipa menos forte vai tentar defender com unhas e dentes e espreitar o contra-ataque... Check. Pedro Ribeiro apostou numa linha defensiva a cinco, com três homens no miolo e dois extremos na frente, ou seja, sem ponta-de-lança.
O Leixões é 16.º classificado da Liga 2, está numa fase difícil, proteger o ânimo é essencial e só o facto de ter marcado um golo após cinco jogos em jejum já foi positivo. Para mais, Wakaso foi expulso ao minuto 41. Em inferioridade, o 5x4x0 era o mais pragmático.
- Quando o jogo não está a correr de feição, o mais forte tem de apostar nos pesos pesados... Check. Com um empate aos 60 minutos, entraram Wendell, Galeno e Evanilson. Depois Taremi e Pepê. - Com os melhores em campo, o mais forte acaba por vencer. Check. Evanilson sofre falta para grande penalidade, Taremi não perdoa, a vitória chega com naturalidade.
VER O JOGO PELA CARA DE SÉRGIO
De incomum, apenas ver Sérgio Conceição, a espaços, sentado no banco, tranquilo, ainda com o jogo empatado a um golo. Nem um grito, nem uma reprimenda. A expressão do treinador portista era quase o espelho de jogo. Na voz de Rui Veloso, «um velho casario que se estende até ao mar». Um antecipar das respostas do manual. Porque se alguém quisesse encarar este como um jogo de oportunidades para vários dos menos utilizados, a serenidade de Conceição dizia que tinha ido ao engano. Sérgio não revelou dúvidas, ânsia de respostas que os jogadores tinham de dar.
Para isso usa os treinos, a maioria mais duros do que o de ontem. Não o dizemos para diminuir ninguém, muito menos o Leixões que fez pela vida com as armas que tem, mas pelo contexto. E se Sérgio ironizou na conferência de antevisão a este jogo que terá perdido qualidades de treinador por a equipa estar a marcar menos e a sofrer mais golos, seguramente não está pior treinador a avaliar a escolha do onze mais utilizado. Por isso, não se estranhou terem sido Francisco Conceição - sempre elétrico, sempre perigoso, sempre em jogo - e João Mário dos melhores em campo; ou ter sido Grujic a ter cometido dois disparates, um deles a dar grande penalidade; ou ter André Franco passado ao lado do jogo entre a primeira e a segunda velocidade. De resto, a calma de Conceição no jogo de ontem mostra outra coisa: ele é muito mais chato com os jogadores em que aposta.
DEITAR CEDO E... TARDE ERGUER
O jogo até parecia que ia correr de maior feição ao Dragão. Um golo logo as sete minutos, num belo remate de primeira de Francisco Conceição, não chegou para acender o rastilho, até porque seis minutos depois o Leixões marcou, de grande penalidade, no único remate perigoso à baliza. Os dragões também não souberam aproveitar o vento favorável da expulsão de Wakaso ainda na 1.ª parte. De quando me vez, lá vinha nortada, quase sempre por Conceição, mas foi mesmo do banco que saiu a chave da vitória. O que fica no bloco de notas de Sérgio Conceição? Acredito que nada. Nada o surpreendeu, nenhuma aposta lhe deixa dúvidas futuras. Este jogo foi apenas um intervalo.