A BOLA FORA «O meu irmão evitava dar-me porrada nos treinos, reconheço isso»

Entrevista A BOLA FORA: parte II

Este episódio de A Bola Fora é com o Rui Fonte, avançado do Paços de Ferreira. O ponta de lança formou-se no Sporting, mudou-se para o Arsenal, de Inglaterra, e passou por vários clubes, nacionais e estrangeiros, numa carreira ligada ao irmão, José. É em Braga que vive e onde vai continuar a viver. Esta é a sua história, com altos e baixos, como a lesão contraída no Benfica.

A seguir és emprestado ao Crystal Palace, jogas depois com o teu irmão, mais tarde no Lille acontece a mesma coisa. Gostaste dessa experiência? Foi uma coisa que vos agradou?
Acho que foi, o meu pensamento eu acho que é igual ao do meu irmão, a segunda vez foi muito melhor do que a primeira.

 São em fases muito distintas…
Muito distintas, eu ainda era júnior e sou emprestado nesse janeiro até ao final da época e eu acredito que ele pouco desfrutasse do jogo porque estava preocupado comigo. Eu também, com a minha falta de experiência, acabava muito por estar atento ao meu irmão. Aquele nervosismo que tenho hoje em dia sempre de ver os jogos do meu irmão, eu não estava a vivê-lo dentro de campo, então acabou por ser assim uma fase estranha, mas que foi recompensadora porque vivia com ele, fazíamos tudo juntos, íamos para o treino juntos, fazíamos as viagens no autocarro com a equipa tudo juntos, fazíamos tudo juntos e poder desfrutar desse momento com ele foi bom. Agora, no que é a experiência de jogo ou no global, diria que na segunda vez, no Lille, superou todas as expectativas. Vivíamos juntos, tínhamos essa mesma experiência dentro do clube, também fui pai nessa altura, ele pôde desfrutar do Gabriel como tio e vivemos isso tudo em família.

 E o teu irmão dava-te alguma porrada no treino?
Ele evitava muito, reconheço. Acho que um dia, se isso acontecesse, seria difícil para ele jogar contra mim porque ele é como se fosse o meu pai. Era ele que me protegia quando eu tinha problemas na escola e ele olhou sempre para mim como um protetor e eu acredito que fosse realmente difícil para ele jogar contra mim, sabendo que estaria em contacto direto comigo.

 O regresso a Portugal dá-se pela porta de Vitória de Setúbal, foi difícil para ti passar de uma realidade inglesa onde há uma abundância e nada falta para um clube que vivia grandes dificuldades?
Sim, mas naquela inconsciência da juventude eu vim. Lá está, mais uma vez, diria que só me apercebi da experiência que tive 3, 4 anos depois. Eu aprendi, vi o que é que era o futebol, equipava-me ao lado do Bruno Ribeiro, tinha o Sandro como capitão, tinha o Nuno Santos, tinha o Mário Felgueiras que vive aqui perto. Um conjunto de jogadores que pude desfrutar. Também acredito que era bom menino e nunca abusei da minha sorte, mas foi uma experiência recompensadora porque vi o que era o futebol profissional. Acabei a ter nessa época três treinadores. Vi o que é que era o mundo do futebol aqui em Portugal. Foi desafiante, claro, queria ter jogado mais, mas se calhar fez-me bem passar por essa experiência. Esperei pela minha oportunidade, tive-a, fui participando, felizmente conseguimos ficar na I Liga. Uns anos mais tarde vi que tinha sido realmente uma boa experiência porque vi os erros que cometi.

A entrevista a Rui Fonte na íntegra