Sporting-Arsenal, 1-5 Banho de realidade está bem, mas era escusada a chuveirada (crónica)

NACIONAL26.11.202422:55

Arsenal fez o que quis do jogo, mas não 'matou' o Sporting ao intervalo. Fê-lo depois, com calma e tranquilidade, algo que muito faltou do lado leonino

A tendência, agora, será entrar na inevitável comparação entre Ruben Amorim e João Pereira, entre o jogo com o Manchester City e o jogo com o Arsenal, tudo situações fáceis de analisar quando se faz o Totobola à segunda-feira. A verdade do jogo desta terça-feira, em Alvalade, é que o mais forte bateu o menos forte, como quase sempre sucede no futebol e sucede sempre nas outras modalidades (e por isso o futebol se torna mais interessante e universal).

A primeira parte do encontro mostrou à sociedade que os milhões contam muito. Jogadores como Bukayo Saka ou Martin Odegaard (são apenas exemplos) fazem a diferença. Isto sem qualquer desconsideração para os futebolistas do Sporting, que são muito bons e provavelmente continuarão a cumprir excelente época. Aliás, continuarão a fazer os adversários internos viverem o que viveram hoje: vão ganhar a maior parte dos jogos, com maior ou menor dificuldade, vão permitir, até, que o oponente acredite numa reviravolta, mas em cada cinco jogos vão ganhar quatro, empatar um, talvez perder um ou outro.

O Arsenal fez o que quis do jogo desde o apito inicial. Dominou, marcou muito cedo (mas isso também o City tinha feito), voltou a marcar ali pelos meados da primeira parte e fez com que o Sporting chegasse ao intervalo com um remate efetuado à baliza adversária. Azar dos azares, na perspetiva leonina: a esse remate de Quenda defendido por Raya, que poderia ter relançado o jogo, sucedeu-se um canto já no período de compensação e o Arsenal chegou ao 3-0.

No reatamento veio a ilusão de que o Sporting ainda poderia lá chegar, sensação a que não foi alheio o golo de Gonçalo Inácio (também na sequência de um canto) que logo aos 47 minutos diminuiu a extensão do fosso. Jogava bem o Sporting, então, apoiado por uma moldura humana digna de todos os elogios. Apostamos que pela cabeça de muitos sportinguistas passou, nesse período, a possibilidade de aniquilar o fantasma da Supertaça frente ao FC Porto, quando perderam um jogo que venciam por 3-0. Tinham razão: a equipa estava forte e motivada, a querer pegar no jogo com personalidade. Mas aqui entra uma das personagens mais famosas da história do futebol: o talvez.

Talvez um dos vários remates leoninos pudesse ter reduzido a desvantagem para um golo. Talvez o Arsenal pudesse ter mesmo adormecido. Mas não adormeceu. Deixou campo ao Sporting para jogar, organizou-se bem na defesa e soube atacar como fazem os maiores. Depois de 20 minutos, mais coisa, menos coisa, a ver como a coisa andava, os ingleses forçaram um ataque e Diomande cometeu um penálti escusadíssimo.

Talvez Franco Israel pudesse ter defendido. Talvez os leões pudessem ter sido mais eficazes num dos 14 (14!) remates que fizeram na segunda parte. Talvez Quenda pudesse ter sido mais lesto na marcação a Martinelli no primeiro golo. Talvez Saka não pudesse ter fugido tão livremente pela direita no segundo. Talvez alguém pudesse ter evitado que Gabriel Magalhães cabeceasse sozinho à entrada na pequena área depois de um canto. Talvez Gyokeres pudesse ter jogado mais e melhor, como fez na segunda parte assim que viu companheiros a menos de 30 metros dele.

Talvez Diomande pudesse não ter cometido o penálti que acabou com todas as ilusões. Talvez pudesse ter havido alguém a impedir o remate de Merino que permitiu, depois, a cabeçada de Trossard que completou a chuveirada sobre a cabeça do leão.

Um banhinho de humildade como o da primeira parte não fazia qualquer mal a uma equipa que tem agora de redescobrir-se. Uma torrente destas poderia e deveria ter sido evitada.