Sofrimento e igualdade
Festa das jogadoras portuguesas após a vitória (2-1) na Chéquia que garantiu o apuramento para o Euro-2025 (Foto: IMAGO)

Sofrimento e igualdade

OPINIÃO05.12.202409:16

Joga Bonito é o espaço de opinião quinzenal de Raquel Sampaio, Agente FIFA

Foi sofrido, mas não havia volta, o desfecho tinha de ser este! Portugal está no Europeu feminino, que no próximo ano de 2025 irá disputar-se na Suíça. Será o terceiro consecutivo para a nossa Seleção. É fundamental ganhar essa rotina de também no feminino marcarmos presença nas grandes competições internacionais, que elevam o nome do nosso País nesta modalidade. Estão todas de parabéns!

Isto numa semana em que muito se falou de futebol feminino. Mas fora das quatro linhas. No âmbito da discussão e aprovação do Orçamento de Estado para 2025, o Bloco de Esquerda apresentou proposta que deu que falar: remunerações idênticas para homens e mulheres nas seleções nacionais. «É intolerável que para fazer exatamente o mesmo, para representar o mesmo País, no mesmo desporto, na mesma competição, os homens sejam muito melhor remunerados do que as mulheres», disse Joana Mortágua. E eu concordo.

Esse terá de ser, no futuro, o caminho. Mas sou realista. Recorde-se que em Portugal é estimado que os homens, em média, recebam remunerações 17% acima das que auferem as mulheres, segundo dados conhecidos em 2022. E os salários dos futebolistas que representam a Seleção Nacional masculina estão a um nível a que muito dificilmente alguma vez as jogadoras da Seleção feminina atingirão. Mesmo que por cá fosse aplicada a regra que já se aplicou em outras latitudes, como no País de Gales, Dinamarca ou Austrália, onde os homens aceitaram receber menos (alguns casos 25% menos) que recebiam permitindo a equivalência com as mulheres sempre que representam as suas seleções.

Outras mentalidades, outras realidades e outras prioridades. Por cá muito ainda temos de lutar, até por outros objetivos mais tangíveis. Como a autonomia, a profissionalização dos clubes e da Liga de futebol feminino, por forma a que deixe de viver na sombra das receitas do masculino.

«(…) Esse crescimento do futebol feminino e modelo organizativo tem de estar na discussão nos anos vindouros. As senhoras/meninas assim o exigem e cabe a nós dirigentes definir quando isso irá acontecer», disse Pedro Proença há dias. E eu concordo!

Quando isso acontecer, talvez deixemos de sofrer tanto como sofremos em jogos como os dois últimos contra a Chéquia, seleção muito inferior à nossa, e possamos ambicionar outros patamares nas grandes competições internacionais. Porque acredito que, um dia, a nossa Seleção ganhará uma grande competição, assim como iremos celebrar a conquista de uma Bola de Ouro.