Somos melhores sem Ronaldo?
Estou convencido de que Ronaldo tem o ‘timing’ certo do adeus na sua própria cabeça
A Pátria das chuteiras lusitanas, para lembrar o grande Nelson Rodrigues, acordou com uma sensação boa de ter visto, na véspera, um espetáculo cheio de talento e de golos e, ao mesmo tempo, uma interrogação inquietante à qual não sabia ainda bem responder: «afinal somos melhores com ou sem Cristiano Ronaldo»?
Como muitas vezes acontece nesta vida, a pergunta é fácil, até porque um bocadinho óbvia, mas a resposta é difícil. Há sempre a hipótese de empurrarmos a questão com a barriga para a frente e dizer: depende! Depende de quê? Depende de Cristiano Ronaldo, ou seja, de que Cristiano Ronaldo estamos a falar. Do Cristiano mítico, avassalador, comilão de recordes e de títulos, ou do Cristiano Ronaldo com os papéis metidos para a reforma e que se obriga contratualmente a dizer que a Arábia Saudita é o paraíso na terra, incluindo o seu futebol, onde ele próprio se estacionou num trânsito absurdo de ídolos caídos na tentação da cor do dinheiro?
Se pensarmos apenas nas últimas impressões, temos um Cristiano algo disparatado, confuso, perdido no jogo e das balizas de Bratislava. E se pensarmos no passeio épico da Seleção Nacional no Algarve, onde uma equipa dinâmica, esfomeada de golos, exibindo talento a rodos, apesar de Cristiano Ronaldo ausente, então a conclusão é evidente: somos melhores sem Ronaldo.
O futebol, porém, é uma equação a muitas incógnitas e o resultado é, muitas vezes, imprevisível. Certo é o que disse o espanhol que melhor fala português, Roberto Martinez: «Estamos preparados para ganhar sem Cristiano Ronaldo.» E essa é uma verdade reconfortante, atendendo a que não podemos esperar um Ronaldo eterno e insubstituível. Portanto, a pergunta certa, à qual só o selecionador saberá responder, é: «quando será o momento certo para a normalidade desta Seleção ser a ausência de Ronaldo e não a sua presença?»
É previsível que Ronaldo não queira experimentar a angústia de um jogador no banco e por isso é de admitir que Ronaldo tenha, ele próprio, na cabeça, o timing do adeus. Talvez tivesse já partilhado esse pensamento com o selecionador ou com os altos quadros da Federação Portuguesa de Futebol. Podemos apostar que esse timing não acontecerá antes do Europeu-2024. Mas logo a seguir, sim.