Roda o palco
NUM concurso de final de tarde nos anos 80, apresentado por Vítor Espadinha, ficou famosa a frase «roda o palco» para se apresentarem os artistas que iam atuar. Se transpusermos a ideia para o futebol nacional, no Sporting o palco tem rodado imenso e cada vez que dá uma volta vão caindo uns quantos intervenientes. Uns já desceram do palco e voltaram a subir, outros desapareceram mas o público mantém-se sempre fiel, entre vaias e aplausos aos artistas.
Leonel Pontes está de volta ao palco e entrou com a tarefa de dirigir a orquestra principal, que, no último ano, tem mudado de maestro a cada apupo dos espectadores. O madeirense, 47 anos, não tem prazo de validade no comando, mas Varandas já lhe colocou sebo na batuta quando disse que o principal era cumprir uma tarefa, mas não especificando qual. Pontes é um maestro que sabe tudo sobre música mas não tem carisma por aí além. Não é preciso cursar Harvard para ter essa consciência. Nos dias de hoje, vive-se muito mais no parecer do que no ser. Ou seja, a essência e os princípios até podem ser bons mas se o resultado no imediato não é o melhor, muda-se. Para quê, às vezes, não se sabe bem, porque o importante é fazer um refresh na imagem, mesmo que o sistema operativo esteja cheio de bugs. Leonel Pontes sabe ao que vai mas o risco também não é por aí além porque o campo da responsabilidade foi restringido ao retorno à formação e essa o treinador conhece por dentro e por fora, do direito e do avesso. Mas esta restrição tem sempre como fator de exponenciação a grandeza do clube e a sistemática exigência da incomparável massa adepta, que ainda por cima está dividida.
E, como sempre, a Pontes vão pedir música de câmara. Vamos ver é se não contrataram flautistas e querem que eles toquem violino. Se assim for, a melodia será má. E o palco vai rodar outra vez. E outra. E mais uma. Até que um dia o motor gripe.