OPINIÃO João Pereira, 'carne para canhão...'
Aconselho João Pereira a dar três gritos, quatro piruetas, cinco murros na mesa, até que insulte quem o insulta... E que não admita que tenham pena dele.... Eu sou o Jorge Pessoa e Silva e esta é a crónica semanal do meu do Livro do Desassossego.
Se em vez de convidar João Pereira para treinar o Sporting, Frederico Varandas tivesse chamado o capitão Hjulmand para lhe dizer «a partir de agora, vocês estão em autogestão, escolham o onze e organizem-se nos treinos» duvido que o Sporting tivesse perdido quatro jogos seguidos. Quer isto dizer que João Pereira é mau treinador?
Nada disso, pode até ser um excelente treinador. Os maiores problemas de João Pereira não são a competência técnica, a capacidade de liderança ou os atributos de comunicação (não consigo ainda avaliar os dois primeiros; de facto não é famoso na comunicação). O grande problema de João Pereira é não ser… Ruben Amorim.
O fenómeno está mais do que estudado. No desporto como na política ou nas empresas. Substituir um líder fortíssimo, omnipresente, carismático, competente, amado e vencedor é uma tarefa tão difícil que, por norma, passa primeiro por uma fase de turbulência. De ressaca. Até de luto. É por isso que eu sempre entendi que a missão de João Pereira no Sporting é muito mais difícil que a de Ruben Amorim no Manchester United…
Sejamos sinceros: a escolha de João Pereira faz sentido. Mas não tem de resultar. Seguramente foi bem intencionada. Talvez um pouco ingénua — e é sobre isso que Frederico Varandas deve refletir — se resultar da crença de que, tal como jogadores, o Sporting também pode formar treinadores em Alcochete. Basta lembrar que a maioria dos jogadores da formação não chegam à equipa principal…
Se nada mudar drasticamente, e muito rápido, João Pereira tem os dias contados. Mesmo não sendo essa a intenção, recebeu um presente envenenado pelas circunstâncias. Por respeito pessoal e profissional que lhe devo, atrevo-me a dar-lhe um conselho: se é para cair, caia com as suas ideias e convicções. Grite, estrebuche, dê três murros na mesa, quatro piruetas, engrosse a voz, mande o Amorim… às malvas, refile, insulte alguém se tiver de insultar. O resultado pode até ser o mesmo, mas pelo menos cai com estilo e com afirmação de personalidade, nunca porque não conseguiu ser igual a Amorim. Nunca permita que tenham pena de si.
Neste momento, repito, neste momento, a queda de João Pereira é o cenário com maior probabilidade. Quem vier terá a vida facilitada. João Pereira, mesmo não sendo esse o plano de ninguém, teria sido apenas carne para canhão.
Já agora, uma mensagem aos jogadores: vocês, melhor do que eu, já perceberam se João Pereira é ou não bom treinador. Mas mesmo que fosse mesmo mau, bem que o podiam ajudar… Se continuar a correr tão mal, não é bonito, muito menos de Homem, deixarem-no a arder sozinho na fogueira.
A lição da nota de 50 euros
O professor entra na sala de aula. Tira uma nota de 50 euros da carteira, tão impecável quanto na hora de saída da máquina de impressão, e questiona os alunos: «Se alguém quiser esta nota, levante o braço.» Todos ergueram o braço.
Depois, o professor amarrotou a nota e fechou a mão, transformando a nota numa espécie de bola de papel. E voltou a questionar os alunos: «Se alguém quiser esta nota, levante o braço.» Todos ergueram o braço.
O professor pegou na nota, lançou-a ao chão e pisou-a, deixando nela a sujidade que transportava na sola dos sapatos. E ainda mais amarrotada. E interpelou os alunos pela terceira vez: «Se alguém quiser esta nota, levante o braço.» Todos ergueram o braço.
«Vocês ergueram o braço porque sabem que, estando a nota lisa como nova, estando amarrotada ou estando suja, continua a valer 50 euros… O mesmo se passa com as pessoas. Não importa se a vida lhes corre bem, se já foram amachucadas pela vida ou pelas outras pessoas ou quantas vezes já foram pisadas. Valem sempre o mesmo. Olhem as pessoas pelo valor facial, não pelos tombos que já deram na vida», sentenciou o professor.
Lembrei-me desta história ao ver uma pessoa de quem gosto muito, há dias, em pranto. Teve uma quebra emocional. A vida já testou a sua resistência, em mais do que uma ocasião, com provações que não se desejam a ninguém. A sério! E ele continua de pé. Forte. Mas às vezes tem quebras. E os amigos estão cá para um abraço. Ele é um herói. Não interessa quantas vezes a vida foi cruel com ele, não interessa quantas vezes tem quebras emocionais. Só me interessa que ele vale sempre o mesmo. O que, neste caso, é o máximo. Um abraço, amigo, tu sabes que estou a falar de ti...