Novo Ferguson, copo de vinho com Sérgio Conceição e emoções: tudo o que disse Amorim

NACIONAL04.11.202417:00

O ainda treinador do Sporting fez alguns esclarecimentos sobre a viagem a Londres na época passada e como deixaria o clube no final desta época se tinha contrato até 2016. Vencer o Man. City será a melhor forma de se despedir de Alvalade, realçou

- Kevin de Bruyne, Jérémy Doku, James McAtee, Rico Lewis, O’Reilly, Ortega, Savinyo, Simpson-Pusey e Jacob Wright: este era o banco do último jogo do Man. City. Por muito que se fala da complicação que está a ter Pep Guardiola em relação àquilo que são as lesões, o que acha deste banco? Quais as situações de Gonçalo Inácio e Eduardo Quaresma?

- O Quaresma está convocado, mas com limite de tempo, o Inácio está fora. Podíamos arriscar, mas não o vamos fazer. Não sabemos se ele ainda pode jogar em Braga, mas não queríamos arriscar hoje uma paragem maior, porque ele tem que parar com isso e está-se a sacrificar pela equipa e nós temos que ter cuidado porque o campeonato é muito longo e o Inácio é muito importante para nós. Em relação ao City, qualquer jogador deles é de classe mundial. Há algumas recuperações, têm jogadores em forma, mas quando se olha para o onze vê-se que é uma equipa difícil. É difícil ver como vão jogar, temos de acreditar no que vamos fazer e ir ao jogo com coragem.

- Após a sua última conferência ficaram algumas dúvidas. Disse que «a seguir Sporting este é o clube que quero, este é o contexto que quero. Foi o único clube que mexeu comigo». Foi muito claro nesta resposta, ainda assim, no final da última temporada, entrou num avião e rumou a Londres para negociar com o West Ham, que não é propriamente o Manchester United. Porque é que lá foi, se era um clube que à partida não mexia consigo?

- Vamos voltar ao mesmo assunto. Fui a Inglaterra, não fui negociar, fui conhecer o dono, tinha a decisão tomada. Fiquei porque falei com o presidente e convenceu-me a ficar mais um ano. Se pensam que já queria sair no ano passado não posso fazer nada. Aceitei este convite e já expliquei porquê. Agora é pensar no jogo de amanhã, depois teremos tempo para falar sobre isso. Agora é pensar no jogo do City, focarmo-nos naquilo que temos de fazer e depois teremos tempo de falar sobre isso.

- Há três anos quando o Sporting defrontou o Man. City você disse no final que não estavam preparados. Este Sporting está mais preparado agora? Em relação à sua renovação com o Sporting, o contrato estava em cima da mesa?

- O presidente naquela altura disse 'sei que tens a cabeça decidida, mas tens a renovação em cima da mesa'. Antes do Sturm Graz não havia nada disto, não havia esta proposta. Na reunião em que disse que queria sair o presidente Varandas disse que podia renovar e que se mudasse de ideias podíamos falar. Em relação ao jogo, sinto que sou melhor treinador agora, mas tivemos dois plantéis. Mantêm-se o Pote [Pedro Gonçalves], o [Gonçalo] Inácio e o Nuno Santos do primeiro. Em cinco anos não foram os mesmos jogadores. Sinto-me melhor treinador, mas o Guardiola também é melhor treinador. A distância mantém-se. Jogamos em campeonatos diferentes, mas sinto que tenho melhores jogadores, estamos preparados para fazer um jogo mais completo. Mas o City também está... Vamos ver, amanhã será um bom jogo para olharmos para todas essas nuances.

- Amanhã todas as televisões de Manchester vão estar sintonizadas neste Sporting com o Manchester City. Já pensou que lhe vão tirar as medidas?

- Sem dúvida, tenho a certeza disso, mas o meu foco é o Sporting. Ou seja, vou ser analisado como treinador apenas do Sporting. Será um sucesso se vencer ou um falhanço se perder? Não digo falhanço, porque perder um jogo, principalmente com o City, não é um falhanço. Tenho noção, não penso muito nisso. Mas sei que vão estar atentos a todos os pormenores do jogo, tentando analisar aqui ou ali a forma como jogamos, como nos batemos e principalmente o resultado. O meu foco está apenas em ganhar o jogo pelo Sporting, para continuarmos e estarmos cada vez mais perto do play-off para a Liga dos Campeões.

- Nesta que é a sua última semana no Sporting já lhe aconteceu estar a sentir saudades ou por um milésimo de segundo se arrependeu da decisão que tomou?

- Raramente me arrependi. Não tive tempo para sentir saudades, há tanta coisa para fazer... Não me lembro de nenhum treinador passar por isto, mas vou ter saudades do País, dos meus jogadores, do clube, mas agora não temos tempo para sentir nada. Mas depois do jogo com o SC Braga acho que vai bater um bocadinho mais do que agora.

- Considera que o empate com o Man. City é um bom resultado? Trocava o Haaland pelo Gyokeres?

- Obviamente que não me vão ouvir dizer que trocava algum jogador da minha equipa. Os jogadores da minha equipa são os melhores e o Viktor [Gyokeres] tem feito muito por nós. Em relação ao empate não posso responder assim, quando entramos em campo é para vencer, faz parte do nosso ADN.

- Disse que comunicou a Frederico Varandas que esta seria a sua última temporada, mas tinha contrato até 2026? Como se ia processar a sua saída? Antes dos jogos na Premier League há a tradição de convívio entre treinadores: amanhã vai pedir conselhos a Guardiola? 

- Não sei bem se isso era antigamente ou se ainda acontece. Nós vivemos numa cultura completamente diferente. Estou a imaginar eu e o Conceição no final de um jogo a bebermos um copo de vinho [risos], seria extraordinário vermos essa imagem [risos]. Mas farei aquilo que tiver de fazer, temos de nos adaptar à cultura e não é a cultura que se adapata a nós, teremos tempo para isso. Em relação ao contrato, estava tudo previsto desde o quarto lugar, que valia para os dois lados. Para estarmos a evitar certas situações, estava tudo alinhavado para que nenhuma das partes tivesse problemas em sair, isso fez parte da renovação, não vou entrar em pormenores, mas isso e estava contemplado no contrato.

- Amanhã despede-se de Alvalade. Está mais ansioso do que estava no primeiro dia que chegou ao Sporting?

- Estou igual. Estou mais ansioso com o jogo. Estou stressado com o jogo porque tínhamos um plano e depois o City jogou com o Bournemouth, mudou aquilo tudo e deixa-me sempre stressado quando não tenho a certeza do que vai acontecer. Apenas isso. Em relação à despedida, estou igual. Sinto-me mais confiante agora e, acima de tudo, sinto-me de consciência tranquila. E, por isso, como levo as coisas muito assim, sinto-me bastante tranquilo. Não penso em despedida. A despedida será em Braga, amanhã em Alvalade, mas, volto a dizer, enquanto o jogo não passar, só existe o jogo. Depois não sei o que vai acontecer, nem sei o que é vou sentir, mas, de certeza, vai ser um momento especial.

- Amanhã a noite perfeita seria uma vitória frente ao Man. City e ser ovacionado em Alvalade? Vai conseguir controlar as emoções?

- Vou conseguir controlar as emoções. Importante é ganhar: se for com assobios, compro já. O importante é ganhar e eu quero ajudar os meus jogadores. Ajudava-me a ir embora com outra alegria.

- Que ideias retirou de Pep Guardiola? Em relação à sua mudança, tem uma carreira muito doméstica. Pensa que isso é uma limitação? Tal como ter de falar em inglês?

- A minha comunicação no início vai ser mais simples, não será tão elaborada porque é em inglês. Acho que vou ter de passar três meses... dizem que é o que chega. Em relação aos jogadores não porque aqui também de explicar em inglês, e os jogadores, eu fui jogador, portanto eles não vão ficar ofendidos, são bastante mais básicos e, portanto, todas as informações serão dadas com facilidade. Dou os treinos muitas vezes em inglês para o Morten [Hjulmand], para o Viktor [Gyokeres], para o Ousmane [Diomande], para o Morita e, portanto, nesse aspecto não vai haver problema. Vai ser uma adaptação completamente diferente, mas a minha vida vai continuar a ser igual, há uma forma de jogo, uma ideia, a comunicação é que será mais básica. Em relação a Guardiola, retirei muita coisa dele, do De Zerbi, do Jorge Jesus, que foi meu treinador... Inspiro-me em todo o lado, olho para os melhores treinadores do Mundo, para aqueles com que me identifico, e até outros, há sempre ideias que podemos aproveitar.

- Disse há tempos que o Sporting só precisa dos adeptos e que no resto já tem um plano. O Sporting está preparado para a sua saída?

- Está. O capitão disse que não precisavam do treinador [risos]. Os jogadores são muito maduros, entendem bem o jogo. Será uma mudança, mas a equipa está preparada e tem maturidade para seguir em frente. Estão preparados e acredito que não vai fazer diferença no final. Obviamente vai ser uma mudança. Não vou estar aqui a fingir que não há uma mudança, mas a equipa está preparada e tem uma maturidade diferente para seguir em frente.

- Vai ter coragem de manter a identidade da equipa frente ao Man. City? Como se pára a máquina ofensiva do City? Colocou o Gyokeres a treinar contra o Diomande? Há tempo disse que faziam faísca.

- Há três semanas que não treinamos, não temos tido muito tempo. Queremos manter a mesma identidade quando tivermos a bola, mas temos de nos adaptar um bocadinho, não tem muito a ver com coragem. Sei que a minha equipa tem zero por cento de hipóteses se for pressionar como fazemos na liga portuguesa. Temos de nos adaptar defensivamente, com bola vamos jogar como sempre. Não. Os jogadores estão sempre a recuperar e depois o Ousmane [Diomande] esteve lesionado. O Viktor [Gyokeres] joga sempre, tem sempre de recuperar e, portanto, não tivemos essa oportunidade, mas já houve treinos que eles jogaram juntos e são jogadores de características diferentes. A forma como o Haaland procura muito juntar ao segundo poste. O Viktor não é nada assim, procura sempre o primeiro e, às vezes, atrasado. Esse tipo de pormenores não deu para treinar, digamos assim, porque também não tivemos muito tempo. Queremos sempre manter a nossa identidade quando tivemos a bola e tivermos essa capacidade de ter bola e isso vai ser muito importante para o jogo. Em relação à forma de jogar, temos que nos adaptar um bocadinho. Acho que não tem a ver com coragem. Às vezes têm mais coragem os treinadores que se adaptam um bocadinho para serem competitivos e para se ganhar o jogo do que eu saber que a minha equipa tem zero por cento de hipóteses se eu for pressionar todas as bolas como faço na Liga. E, portanto, obviamente, nós temos que ter cuidado.

- Há pessoas em Manchester que vão olhar para o jogo de amanhã como um City vs United. Como se sente sobre isso? 

- São contextos diferentes, não estou a pensar nisso. Amanhã serei treinador do Sporting e apenas do Sporting, a partir do dia 11 serei do Manchester United. Sei que vão tirar conclusões deste resultado, mas não me importa muito, sou treinador do Sporting. Entendo o interesse, mas para mim é mais um jogo contra uma equipa da melhor liga do Mundo.

- Alguma vez pensou que podia ir para Manchester? 

- Passa pela cabeça, é ali que quero continuar a minha carreira, decidi pelo clube que quero, não houve lugar para indecisões.

- Falta-nos ouvi-lo em inglês. Podemos responder em inglês? Se vencer amanhã pode ser um herói em Manchester, está consciente disso?

- Hoje só posso responder em português. O foco está em ganhar o jogo pelo Sporting, depois, as ilações que vão tirar deste jogo não são importantes para mim porque podem ser enganadoras. Se o resultado for negativo as expectativas vão baixar; se ganharmos vão pensar que chegou o novo Alex Ferguson [risos]... O que me interessa é ganhar, uma boa despedida em Alvalade, ganhar em Braga e começar uma nova aventura em Manchester. O que quero é deixar os adeptos e os meus jogadores felizes para o que vem aí da nova época.

- Falou com José Mourinho desde que aceitou o cargo no United? Em que é que ele o marcou?

- Ainda não falei com José Mourinho, ele está cheio de jogos e eu também. O impacto que teve na minha carreira foi a forma como me tratou, mostrou-me que se pode ganhar tudo e ser uma pessoa diferente do que se pensa. Um treinador especial, que nos abriu a porta. Marcante enquanto portugueses, terei tempo para falar com ele, é muito experiente. Em relação à minha experiência em Manchester, foi o único clube onde fiz um estágio, mas nunca disse 'quero voltar como treinador'. Mas vamos ver o que acontece.

- Em que medida ganhar amanhã será bom para futuros encontros com o Man. City?

- Aprendemos muito com os jogos, uma coisa é ver pela televisão, outra é jogar com eles. Quando for para o Manchester United teremos tempo para falar sobre isso, mas também não sei o que encontrei quando estiver lá. Mas será uma ajuda na preparação do jogo com eles.