A BOLA FORA «O Neymar chegou ao fim e disse, 'agora queres o quê? Pedir a camisola?'»  

Neste novo episódio de A Bola Fora, o convidado é Pedro Mendes, 33 anos, defesa central que após muito tempo no estrangeiro regressou a Portugal, pelo Estrela da Amadora, e continua sem clube. Ao seu lado, a companheira Joana, também ela interveniente nesta entrevista.

Aquela história do Neymar, queres contar?
O primeiro ano dele em Paris. Jogámos lá no Parque e lembro-me da primeira interação que tive com ele, tive de agarrar, fiz uma falta. Pedi desculpa e estava tudo na boa. E ele até disse, “precisa agarrar não”. Disse, “és mais rápido que eu, tenho de me defender dessa forma”. A jogada a seguir tudo bem, é um gajo fixe, mas estou ali para ganhar e estou ali para ganhar os duelos. A jogada a seguir fui um pouco mais ríspida, mas para tentar ganhar a bola. Ele virou a cabeça, passou de um diálogo cordial à ofensa, bipolar completamente. Eu pedi desculpa. Ele “não sei o quê, vai para aqui, vai para acolá”. Então, se vai para aqui, vai para acolá, a terceira vai levar outra vez. Também não me deixei ficar. Aquilo é coisa do momento. Acaba o jogo, acaba a disputa. “Desculpa lá, vai tomar no seu não sei o quê! Agora está aqui porquê? Para pedir camisola? Não dou camisola, não.” Disse “não, não venho pedir camisola, venho falar contigo na boa”. A partir daí foi sempre algumas picardias. Inclusive uma delas também sou expulso contra ele. Estávamos a ganhar um a zero e já tinha um amarelo. E ele faz uma super jogada. Uma cueca, vem por ali a fora e ele dá um toquezinho, adianta assim a bola. E eu pensei assim, já está, vou fazer um carrinho, isto é limpinho de certeza. Só que pronto, ele é muito ágil e eu tinha mesmo quase a certeza que ia chegar à bola. E quando vejo que não vou chegar à bola tiro os pés. Mas acerto-lhe com o rabo no calcanhar e pronto, ele faz aquelas piruetas dele. Segundo amarelo expulsão, bate o livre, golo, um a um. Chego ao balneário, dois a um para eles. Acabo de tomar banho, três a um para eles. Acabou a história. E é nessa altura que bloqueio as mensagens do Instagram porque caíram-me em cima. Porque havia muitos apostadores na altura que tinham apostado no Montpellier e tinham ganhado uma pipa de massa.

Terminamos sempre da mesma forma. Se tivesses a possibilidade de repetir um jogo, qual escolhias?
Pelo pior motivo, porque foi o último que me ficou e eu não gostava de ter saído do Montpellier assim, o tal jogo que entrei com o Toulouse. Pela positiva, o da seleção, porque é um momento único e histórico para mim. Cheguei lá através de um clube que a nível europeu não é grandioso. Ou seja, é mais fácil tu chegares à seleção quando estás num Lyon, no Mónaco, Paris Saint-Germain, Bordéus, por aí fora. Ou seja, chegares à tua seleção por um clube que não é considerado grande para mim é um motivo de orgulho porque lutei, trabalhei e valeu a pena o esforço, a exigência, o sacrifício, essas coisas todas pelas quais eu comecei a conversa.