Antevisão: à terceira em Bérgamo será de vez, Sporting?
Gyokeres e Scalvini no jogo de Alvalade (IMAGO)

Antevisão: à terceira em Bérgamo será de vez, Sporting?

INTERNACIONAL30.11.202308:00

Leões nunca ganharam em Itália e em casa da Atalanta sofreram duas derrotas pelo mesmo resultado: 0-2

Quem é mais forte? O sétimo da Serie A ou o primeiro (sim, em igualdade com o Benfica) da Liga? Para já, na Liga Europa 2023/2024, a Atalanta segue na frente. Ganhou em Alvalade por 2-1 a 5 de outubro e lidera o grupo D com dez pontos, mais três que o Sporting e ainda com melhor ataque e melhor defesa.

Para seguir em frente no primeiro lugar e assim evitar o play-off de acesso aos 16 avos de final, o Sporting tem de ganhar em Bérgamo. De preferência por dois golos de diferença, embora não seja absolutamente necessário, pois, se vencer por 2-1, por exemplo, poderá garantir a primeira posição na sexta jornada. Ou fazendo melhor resultado na receção ao Sturm Graz do que o Atalanta na visita ao Rakow ou superando a atual diferença de golos global favorável aos italianos (+4 contra +1).

De resto, Sporting e Atalanta têm muitos factos interessantes em comum. Sabia que os italianos realizaram frente ao Sporting o seu primeiro jogo europeu? Sim, verdade. Estávamos a 4 de setembro de 1963, quando a Atalanta se estreou nas provas da UEFA na receção aos leões na primeira mão da primeira eliminatória da Taça dos Vencedores de Taças. O Sporting era bem mais experiente, pois já disputara 12 jogos internacionais. 

Há mais de 60 anos, no Municipal de Bérgamo, os golos de Calvanese (74’) e Domenghini (85’) derrotaram a equipa liderada por Gentil Cardoso. A parte final foi penosa, como penoso foi o jogo a partir dos 40 minutos, quando o médio Fernando Mendes se lesionou e não mais recuperou. Como não eram permitidas substituições, o Sporting jogou praticamente com dez homens durante 50 minutos, pois Fernando Mendes passou a ser apenas uma sombra de si próprio. Eis o onze do Sporting: Carvalho; Lino, Lúcio, David Júlio e Hilário, cap.; Fernando Mendes e Alexandre Baptista; Augusto, Bé, Mascarenhas e João Morais.

Capitães Hilário e Gardoni escolhem campo no jogo de Bérgamo de 1963

A equipa de Bérgamo, orientada por Carlo Alberto Quário e com Pizzaballa, Pesenti, Nodari, Nielsen, Gardoni, Colombo, Milan, Calvanese, Meregheti e Christensen no onze, tinha em Domenghini, então, com 22 anos, a sua maior figura. Marcou um dos golos e, no final da época, seria transferido para o Milan, onde venceria duas Series A (1964/1965 e 1965/1966) e uma Taça dos Campeões Europeus (1964/1965, à custa do Benfica), sendo ainda campeão da europa por Itália em 1968.

Apesar dessa derrota de 1963, o Sporting tem boas memórias dessa eliminatória e dessa época. Na segunda mão, em Alvalade, o Sporting ganhou por 3-1 e foi preciso disputar-se um jogo de desempate, em Barcelona, com os leões a vencerem, de novo, por 3-1. Eliminaria depois, sucessivamente, APOEL, Manchester United, Lyon e MTK, na finalíssima, conquistando o seu único troféu europeu.

Vinte e cinco anos depois da primeira derrota, o Sporting voltou a perder em casa da Atalanta e de novo por 0-2, golos de Nicolini (44’, g.p.) e Cantarruti, (80’). O grande destaque do jogo foi o jovem guarda-redes Rui Correia, que ressurgiu como titular, relegando o histórico Vítor Damas para o banco de suplentes. No final a imprensa italiana exaltou as qualidades do número 1 leonino: «Um guardião-fenómeno, um dos mais promissores da Europa, golpes de rins simplesmente formidáveis», leu-se na La Gazzetta dello Sport

Rui Correia, quase herói em 1988, apesar da derrota em Bérgamo

No jogo da segunda-mão, porém, já seria o velho leão a estar na baliza. É que, logo a seguir a fantástica exibição em Itália, Rui Correia encaixou quatro golos na Luz. Orientado por António Morais, o Sporting alinhou assim: Rui Correia; João Luís, Duílio, Venâncio, cap. e Virgílio; Oceano; Marlon Brandão (Silvinho, intervalo), Carlos Xavier (Mário Jorge, 75 m), Sealy e Mário; Paulinho Cascavel.

Ano e meio após a derrota de 1988 em Bérgamo, o Sporting disputou o seu mais emblemático jogo em solo italiano. Após 0-0 em Alvalade, 0-0 em Nápoles. Com os azzurri celeste de Maradona, Alemão  Crippa, Careca e Carnevale, por exemplo. Estávamos a 27 de setembro de 1989 e no Estádio San Paolo, com 50 mil pessoas nas bancadas, o treinador Manuel José fez alinhar assim o Sporting: Ivkovic; Oceano, Luisinho, Venâncio e Leal; Carlos Manuel, cap. e Valtinho (Ali Hassan, 91 m); Marlon Brandão, Douglas e Lima (Paulinho Cascavel, 116 m); Fernando Gomes. 

Houve necessidade de prolongamento e de desempate através de grandes penalidades: 4-3 para os italianos. Ivkovic defendeu remate de Crippa; Giuliani deteve tiro de Luisinho; Careca fez 1-0; Douglas empatou; Mauro fez 2-1; Marlon Brandão rematou ao poste direito; 3-1 por Baroni; 3-2, por Paulinho Cascavel; Ivkovic defendeu remate de Maradona; Carlos Manuel fez 3-3. Nova série de cinco: Ferrara fez 4-3; Fernando Gomes atirou à barra.

Para a história ficou o penálti de Maradona defendido por Ivkovic e os 100 dólares entregues pelo argentino ao croata. À chegada a Lisboa, Sousa Cintra pediu ao guarda-redes do Sporting para mostrar aos jornalistas a nota de cem dólares que guardara na carteira. Fora de Maradona, era agora de Ivkovic. No momento de colocar a bola na marca da grande penalidade, Maradona viu Ivkovic aproximar-se e dizer-lhe que apostava cem dólares em como o argentino falharia. Maradona aceitou, recuou meia dúzia de passos, arrancou e rematou para defesa de Ivkovic. No final do jogo, foi ao balneário e entregou-lhe a prometida nota de cem dólares.

Agora, com o desejo de que não se repitam os resultados de 1963 e 1988, o Sporting parte para o seu jogo oficial número 15 no país da bota. Para já, sem qualquer vitória. O melhor foram quatro empates e todos eles já com bem mais de dez anos: duplo 1-1 com a Fiorentina (1967/1968 e 2009/2010), o famosíssimo 0-0 com o Nápoles de Maradona (1989/1990) e outro 1-1, agora com o Bolonha (1990/1991). 

Hoje, 30 de novembro de 2023, não há Domenghini, Fernando Mendes, Cantarruti, Rui Correia, Maradona ou Ivkovic. Talvez nem Tolói, Kolasinac, Zappacosta, Palomino e Touré,  certamente sem Fresneda. Mas com Gonçalo Inácio, Coates, Pedro Gonçalves e, entre outros, o colosso dos colossos: Viktor Einar Gyokeres.

EQUIPA PROVÁVEL DO SPORTING: Adán; Diomande, Coates e Gonçalo Inácio; St. Juste, Hujlmand, Morita e Nuno Santos; Edwards, Gyokeres e Pedro Gonçalves

O que disse Rúben Amorim, treinador do Sporting:

Sabemos como joga a Atalanta, é mais difícil pressionar em campo inteiro. É diferente do que costumamos fazer e temos de melhorar em relação ao jogo da primeira volta. A Atalanta já está apurada mas nós ainda não. Por isso, antes de pensarmos no 1.º lugar do grupo temos de pensar na qualificação e de nos focar em tudo o que não fizemos bem no jogo de Alvalade.

EQUIPA PROVÁVEL DA ATALANTA: Musso; Scalvini, Djimsiti e Kolasinac; Hateboer, De Roon, Ederson e Ruggeri; Koopmeiners; Scamaca e  Lookman

O que disse Gian Piero Gasperini, treinador da Atalanta:

«Cada jogo é diferente. Claro que temos um objetivo que podemos alcançar, que é o de passar diretamente aos oitavos de final. No início da fase de grupos, o Sporting era a equipa mais credenciada, agora partimos do 0-0»