Será que vai mesmo haver Mundial de Clubes?
Da falta de contrato televisivo às queixas dos jogadores e processo da FIFPro pelo excesso de jogos e agora às recusas das ligas nacionais em adiarem o arranque, sobrará algo para a FIFA salvar?
A FIFA bem vai tentando que o Mundial de Clubes não morra de causas naturais antes mesmo de nascer, mas a competição que idealizou para juntar os maiores clubes do mundo, por alturas do arranque falhado da Superliga, parece ferida com gravidade.
O maior problema foi vivido com a venda dos direitos de televisão — a FIFA contava com um contrato milionário que ninguém esteve disposto a dar; daí, os prémios fantásticos com que acenara aos clubes para convencê-los a entrarem em mais uma prova de um mês de duração (chegou a falar-se em 50 milhões de euros só de prémio de participação) tornaram-se uma miragem e ninguém sabe bem quanto vai receber por ir aos EUA.
Mas o problema maior está mesmo nos calendários. E a questão já não está só no excesso de jogos com que os jogadores vão sendo sobrecarregados e que levou a FIFPro, união internacional de sindicatos de jogadores, a interpor uma ação legal contra a FIFA no passado mês de junho.
Agora, os próprios responsáveis dos clubes começam a fazer contas à vida e a perceber como será quase impossível fazer a transição duma época para a outra. O Mundial de Clubes deverá realizar-se entre 15 de junho e 13 de julho. Depois disso, os jogadores terão de gozar no mínimo três semanas de férias — quem for à final não voltaria ao trabalho antes de 4 de agosto. Os principais campeonatos europeus devem começar a 9 ou 16 desse mês, para não falar das supertaças que costumam realizar-se uma semana antes. Pior: para quem corra o risco de ter de jogar pré-eliminatórias das provas europeias (como Benfica ou FC Porto), o primeiro jogo oficial pode calhar ali por 5 ou 6 de agosto.
E as datas nem são estranhas, aproximam-se das que são usadas para Europeus ou Mundiais de seleções. Mas aí, nenhum clube fica com todos os seus jogadores presos até final da competição. Há uma série deles que não vão, e as equipas podem começar a trabalhar nas datas normais. Depois, os outros vão chegando a conta-gotas. Com o Mundial de Clubes, salvo se as equipas levarem apenas metade dos plantéis (e a FIFA já avisou que não o aceita), como seria possível fazer isso?...
A preocupação é de tal ordem que Pep Guardiola, treinador do Manchester City, confirmou que o clube pediu à Premier League para que as suas duas primeiras jornadas da próxima época fossem adiadas. A resposta? Nem pensar, não foi a liga inglesa que criou o problema.
A FIFA, volto a dizer, está a tentar tudo para que o Mundial de Clubes não morra à nascença, mas acho cada vez mais difícil...