Rui Costa, Schmidt e as circunstâncias
Rui Costa, presidente do Benfica. Foto: Miguel Nunes

Rui Costa, Schmidt e as circunstâncias

OPINIÃO16.05.202410:00

Rui Costa tem a obrigação de deixar claro como mudará as circunstâncias que Schmidt entende que impedem o Benfica de ser campeão

Rui Costa tem a indiscutível legitimidade do mandato que acaba em 2025 para manter Roger Schmidt, independentemente, e é isso que parece, de estar a remar contra maré vermelha. A maioria — e ninguém saberá se é mesmo o que acontece neste caso, não ignorando ou menosprezando as inúmeras e profundas manifestações de insatisfação, com ou sem bom senso, na Luz ou fora dela, de sócios e adeptos — não tem o exclusivo da verdade.

Não faltarão teorias e argumentos para defender a saída de Schmidt do Benfica e é fácil encontrar, na história recente, exemplos (Rui Vitória, Fernando Santos ou Jesualdo Ferreira, para não recuar mais) de como treinadores fragilizados duraram pouco após acabarem mal épocas e de começarem outras com piores resultados e exibições, para saírem depois do tempo certo. Há, ainda, aquela que poderá ser a exceção, também recente, a decisão de Luís Filipe Vieira, então contra tudo e contra todos, de manter Jorge Jesus no final da época 2012/2013, depois de perder o título no Dragão na compensação, a Liga Europa na final com o Chelsea e a Taça de Portugal com o V. Guimarães.

Roger Schmidt desabafou, no final da goleada aplicada pelo Benfica ao Arouca, no penúltimo jogo da época, no qual se verificaram, mais uma vez, protestos contra o treinador e o presidente, que nestas circunstâncias o Benfica não conseguirá ser campeão na próxima temporada.

Rui Costa tem o direito de considerar — e o dever de explicar aos benfiquistas — que Schmidt é o homem certo para continuar. E tem, neste caso, a obrigação de deixar bem claro, sobretudo, o que fará para mudar essas circunstâncias. Porque a prática, recordando mais uma vez Jorge Jesus, é o critério da verdade. E é na execução e nos resultados que o presidente do Benfica demonstrará se está certo.

Aceitar e compreender a insatisfação de sócios e adeptos, que nasceu de uma equipa que não só defraudou as expectativas, algumas exageradas outras realistas, mas também regrediu na capacidade de produzir bom futebol, apesar de investimento de quase €100 milhões, é apenas o primeiro passo, nunca será o fim. Apresentar aos benfiquistas soluções, mesmo com Schmidt, para corrigir o que correu mal e um plano claro e objetivo para a nova época — tudo bem explicadinho, sem papas na língua e às claras — será apenas o início de nova caminhada. E não poderá haver, para os benfiquistas, a mínima suspeição de que a continuação de Schmidt possa ser interpretada como almofada de conforto para o presidente ou como uma primeira barreira que o protege da contestação.

A decisão sobre o treinador da próxima época definirá, pois, o final de mandato de Rui Costa. Mas o presidente do Benfica ainda vai a tempo de outra também importante — a relação com as claques não reconhecidas. Alguns comportamentos — no último jogo condenados pela maioria que estava na Luz — repetem-se sem que haja consequências. Da impunidade não poderá prevalecer a ideia de condescendência. Será assim tão difícil identificar quem desrespeita a lei e o clube?