O dia em que a máquina se tornou humana
Cristiano Ronaldo consolado pelo amigo Diogo Dalot (Imago)

O dia em que a máquina se tornou humana

SELEÇÃO02.07.202420:10

O 'monstro' quebrou, desfez-se em lágrimas, mas teve os amigos de que precisava: a Seleção uniu-se e, desta vez, foi ela a levantar o capitão do chão. Diogo Costa subiu aos céus de onde Ronaldo caíra

MAR PORTUGUÊS, de Fernando Pessoa

“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”

FRANKFURT – Tantas vezes foi o capitão a não deixar a Seleção cair, que um dia teria de ser a Seleção a cuidar dele, a levantá-lo do chão, a dar-lhe colo e força naquela que terá sido uma das maiores descargas emocionais de Cristiano Ronaldo em campo…

Em Frankfurt, a hora foi de inverter papéis, porque a máquina que, durante 20 anos segurou as pontas, a divindade que por duas décadas se tornou na maior figura do futebol mundial, endeusado nos quatro cantos do planeta, subitamente tornou-se humana. Viu Oblak defender um penálti por ele convertido ao minuto 12 do prolongamento, não aguentou mais e chorou. Copiosamente.

As imagens da descarga emocional de CR7 em Frankfurt:

As fortes imagens das lágrimas a descerem pelo seu rosto correram Mundo. Na bancada, a mãe, Dolores, sucumbia à dor de ver o filho sofrer. O País chorava com o comandante. E é aqui que algo de novo surgiu no universo das Quinas: ao invés de se deixarem afetar pela ansiedade, pelo sofrimento de CR7, o seu grande general, os soldados uniram-se e salvaram-no.

A noite não estava a correr bem à estrela maior da constelação lusitana. Já tentara de livre em diversas ocasiões, já procurara pelo ar e, enfim, após três jogos da fase de grupos em branco, tinha nos pés a oportunidade de estrear-se a marcar.

O momento: Oblak trava o penálti de Ronaldo e deixa o português em lágrimas (Imago)

Num momento raro na carreira, porém, CR7 via Oblak voar e travar o disparo dos 11 metros. Inacreditável. Ronaldo deixava o Olimpo dos deuses e caía na Terra com estrondo. Mas ninguém o deixou sozinho. Cancelo correu, de imediato, a dar-lhe força; Bruno Fernandes e Bernardo Silva foram abraçá-lo; Diogo Costa e Gonçalo Ramos deram-lhe garra; os melhores amigos, Pepe e Dalot, gritaram-lhe palavras de incentivo ao ouvido.

Todos sentiram a dor do capitão, mas todos reagiram de forma adulta, à altura das difíceis circunstâncias. Um por todos e todos por um. E nesse facto esteve parte relevante do que se seguiu, desde a defesa soberba de Diogo Costa ao remate de Sesko ao minuto 115 aos seis penáltis do desempate.

O abraço do alívio: «Obrigado, Diogo Costa!»

Nesse último instante do duelo com a Eslovénia, o guarda-redes português subiu ao Céu de onde CR7 caíra e defendeu três grandes penalidades, algo nunca antes visto em Europeus. No outro ponto do desempate, Cristiano, Bruno e Bernardo, os colossos de Portugal, trataram do assunto diante de Oblak, convertendo com sucesso e mestria os respetivos pontapés.

A noite de sonho de Diogo Costa (vídeos e fotos)

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A Seleção conseguia, enfim, a sua redenção. E que bonito foi ver a comunhão final entre jogadores e entre estes e o seu povo que, nas bancadas, nunca os deixou a a caminhar em solidão. Uma grande família.

A grande celebração com o herói da noite: Diogo Costa!