Benfica preso em colete de forças e amarrado à falta de um goleador

Encarnados deixaram-se manietar pelo Bolonha na primeira parte e pagaram a ausência de 'killer instinct' na segunda; fica agora pressionado a pontuar com o Barcelona (casa) ou com a Juventus para ir ao 'play-off'; Pavlidis rima com 'poucochinho' e Arthur Cabral nem lá chega

Depois da reviravolta épica no Mónaco, na jornada anterior, o Benfica estava proibido de fazer uma primeira parte como a que rubricou, ontem, na Luz, perante o Bolonha, oitavo classificado da Serie A, que veio a Lisboa com apenas um ponto amealhado nas cinco jornadas anteriores deste novo formato da Champions, praticamente à beira da eliminação, à qual conseguiu matematicamente escapar, ainda que continue a parecer desfecho inevitável com o resultado que levou para Itália.

A equipa de Bruno Lage até entrou bem no jogo, é verdade, teve logo um golo anulado a Pavlidis aos três minutos, mas o que depois se seguiu até ao intervalo não deixava antever um final feliz para as águias — afinal, a felicidade procura-se...

Os encarnados deixaram-se enlear no bloco alto dos italianos, não tiveram capacidade para ludibriar a primeira fase da pressão altíssima do adversário durante uns bons trinta minutos, e não deram mostras de conseguir agarrar no jogo e de o controlar, deixando boa parte das despesas entregues aos italianos, que enquanto tiveram fôlego para correr desenfreadamente com e sem bola foram levando a água ao seu moinho e enervando as bancadas da Luz.

DE A TODO O GÁS A... MEIO GÁS

Valeu ao Benfica que o combustível do Bolonha começou a faltar pouco antes do final dos primeiros 45 minutos e, após o descanso, o desgaste já não permitiu aos homens de Vincenzo Italiano perturbarem a primeira fase de contrução dos encarnados, pelo que o bloco alto passou a um bloco médio, que o Benfica, com o passar dos minutos, foi conseguindo empurrar mais para trás.

Teve mais bola, passou mais tempo no meio campo do Bolonha, criou mais chances que no primeiro tempo, mas, além de ter enfrentado a competência do polaco Skorupski entre os postes, teve também de lidar com a pouca assertividade de Vangelis Pavlidis lá na frente, pagando a fatura de não ter um goleador consistente (são agora três jogos em branco, mas já teve série de seis e cinco jogos sem marcar esta temporada). Mas também de no banco não ter quem consiga sentar o grego de 26 anos, porque já há muito se percebeu que Arthur Cabral não vai passar do atual registo — porque se desse nos treinos sinal de o poder fazer já teria encostado Pavlidis em mais jogos.

Quem não tem cão caça com gato, como diz o adágio popular, mas ontem não foi noite nem de Di María (ainda assim o melhor dos encarnados e a ver grande golo negado por Skorupski aos 43'), nem para Akturkoglu lançar um ou outro feitiço, e assim se explica o 0-0 final. Que soube a pouco, é certo, mas acaba por espelhar o que o Benfica não fez, sobretudo na primeira parte, em que ficou preso a um colete de forças, mas igualmente na segunda, em que ficou amarrado à falta de ume goleador e, também, de um killer instinct coletivo, que impediu que colocasse já pé e meio no play-off.

MELHOR SÉRIE SEM SOFRER

Positivo, apenas, o facto de este ter sido o terceiro jogo consecutivo dos encarnados sem sofrer golos, na melhor série desta temporada neste capítulo — mas também ficou sem marcar, algo que, na Luz, já não se via há um ano e quase dois meses, desde a derrota (0-1) com a Real Sociedad na época passada, para a Liga dos Campeões, a 24 de outubro de 2023.

Moral da história: ao invés de dar passo largo para fazer 12 pontos com o jogo de ontem e com isso colocar pé e meio no play-off, a equipa de Bruno Lage ficou-se pelos dez pontos e pôs-se a jeito... Está, agora, pressionada a pontuar ou diante do Barcelona, na Luz, na próxima jornada, ou em Turim, perante a Juventus, na última, o que, à partida, parece bem mais difícil do que vencer o Bolonha na Luz — refira-se, aliás, que os encarnados não conseguiram fazer valer o factor casa na Liga dos Campeões, só conseguindo vencer o Atlético Madrid nos três jogos já riscados do calendário.

O empate de ontem — o primeiro desta era-Bruno Lage, versão 2.0, fez as águias caírem para a 15.ª posição, mas, por entre as equipas com dez pontos (Mónaco, Sporting, Feyenoord e Club Brugge), é a que vai à frente, graças à melhor diferença de golos, critério de desempate que também pode assumir grande relevância nas contas finais.

BOAS PROBABILIDADES, MAS...

Apesar de enfrentar ossos duros de roer na derradeira reta desta primeira fase da Champions, o Benfica, no capítulo das probabilidades, e à semelhança do Sporting, tem os números a seu favor para terminar por entre os primeiros 24 classificados.

A página especializada Football meets Data calculou, terminada a jornada de ontem, que as equipas com 10 pontos têm nesta altura 79 por cento de probabilidades de se classificarem no top-24 — com 12 pontos teriam 99,99 por cento... Nas 10 mil simulações feitas, o modelo utilizado projetou o apuramento do Benfica (e também do Sporting) e deixou o PSG eliminado, na 25.ª posição — os franceses têm sete pontos, podem chegar aos 13 e defrontam Manchester City na próxima jornada, em Paris, e o Estugarda, na Alemanha, na última ronda.

Ou seja, probabilidades à parte, o cenário que o Benfica enfrenta está longe de ser cor-de-rosa e, na verdade, tudo pode ainda acontecer. Mas agora o tempo é de fazer contas... internas. A Liga segue dentro de momentos e só em janeiro do próximo ano é que será tempo de voltar a fazer contas aos pontos e, também, aos milhões amealhados.