FRANKFURT – Tantas vezes foi o capitão a não deixar a Seleção cair, que um dia teria de ser a Seleção a cuidar dele, a levantá-lo do chão, a dar-lhe colo e força naquela que terá sido uma das maiores descargas emocionais de Cristiano Ronaldo em campo… Em Frankfurt, a hora foi de inverter papéis, porque a máquina que, durante 20 anos segurou as pontas, a divindade que por duas décadas se tornou na maior figura do futebol mundial, endeusado nos quatro cantos do planeta, subitamente tornou-se humana. Viu Oblak defender um penálti por ele convertido ao minuto 12 do prolongamento, não aguentou mais e chorou. Copiosamente. As imagens da descarga emocional de CR7 em Frankfurt: As fortes imagens das lágrimas a descerem pelo seu rosto correram Mundo. Na bancada, a mãe, Dolores, sucumbia à dor de ver o filho sofrer. O País chorava com o comandante. E é aqui que algo de novo surgiu no universo das Quinas: ao invés de se deixarem afetar pela ansiedade, pelo sofrimento de CR7, o seu grande general, os soldados uniram-se e salvaram-no. A noite não estava a correr bem à estrela maior da constelação lusitana. Já tentara de livre em diversas ocasiões, já procurara pelo ar e, enfim, após três jogos da fase de grupos em branco, tinha nos pés a oportunidade de estrear-se a marcar. Num momento raro na carreira, porém, CR7 via Oblak voar e travar o disparo dos 11 metros. Inacreditável. Ronaldo deixava o Olimpo dos deuses e caía na Terra com estrondo. Mas ninguém o deixou sozinho. Cancelo correu, de imediato, a dar-lhe força; Bruno Fernandes e Bernardo Silva foram abraçá-lo; Diogo Costa e Gonçalo Ramos deram-lhe garra; os melhores amigos, Pepe e Dalot, gritaram-lhe palavras de incentivo ao ouvido. Todos sentiram a dor do capitão, mas todos reagiram de forma adulta, à altura das difíceis circunstâncias. Um por todos e todos por um. E nesse facto esteve parte relevante do que se seguiu, desde a defesa soberba de Diogo Costa ao remate de Sesko ao minuto 115 aos seis penáltis do desempate. Nesse último instante do duelo com a Eslovénia, o guarda-redes português subiu ao Céu de onde CR7 caíra e defendeu três grandes penalidades, algo nunca antes visto em Europeus. No outro ponto do desempate, Cristiano, Bruno e Bernardo, os colossos de Portugal, trataram do assunto diante de Oblak, convertendo com sucesso e mestria os respetivos pontapés. A Seleção conseguia, enfim, a sua redenção. E que bonito foi ver a comunhão final entre jogadores e entre estes e o seu povo que, nas bancadas, nunca os deixou a a caminhar em solidão. Uma grande família.