Critério inflacionado da compensação foi sujeito a correção em setembro
Miguel Nogueira (Christian Moser/IMAGO)

Critério inflacionado da compensação foi sujeito a correção em setembro

NACIONAL19.10.202308:10

Portugal seguiu indicações da UEFA. Em Nyon admitiram exageros gerais. Média de 'descontos' caiu 5 minutos após apelo à moderação

A edição 2023/24 da Liga Portuguesa começou com um choque, um pouco à imagem do que sucedera na fase de grupos do Mundial do Catar: os árbitros, seguindo orientações emanadas da UEFA, alargaram substancialmente o tempo de compensação, procurando assim dissuadir o antijogo e aumentar o tempo útil das partidas. Esta medida, benévola, levou a algumas interpretações literais do que estava em causa, e foi com surpresa generalizada que alguns jogos chegaram a ter mais de 20 minutos de compensação. 

Esta nova realidade impactava não só com a condição física dos jogadores como, sobretudo, com as estratégias dos treinadores, que passaram a guardar substituições para os minutos finais do tempo regulamentar, precavendo a possibilidade de haver uma compensação de 15 ou mais minutos.

O que diz a lei

O ponto 3 da Lei 7, sobre recuperação de tempo perdido, diz que «cada parte deve ser prolongada para recuperar todo o tempo de jogo perdido ocasionado por:

— substituições;

— avaliação das lesões ou transporte dos jogadores para fora do terreno de jogo;

— perdas de tempo;

— sanções disciplinares;

— paragens médicas permitidas no regulamento da competição, como para hidratação (que não devem exceder um minuto), e paragens de arrefecimento (de 90 segundos a três minutos);

— atrasos devido aos checks e revisões efetuadas pelo VAR;

— celebração de golos;

— qualquer outra causa, incluindo qualquer atraso significativo num recomeço de jogo (por exemplo devido a uma interferência de um agente externo).»

Para padronizar o comportamento dos árbitros, foi-lhes dada a seguinte indicação sobre tempos que devem ser acrescentados:

— celebrações de golos: 60 segundos;

— substituições, por paragem: 45 segundos;

— jogador lesionado: todo o tempo perdido.

Para facilitar o processo, foi determinado que a equipa de videoarbitragem ajudasse na contabilização dos tempos perdidos, nos seguintes termos:

— AVAR regista;

— Árbitro questiona;

— VAR comunica sugestão de tempo a adicionar.

Indo de mais a menos

As indicações dadas aos árbitros portugueses no início da época aconteceram na sequência de uma diretiva informal da UEFA, que aconselhou os Conselhos de Arbitragem de cada país a aplicar com mais rigor o tempo de compensação. Porém, sem que se tivessem realizado testes prévios em contexto de competições domésticas, onde o tempo útil é sempre menor do que aquele que se verifica nas competições internacionais, o resultado foi muito para além do esperado, desvirtuando até aquilo que era a razoabilidade da medida. 

Assim, na paragem das seleções de setembro passado, o Conselho de Arbitragem, ouvida a UEFA, que agiu transversalmente, deu indicações aos árbitros para moderarem um pouco o rigor que vinha a ser aplicado, ajustando os critérios.

O que é facto, e os números não mentem, é que após a intervenção do Conselho de Arbitragem, que teve efeitos práticos a partir da quinta jornada da Liga, o tempo de compensação desceu significativamente (ver quadro ao lado). Para que se tenha uma ideia, os números oficiais, já corrigidos, em função de tempo que efetivamente se jogou a mais do que apareceu nas placas dos quartos árbitros (a Liga confirma no seu site que «a recolha dos dados é feita em tempo real, sendo, depois, certificada». «Os resultados apresentados podem, por isso, sofrer alterações até 48 horas após o final de cada jogo»), dizem que nas duas primeiras jornadas houve, em média, 15.16 e 15.26 minutos de compensação; na terceira e na quarta, houve 13.04 e 13.33 de média; e a partir da entrada em campo do Conselho de Arbitragem, as últimas quatro jornadas tiveram 11.11, 10.16, 11.48 e 10.30 minutos. Ou seja, entre como começou e como está, verifica-se diferença de cerca de cinco minutos.

Quem fez mais pontos

Os jogos só acabam quando o árbitro determina, e até ao lavar dos cestos é vindima. E quem levou mais uvas para casa foi o FC Porto, que no tempo de compensação conseguiu oito pontos (dois com o Farense, três com o Rio Ave, um com o Arouca e dois com o Gil Vicente). Nesta lista segue-se o SC Braga, com cinco pontos (dois com o Moreirense e três com o Rio Ave), enquanto os restantes emblemas do top-5 conseguiram dois pontos cada (Benfica com o Estoril, Sporting com o Vizela e V. Guimarães com o Estoril). O Estrela da Amadora somou quatro, o Famalicão conseguiu três pontos, Arouca, Boavista, Casa Pia e Portimonense fizeram dois pontos cada, Vizela e D. Chaves, um ponto, enquanto que Farense, Estoril, Moreirense, Gil Vicente e Rio Ave não aumentaram o pecúlio pontual no tempo de compensação.

Quanto a golos marcados na compensação, o SC Braga lidera a lista (seis), seguido do FC Porto (cinco). Os 18 clubes já marcaram na compensação…

Para registo, nestas primeiras oito jornadas da Liga, o jogo com mais tempo de compensação aconteceu na segunda jornada, quando o árbitro Miguel Nogueira chegou aos 25 minutos (3 na primeira parte, 22 na segunda) no FC Porto-Arouca. Nos antípodas esteve Carlos Macedo, que concedeu, à sétima jornada, cinco minutos de compensação (2+3) no Rio Ave-Moreirense. 

Os minutos dos árbitros

Os jogos têm dificuldade diferente, podem ter mais ou menos incidentes, houve uma mudança de critério a partir da quinta jornada e os resultados que se seguem não podem ser lidos de forma linear. Os árbitros, até agora, segundo os números oficiais da Liga (16/10/2023), mais parcimoniosos no tempo de compensação foram David R. Silva, com uma média de 7.42 minutos em dois jogos; Carlos Macedo, com 8.07 em dois jogos; André Narciso, com 10.21 em quatro jogos; Bruno Vieira, 10.36 em três jogos; e Artur Soares Dias, com 10.39 em dois jogos. 

No outro lado da moeda, surge à cabeça Miguel Nogueira, com 17.35 minutos em três jogos; Ricardo Baixinho, com 16.49 em dois jogos; Cláudio Pereira, com 14.52 em cinco jogos; Hélder Carvalho, com 14.24 em três jogos; João Gonçalves, com 14.04 em quatro jogos; Fábio Veríssimo, com 13.39 em três jogos; e Bruno P. Costa, com 13.31 em três jogos (ver à parte quadro completo).