EDITORIAL Os investimentos no futebol
A Lei de Murphy está a ser aplicada como uma maldição nos clubes de John Textor
O investimento no futebol está longe de ser o mesmo que comprar certificados de aforro, comporta riscos, tem inúmeras variáveis e exige um know-how demasiadas vezes desvalorizado por aquela ideia peregrina de que todos sabem de futebol, por já verem jogos há muitos anos. Porém, como dizia há uns tempos o magriço António Simões, «eu também olho para as estrelas desde pequenino e não percebo nada de astronomia».
Aliás, sobre competências específicas há uma história passada com o cirurgião Eduardo Barroso, sportinguista dos sete costados, e um dos grandes nomes dos transplantes a nível mundial, que estando uma vez, como testemunha, em Tribunal, e ouvindo a juíza dizer que «de medicina percebemos todos um pouco», retorquiu de imediato: «peço desculpa meritíssima, mas um pouco de medicina percebo eu. A senhora juíza não percebe nada!»
Sobre investimentos na indústria do futebol, tome-se o caso do milionário norte-americano John Textor, que esteve em negociações avançadas com o Benfica para adquirir uma parte da SAD encarnada, ainda no tempo de Luís Filipe Vieira, e que é neste momento dono, digamos assim, do Crystal Palace, do Lyon e do Botafogo. O clube da Premier League mantém uma estabilidade rentável, a meio da tabela; porém, no Brasil, quando parecia que o Botafogo ia vencer o campeonato, eis que depois da saída (voluntária) de Luís Castro, o Fogão entrou em pânico, não deu estabilidade a Bruno Lage, mexeu na equipa, e transformou um sonho em pesadelo; e em França, o Lyon, que há uma década era potência do futebol europeu, segue na última posição, a seis pontos da linha de água. Ou seja, um investimento, no Brasil e em França, de mais de mil milhões de euros efetuado por Textor, que parecia ter tudo para dar certo, caminha pelas ruas da amargura. Sendo que John Textor parece ser um investidor sério, e nem isso garante sucesso, os clubes precisam de ser cada vez mais prudentes na alienação de capital, num mercado cheio de quem quer apenas lavar dinheiro ou explorar recursos e desaparecer enquanto é tempo.
Inevitavelmente, os três grandes de Portugal chegarão à fase em que vão ter de se aliar a investidores. Mas não podem perder o controlo global, muito menos devem abdicar de exercer aquela competência específica que não é detida por quem pensa que, por olhar desde pequeno para as estrelas, percebe de astronomia…