Benfica: fileiras cerradas
Roger Schmidt, 56 anos, tem contrato com o Benfica até 2023 e ganha €4 milhões limpos por temporada. Foto: Miguel Nunes/ASF

Benfica: fileiras cerradas

NACIONAL05.03.202412:00

Depois da derrota no Dragão e mais contestação, Rui Costa mantém, para já, Roger Schmidt; cresce insatisfação na Direção sobre o trabalho do treinador; ordem: reagir já contra o Rangers

As ondas de choque da goleada sofrida no Dragão atingiram não só sócios e adeptos como também a Direção do Benfica. Em causa, para todos, está o trabalho de Roger Schmidt, outra vez no olho do furacão, como aconteceu depois do empate dos encarnados, em casa, com o Farense. Então como agora Rui Costa segura o treinador, não obstante estar a crescer a insatisfação, dentro e fora do clube.

O presidente do Benfica, depois da derrota com o FC Porto, deu um claro sinal de que o momento é de cerrar fileiras. Pediu desculpa aos adeptos, ao contrário de Roger Schmidt, e levantou o véu sobre a mensagem que também passou no balneário, quando se dirigiu a equipa técnica e jogadores. Rui Costa assumiu a responsabilidade, também a exigiu, e valorizou o orgulho dos benfiquistas que foi visto nas bancadas — aos 85 minutos, quando a equipa já perdia por 0-4, os adeptos dos encarnados começaram a cantar «Eu amo o Benfica» — e quer ver nos jogadores.

Inferno na Luz

Rui Costa exige, por isso, reação imediata da equipa contra o Rangers, quinta-feira, na Luz, na primeira mão dos oitavos de final da Liga Europa. A sensibilidade de quem está com a equipa ou a acompanha é a de que o ninho das águias esteja a fervilhar de fúria, quinta-feira, pelo que aconteceu e possa transformar-se num inferno para jogadores e, sobretudo, treinador.

Isso já aconteceu, como se sabe, depois do empate com o Farense, a 8 de dezembro, na 13.ª jornada. O tribunal da Luz, nesse jogo, foi inclemente com o treinador — sentenciou-o a contestação de grandes proporções, com insultos e arremesso de objetos, quando, ainda na segunda parte, Schmidt substituiu Tengstedt e João Neves, por Musa e Gonçalo Guedes; e o vulcão entrou, definitivamente, em erupção com o fim do jogo, vaia monumental, assobios e lenços brancos.

«Se o problema sou eu, é fácil: saio», atirou Schmidt, na conferência de Imprensa após o empate com os algarvios. Rui Costa, no dia seguinte, não só condenou «a ação completamente despropositada» dos adeptos, como assegurou que Schmidt «é o treinador do projeto» e merece o «respeito e consideração dos benfiquistas».

Tensão volta a subir

A vitória em Salzburgo por 3-1 e, com isso, a continuação nas competições europeias, através da Liga Europa, e oito vitórias seguidas, interrompidas pela eliminação na Taça da Liga, nos penáltis, pelo Estoril, aliviaram a tensão. Que volta, agora, a subir, depois de derrotas seguidas com FC Porto e Sporting.

É impossível ignorar que, para lá de Schmidt, Rui Costa está, novamente, sob pressão. Mas entende não ser o momento adequado para tomar qualquer decisão drástica, ou seja, despedimento do treinador. O Benfica, como salientou o líder das águias ainda no Dragão, «está em três frentes» — ocupa o segundo lugar do campeonato com menos um ponto que o Sporting (leões têm um jogo em atraso) e mais seis que FC Porto; perdeu com o Sporting por 1-2 na primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal e mantém a esperança de reverter a situação; entra em campo, quinta-feira, nos oitavos de final da Liga Europa. Não seria, no entender de Rui Costa e Direção, apropriado mudar de treinador. Não faz sentido e nem sequer isso está em causa, apurou, ontem, A BOLA.

Descontentamento

A goleada no Dragão é, pois, mais um episódio que alimenta a alguma insatisfação que já existia na Direção do Benfica. Os primeiros sinais de descontentamento nasceram ainda na época anterior, pela forma como a equipa perdeu rendimento depois da saída de Enzo Fernández. Schmidt só considerou, então, substituir o argentino por Orkun Kokçu, que chegaria à Luz por €25 milhões no verão.

A gestão da utilização dos jogadores, por sua vez, também gerou algum desconforto, nomeadamente não serem considerados alguns ativos. O reforço do plantel foi, claro, condicionado pelas escolhas do treinador, que, por exemplo, preferiu David Jurásek a Milos Kerkez, e não valorizou a contratação de alternativas ao checo e ao lateral-direito Bah, por entender que Aursnes desempenha essas funções. Ristic nunca fez parte dos planos e, depois de consumada a saída da Luz, foi contratado Juan Bernat, que praticamente não jogou (foi operado a pubalgia).

As opções de Schmidt, esta época, também causaram dúvidas difíceis de esclarecer. O caso de Arthur Cabral é sintomático — começou mal, o gesto obsceno aos adeptos na garagem da Luz depois do empate com o Farense foi ultrapassado, ganhou forma física e começou a responder com golos. E perdeu o lugar quando parecia ter conquistado a titularidade.

O contrato

A 31 de março de 2023, Roger Schmidt renovou contrato com o Benfica até 2026. Passou a receber quatro milhões limpos. Despedir, agora o treinador, obrigaria o Benfica a encargos próximos dos €20 milhões, incluindo impostos. Essa situação não está em cima da mesa.

Seguir em frente

Ao Benfica resta, como tal, seguir em frente. Rui Costa assinalou que a noite do Dragão «não é para esquecer mas para tirar ilações». E indicou o caminho. «Temos de reagir rapidamente e vamos fazê-lo», atirou. Uma promessa aos adeptos, uma exigência aos jogadores.