Meia hora de superioridade até à expulsão de Niakaté; A surpresa da equipa se reinventar no jogo; uma segunda parte quase perfeita
Há empates que são vitórias, tal como existem empates que representam derrotas. Por isso o futebol é um jogo estranho e difícil de entender para quem não o conhece, vive e por ele se apaixona. De tal forma estranho que o mesmo empate pode ser sentido de maneira diferente durante o mesmo jogo. E foi o que aconteceu ontem, numa Pedreira sob dilúvio, que tornou o relvado tão pesado e que exigiu um duplo esforço a cada jogador. Como se não bastasse essa contrariedade de se jogar contra uma equipa alemã em clima alemão, o SC Braga viu-se forçado a jogar com menos um jogador desde a meia hora de jogo, por expulsão (justa) de Niakate.
Infelizmente, não tem sido raro vermos expulsões evitáveis nas equipas portuguesas que jogam em competições europeias. Há, nesse facto, a alta probabilidade de ter como consequência um défice de intensidade competitiva em Portugal, onde as equipas mais fortes não são chamadas com frequência a disputar lances palmo a palmo, a discutir a bola em todas as zonas do terreno. É um registo que tem de ser entendido e mudado, porque, na verdade, condiciona a exibição e, pior, o resultado.
Irreverência do extremo levou guerreiros para a frente na adversidade; Expulsão de Niakaté deixou equipa desorientada até ao intervalo; Moutinho e Zalazar encheram o meio-campo
Superioridade sem golo
A primeira meia hora trouxe-nos uma perspetiva otimista de um Braga que dificilmente poderia deixar de ganhar o jogo.
Artur Jorge não obrigou a sua equipa a impor um ritmo muito alto, deixou a fome de golo sob reserva, preferiu que fosse mais lúcida e rigorosa, mantendo os equilíbrios, do que espontânea e fulgurante, arriscando ser surpreendida pela cedência de espaços.
Extremo analisou empate com o Union Berlim e garantiu que o SC Braga tudo fará para assegurar os oitavos de final da Champions
Mesmo assim, pacientemente, o SC Braga teve tudo para chegar ao golo antes do decisivo episódio da expulsão do seu defesa-central. E também nesse pormenor, que é um pormaior, se definem as diferenças entre as grandes equipas europeias, que nos momentos decisivos têm o necessário killer instinct para matar o jogo.
Não marcou Banza, nem Djaló e, ainda a zeros, o Braga ficou apenas com dez jogadores em campo, oferecendo ao adversário a oportunidade que ele não procurou, nem nunca mereceu, nem mesmo quando Gosens marcou, a três minutos do intervalo.
E da chuva se fez sol
Em desvantagem contra uma equipa alemã que precisava de ganhar o jogo e que tinha mais um jogador em campo, não era difícil de admitir que, entre os adeptos bracarenses, existisse um sentimento geral de pessimismo. Mesmo acreditando na sua equipa, na coragem dos seus jogadores, teria sempre de ser muito difícil. E, surpreendentemente, não foi.
Mérito dos jogadores, claro, que se souberam reinventar no jogo e tiveram tremenda atitude, mas muito mérito de Artur Jorge que conseguiu o milagre da rigorosa ocupação de espaços. Com mais pressão sobre o adversário, o Braga obrigou a errar, voltou a estar por cima no jogo e da chuva soube fazer sol. Uma segunda parte de grande qualidade tática e de rigoroso sentido de organização que só não foi perfeita porque, já depois de Álvaro Djaló ter chegado ao empate, em dois minutos (59 e 60) Djaló e Ricardo Horta falharam ocasiões claras de chegar à vitória.
O final do jogo, como se previa, trouxe a evidência do desgaste de uma equipa que lutou e deu tudo o que podia num terreno que prendia a bola e a corrida dos jogadores. E por isso se foi consolidando a tal ideia de que aguentar aquele empate e a oportunidade de discutir a continuidade na Champions e na Europa, na última jornada, já seria, por si, uma honrosa vitória.