A classe económica chegou e sobrou: a crónica do Shakhtar-FC Porto
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Liga dos Campeões A classe económica chegou e sobrou: a crónica do Shakhtar-FC Porto

FUTEBOL20.09.202302:22

Nunca esteve em causa a vitória de um FC Porto muito superior. Galeno foi soberbo. Shakhtar, a dura realidade de uma guerra.

Ganhar o primeiro jogo da fase de qualificação da Liga dos Campeões é sempre bom. Ganhar o primeiro jogo fora é ótimo. Pode dizer-se que não houve propriamente uma surpresa. O FC Porto tem uma equipa que não é comparável ao atual Shakhtar, que vive a dolorosa realidade de ser o representante de um país em guerra devastadora e que, por isso, já não pode ambicionar contratar brasileiros em transição para o estrelato. Joga com o que tem, joga com miúdos e com veteranos numa mistura desgarrada e apresenta à melhor competição europeia de clubes o que pode, ou seja, uma equipa competitivamente ingénua, pobrezinha, mas honrada. 

O FC Porto, apesar de jogar em território neutro, ganhou naturalmente o jogo, mas teve a enorme virtude de levar, desde o início, o desafio e o adversário a sério. Não facilitou, ganhou o jogo logo que o pôde ganhar, e depois geriu o tempo e o resultado. Não fez uma exibição arrebatadora, não teve, porque não precisou, uma daquelas atitudes de equipa à Porto, mas foi competente, profissional, sério. 

Um super e decisivo galeno 

O que haverá de mais interessante a assinalar neste FC Porto de novo e imprevisto formato é que Sérgio Conceição não voltou, como seria de prever, à experiência dos três centrais, mas, na ausência forçada de Pepê, por castigo, optou, talvez surpreendentemente, por um sistema invulgar de apenas um ponta de lança, Taremi, com Galeno a entrar do flanco esquerdo para o meio da área adversária, aparecendo nos espaços livres e desorganizando o sistema de marcação do Shakhtar. O resultado da criatividade de Sérgio Conceição saldou-se por dois golos do brasileiro e ainda uma assistência mortífera para o golo de Taremi. Galeno foi, assim, o herói do jogo, o elemento decisivo numa operação europeia pensada e planeada com rigor profissional. 

E, como este era, mesmo, um jogo que o FC Porto tinha obrigatoriamente de ganhar pela diferença de qualidade que o separava do adversário, o FC Porto cumpriu o seu dever. Pode dizer-se que a classe económica, sobretudo mais notada na segunda parte, chegou e até sobrou para uma vitória indiscutível, mas a verdade é que no futebol as vitórias só são fáceis quando os vencedores impedem que se tornem difíceis. 

Segunda parte desnecessária 

Há jogos assim, em que uma parte de quarenta e cinco minutos sem descontos seria suficiente para decidir um vencedor. Claro que devemos todos pensar que continua a ser fundamental pensarmos o jogo como se pensa o espetáculo e, sendo assim, devemos admitir que também existe mérito e até beleza na capacidade que uma equipa pode ter, como teve o FC Porto, de gerir o tempo e o resultado com manifesta competência. Em mais uma época de grande desgaste competitivo, saber gerir o esforço não deixa de ser uma arte. 

Foi isso que o FC Porto fez, em Hamburgo. Construiu, primeiro, o resultado e, depois, controlou o jogo com um futebol de equilíbrios, sem grandes rasgos, mas, também, sem qualquer risco. Correu tudo em tapete azul? Nem por isso. Houve alturas em que a defesa portista deu sinais de uma fragilidade preocupante. Primeiro, no setor esquerdo, que o Shakhtar tanto tentou aproveitar, mas também na zona central, onde Pepe e David Carmo tentam acelerar a eficácia da parceria. O mais jovem deve aprender com a sabedoria do mais velho e deve começar por aprender que na Europa, não como em Portugal, onde os cartões amarelos se acumulam sem grande prejuizo, os cartões amarelos contam. Por isso, numa competição europeia, um cartão amarelo só, mesmo, em situação de emergência e não em lances inócuos que não o justificam. 

Parte, pois, o FC Porto de um patamar confortável de três pontos na primeira jornada europeia e tudo indica que a discussão do primeiro lugar do grupo se faça com o Barcelona. Seja como for, em primeiro ou em segundo, o FC Porto é claramente favorito para passar aos oitavos de final.