Penoso mês de agosto
Fecho do mercado devia coincidir com o arranque dos campeonatos. Só a FIFA pode criar uma ordem global e impedir aberrações de calendário
TODOS os anos sucede o mesmo: os campeonatos na Europa começam ainda com o mercado aberto e uma tensão latente em muitos plantéis, para não dizer na esmagadora maioria porque poucos (os muito ricos) correm o risco de perder jogadores - e mesmo assim, graças ao recente fenómeno consumidor da Arábia Saudita, nem os grandes da Premier League escapam ao medo de verem sair as suas grandes referências; basta imaginar como vai a cabeça de Jurgen Klopp sobre a possibilidade de perder Mohamed Salah.
Todos os treinadores se queixam do mesmo, e com razão: a precariedade que marca as jornadas iniciais de qualquer campeonato por via das movimentações do mercado de transferências pura e simplesmente não tem justificação, ainda para mais havendo a janela de inverno para os devidos acertos a meio da temporada. Pegando no caso português, é legítimo perguntar: o que se fará até 31 de agosto/1 de setembro não podia ter sido feito até 11 de agosto, data do arranque da Liga? Quanto milhões valem, afinal, 20 dias?
Este não é um problema de solução nacional e só a FIFA tem esse poder nas mãos. Tal como criou o Transfer Matching System (é por esta plataforma que têm de passar todas as transferências no futebol mundial), o organismo atualmente liderado por Gianni Infantino também deveria impor o início de cada campeonato como deadline para o encerramento do respetivo mercado nacional - ou pelo memos o período de inscrições. A erupção da Arábia Saudita como importador de talentos a preços faraónicos vai criar uma aberração de calendário que já existiu noutras eras (com a Rússia, China e Turquia), embora com maior dimensão: quando o mercado na Europa estiver fechado, os sauditas ainda terão 20 dias para rapar o tacho, contratando quem quiserem sem que os vendedores tenham capacidade de reposição.
Não há período da época desportiva onde o pior da indústria do futebol vem ao de cima: quando a bola já rola e muitos jogadores estão com um olho no colega e outro no telemóvel à espera da mensagem certa do empresário. A bem da seriedade, da gestão das expectativas e até de uma certa verdade desportiva (quantos campeonatos se perdem nas primeiras quatro jornadas pela instabilidade criada por terceiros?) impunha-se uma ordem global que separasse o trigo do joio. Há um tempo para tudo, um para os negócios e outro para a competição. Misturá-los cria sempre a falsa ideia de que as primeiras jornadas são a continuação da silly season. Pode ser bom para alguns - empresários e outros facilitadores - mas não é seguramente para o futebol.
PS: Que João Félix encontre uma solução. É penoso vê-lo arrastar-se neste longo mês de agosto.