Em Yokohama o FC Porto tocou no topo do Mundo (e pela segunda vez!)
Comemora-se esta quinta-feira os 20 anos da conquista da segunda Taça Intercontinental pelo FC Porto (FOTO: A BOLA)

ESPECIAL TAÇA INTERCONTINENTAL Em Yokohama o FC Porto tocou no topo do Mundo (e pela segunda vez!)

Faz hoje 20 anos que os azuis e brancos tornaram-se bicampeões mundiais! No dia 12 de dezembro de 2004, os dragões conquistaram, no Japão, a sua segunda Taça Intercontinental; todas as histórias de uma final dramática decidida nos penáltis, numa época atribulada no clube; o susto de Vítor Baía, a expulsão de Diego numa discussão com Henao, e a explosão de alegria no relvado depois de Pedro Emanuel ter convertido a grande penalidade que deu o triunfo por 8-7 aos dragões

Celebra-se esta quinta-feira um marco inesquecível na história do FC Porto. Há 20 anos, no dia 12 de dezembro de 2004, os dragões conquistaram em Yokohama, Japão, a sua segunda Taça Intercontinental, numa manhã de domingo que ficará para sempre gravada na memória dos adeptos portistas, pelo menos dos que tiveram a felicidade de ver o jogo – para as gerações seguintes foi uma história contada sobre a grandeza do único clube português a ter esse troféu e logo em duplicado.

Num jogo intenso, repleto de emoções e peripécias, a equipa de Víctor Fernández bateu o Once Caldas por 8-7 nas grandes penalidades, após 120 minutos sem golos. A superioridade dos azuis e brancos foi evidente: três remates aos ferros da baliza adversária, dois golos anulados a Benni McCarthy e, já no prolongamento, uma substituição inesperada. Vítor Baía, símbolo de liderança e segurança na baliza, teve de ser rendido por Nuno Espírito Santo após sentir um peso no peito – a explicação surgiria posteriormente. Exames revelaram que tudo se deveu a uma quebra de tensão e sintomas de taquicardia, sem gravidade. Naquele momento o susto foi grande, avivando memórias ainda recentes da perda de Fehér, em janeiro desse ano, num V. Guimarães-Benfica disputado no Estádio D. Afonso Henriques.

O onze que alinhou na partida contra o Once Caldas (FOTO: A BOLA)

A decisão ficou para as grandes penalidades. No 4.º penálti, Maniche falhou, ao rematar à barra, mas os colombianos Fabbro e Edwin García também não conseguiram converter, sendo que nessa série o portista Diego fez o 1-1 e… foi expulso por provocações ao guardião Henao. E foi então que Pedro Emanuel, com um olhar de concentração implacável, assumiu a responsabilidade de selar a vitória. O seu remate certeiro deu ao FC Porto um dos momentos mais icónicos da sua história.

A reportagem dos enviados-especiais de A BOLA a Yokohama

Esta conquista foi o culminar de uma época de transição e desafios. Após as conquistas da Taça UEFA em 2003 e da Liga dos Campeões em 2004, o FC Porto enfrentava mudanças profundas. José Mourinho partiu para o Chelsea, levando consigo Paulo Ferreira e Ricardo Carvalho, e Victor Fernández assumiu o comando após uma passagem breve e polémica de Luigi del Neri.

Vítor Baía saiu de maca aos 103 minutos e convocou imensas preocupações. Tudo não passou de um susto (FOTO: A BOLA)

Os dragões abriram a época a ganhar a Supertaça, com vitória sobre o Benfica por 1-0, golo apontado por Quaresma. Sete dias depois, a 20 de agosto de 2004, perderam a Supertaça europeia para o Valência, por 1-2, numa final disputada no Estádio Louis II, no Mónaco. O percurso na Taça de Portugal acabou cedo, na 4.ª eliminatória, com desaire por 2-1 com o Vitória de Guimarães, bis de Nuno Assis.

Victor Fernández, treinador do FC Porto, fala com o grupo antes da marcação das grandes penalidades (FOTO: A BOLA)

Na Liga, com a viagem ao Japão a aproximar-se, os azuis e brancos perderam em casa com o Beira-Mar (0-1), na 13.ª jornada, permitindo a aproximação do Benfica – que no final se sagraria campeão nacional com Giovanni Trapattoni no comando. Apesar das dificuldades, a equipa mostrou a sua fibra, garantindo uma vitória épica por 2-1 frente ao Chelsea de Mourinho na fase de grupos Liga dos Campeões, apenas seis dias antes da final da Taça Intercontinental.

Jorge Costa, eterno capitão, teve novamente a honra de erguer o troféu, repetindo o gesto que já havia feito com a Liga dos Campeões e a Taça UEFA. Esta Taça Intercontinental foi a última da história da competição, mas ficará para sempre como um símbolo do espírito vencedor do FC Porto. Apesar de ter desperdiçado uma grande penalidade, Maniche foi eleito o melhor jogador da final, um reconhecimento do seu talento e dedicação. Ganhou um carro, doado para caridade, e uma chave gigante que entregou ao Museu do FC Porto.

Numa época de altos e baixos, a SAD portista oficializaria a saída de Víctor Fernández do comando técnico do FC Porto pouco tempo depois, a 1 de fevereiro de 2005, por não estarem reunidas as «condições mínimas» para a continuidade do técnico espanhol, fortemente contestado pelos adeptos. Uma derrota caseira com o SC Braga precipitou a mudança técnica, com a entrada de José Couceiro, que vinha fazendo um trabalho excelente no Vitória de Setúbal. No final, o que ficou dessa época foi mesmo a conquista da Intercontinental e da Supertaça.

Maniche foi eleito o homem do jogo na final da Intercontinental. A chave gigante do carro que ganhou foi doada ao Museu do FC Porto

Foi a 43.ª e última edição da Taça Intercontinental nestes moldes, ou seja, disputada entre o vencedor da Champions e da Taça Libertadores. Em setembro passado, a FIFA reconheceu o FC Porto como bicampeão mundial, depois de numa primeira fase os dois títulos dos dragões terem sido eliminados por aquele organismo. Em 2005 a Taça Intercontinental seria oficialmente substituída pelo Campeonato do Mundo de Clubes, ainda que em 2000 a FIFA tenha organizado uma primeira edição no Brasil, ganha pelo Corinthians.

Quaresma, Ricardo Costa e Seitaridis comemoram o bicampeonato mundial de clubes (FOTO: A BOLA)

A prova não teve continuidade por razões relacionadas com patrocínios e compromissos comercias da UEFA e CONMEBOL para a realização da Taça Intercontinental até 2003 – acabaria por se prolongar e ter o seu epílogo em 2004.  O Campeonato do Mundo de Clubes foi relançado em 2005, reunindo os campeões continentais de UEFA (Europa), CONCACAF (América do Norte, Central e Caribe), CONMEBOL (América do Sul), AFC (Ásia), CAF (África) e OFC (Oceânia).

A ficha do jogo

Estádio Internacional de Yokohama (Japão)

12/12/2004

45.748 espetadores

Árbitro: Jorge Larrionda (Uruguai)
Auxiliares: Amelio Andino (Paraguai) e Winston Reategui (Peru)

FC PORTO: Vítor Baía (Nuno Espírito Santos, 103); Seitaridis, Jorge Costa, Pedro Emanuel e Ricardo Costa; Costinha, Maniche e Diego; Derlei (Carlos Alberto, 69), Benni McCarthy e Luís Fabiano (Ricardo Quaresma, 78)
Técnico: Víctor Fernández

Não utilizados: Bosingwa (17), Pepe (7), César Peixoto (12) e Hélder Postiga (41)

ONCE CALDAS: Juan Carlos Henao; Miguel Rojas, Samuel Vanegas, Roller Cambindo (Cataño, intervalo) e John Garcia; John Viafara, Velásquez, Diego Arango (Díaz, 61), Jonathan Fabbro e Elkin Soto (Herly Alcazar, 96); Antonio De Nigris
Técnico: Luis Fernando Montoya

Não utilizados: Aldana (25), Jiménez (8), Javier Araujo (21) e Dayro Moreno (17)

Cartões amarelos: Diego (40), Jorge Costa (78), Seitaridis (84); a Arango (32), Fabbro (59), De Nigris (116); Cartão vermelho a Diego (120)

Grandes penalidades: 0-1, Vanegas; 1-1, Diego, 1-2; Alcazar; 2-2, Carlos Aberto; 2-3, Viafara; 3-3, Quaresma; 3-4, De Negris; 4-4, McCarthy; 4-5,Velásquez; 5-5, Costinha; 5-6, Díaz; 6-6, Jorge Costa; 6-7, Cataño; 7-7, Ricardo Costa; 8-7, Pedro Emanuel. Falharam no FC Porto Maniche e no Once Caldas Fabbro e Edwin García