Os donos da bola e outros azares que tais

OPINIÃO16.03.202205:55

Não creio que nas classificações finais dos campeonatos sejam decisivas as ações dos árbitros. Mas estes podiam melhorar muito

ULTIMAMENTE, e como é costume quando se aproxima o final de qualquer campeonato, discute-se a arbitragem com paixão. Todos - mesmo os que, como eu, tentam fugir à ideia de que é a arbitragem a decidir - caem nesta armadilha. E chamo-lhe armadilha porque, como para a maioria das atividades que envolvem análise, decisão e juízo humanos, qualquer ação está sujeita à subjetividade. Ora, como se sabe, em debates onde, em vez de regras reina a subjetividade, raramente ou nunca se consegue uma conclusão, e menos um consenso.

Vou tomar como exemplo a arbitragem na última segunda à noite no jogo Moreirense-Sporting. Faço-o porque existiram erros, alguns graves, mas que como todos analistas concordam, não tiveram qualquer influência no resultado. 

A mais clamorosa das falhas foi o juiz da partida não ter mostrado um cartão amarelo a Pablo, jogador da equipa do Minho, quando este, sem qualquer intuito de jogar a bola, apenas pretendeu rasteirar Marcus Edwards, que ficaria com um corredor aberto, sem oposição e com mais dois colegas de equipa, cada qual a ser coberto por um defesa adversário. Ou seja, o Sporting ficaria numa clara situação de três para dois.

Acontece que Pablo já tinha o cartão amarelo, pelo que a advertência recomendada nas regras levaria à expulsão do defesa do Moreirense, ficando esta equipa a jogar com 10.

Na altura (64 minutos) o Sporting já vencia por 2-0 e tinha o jogo razoavelmente controlado para se sentir que iria sair (como saiu) de Moreira de Cónegos com uma vitória. Mas imaginemos que o resultado, por algum motivo, estava em 0-0. Todos estaríamos a falar de um roubo de João Pinheiro. Ora, acontece que, do meu ponto de vista, tão roubo foi desta maneira, como se o Sporting estivesse empatado ou a perder; as regras são para cumprir e ponto final. 

Posso imaginar uma situação ao contrário, quando Luís Neto fez uma obstrução clara  a Derik. Aqui o central do Sporting deveria ter visto um amarelo, como assinalaram Duarte Gomes (neste jornal) e todos os outros comentadores de arbitragem. O lance, sendo aos 75 minutos e relativamente longe da área, não influenciou o resultado… Mas, ainda assim, um livre poderia encaminhar a partida para outro desfecho.


TOMAR MEDIDAS 

E M vez do espetáculo pouco digno que consiste em insultar árbitros, será necessário tomar medidas sérias e regulamentos criteriosos. Por exemplo, um árbitro como João Pinheiro - que Duarte Gomes até já considerou o melhor da atualidade - tinha feito, há cerca de um mês, uma péssima figura no Dragão, no jogo de má memória entre o FC Porto e o Sporting. Que lições se retiraram desse jogo, onde acabou tudo à batatada? Que medidas foram tomadas para que arruaças daquelas não voltem a acontecer? Que foi dito pelos responsáveis do futebol e da arbitragem a João Pinheiro? Ninguém sabe ao certo!

Outro exemplo: um jogador atira-se para o chão, engana o árbitro que marca uma falta. Isso vê-se na televisão, com repetições em câmara lenta, mas nem sempre é detetável em campo pelo juiz da partida. Que acontece ao jogador que simula a falta levando o árbitro ao engano (ainda no mesmo Moreirense-Sporting houve um caso desses, com o jogador Ibrahima)? Pior: que acontece àqueles jogadores que simulam terem sido atingidos na cara com a mão ou o cotovelo adversário, quando nada disso aconteceu, ou pelo menos não foi na cara? Não deveria existir, claramente, uma pena de suspensão dura para esses jogadores. Vejamos, o fair play que tanto se apregoa não se fica pelo que se passa em campo. Aliás, como se sabe, cenas nos corredores de acesso ao campo já têm sido castigadas. Pois bem, enganar o árbitro (que é pior do que algumas palavras inaceitáveis, mas que no calor da refrega podem soltar-se) deve ser intolerável. Mas, pelo que se vê, não é.

Não serei eu a ter competência para propor um manual de novas regras, sanções e penalizações para árbitros e jogadores (além de técnicos, ajudantes e demais pessoal que se senta nos bancos). Mas que esses regulamentos fazem falta, não tenho dúvida. Até para baixar a pressão sobre os árbitros.

No final, feitas as contas e mesmo tendo em conta erros de árbitros, poderemos dizer que não há estranheza na tabela classificativa. O curioso é que, à 26.ª jornada, os três da frente têm quatro empates, pelo que todos eles perderam desse modo oito pontos. O que os difere é que o FC Porto nunca perdeu; o Sporting perdeu duas vezes (Santa Clara, nos Açores, e SC Braga, em casa) e o Benfica perdeu quatro vezes (curiosamente, três em casa,  Gil Vicente, Portimonense e Sporting, e uma fora, FC Porto). Entre os três, o Benfica é o pior, porque faltando um Sporting-Benfica, na 30.ª jornada, e um Benfica-FC Porto na 33ª e penúltima jornada, os portistas e sportinguistas somam cinco pontos cada, em três jogos; e o Benfica, apenas com dois jogos, não tem um único ponto. 

Quero, pois, acreditar que estes números não são por culpa das arbitragens, mas das próprias equipas. O Sporting teve as suas duas derrotas no mês de janeiro, em dois jogos em que começou a vencer e em que Porro esteve ausente (e Slimani e Edwards não tinham chegado). Há coisas assim, e não devemos atribuí-las apenas a atos de arbitragem, embora estes tenham influência; mas não podemos considerá-los deliberados. Porém, para que isso aconteça, é necessário que as regras sejam claras e verdadeiramente justas. Aliás, o VAR deveria intervir mais vezes, agora que o público já se habituou (mais ou menos) a esperar pela validação dos golos e dos cartões vermelhos. E o VAR também devia ser mais transparente, podendo ouvir-se a troca de opiniões entre árbitro de campo e Cidade do Futebol, onde estão os juízes do VAR. O Benfica, nesta jornada, em que empatou com o Vizela, queixou-se de penálti por marcar. Seria útil para todos perceber por que não foi marcado, e quem tem razão.
 

«Que foi dito pelos responsáveis do futebol e da arbitragem a João Pinheiro?» 


JOGO A JOGO 

O Sporting, seguindo jogo a jogo, já sem compromissos europeus, mas ainda com uma segunda mão da Taça de Portugal por jogar, depois de ter perdido 1-2 em casa (também começou a ganhar), tem, acima de tudo, de confiar em que pode ganhar todos os jogos até ao fim do campeonato. Não são simples, a começar já pelo próximo, em Guimarães, no sábado. Naturalmente, os maiores obstáculos serão, no campeonato, o Benfica e, na Taça, o FC Porto, porque estes resultados são sempre imprevisíveis. Mas a ideia de renovar um campeonato deve ser o fito, ainda que concordemos na quase impossibilidade de lá chegar. Já a manutenção de um lugar que dê entrada direta na Champions tem de ser mais do que um objetivo. O Sporting tem de se comprometer com essa presença na Champions, que este ano começou por parecer desastrosa e acabou com um resultado também péssimo, mas onde já era visível uma aprendizagem. Para o ano seremos melhores, deve ser esse o lema na Europa.

De resto, o clube tem sido atacado pela recompra dos VMOC, operação que o professor João Duque explicou muito bem nestas páginas. Ver-se escrito que são os contribuintes a pagar esta operação é próprio de quem nem a compreende. Mas, enfim, também para esta espécie de inveja que se começa a notar em relação a um clube que tem vindo a ter mais sucesso e melhor gestão, só pode ser um critério positivo para avaliar o caminho que percorremos. 
 

BENFICA 

A defesa pareceu épica, a baliza parecia fechada, Haller pareceu desaparecido e guarda-redes Onana parecia perdido quando saiu ao lance em que Darwin fez o golo. O Benfica fez por merecer e acreditou, enervando o Ajax. Está nos quartos de final e sexta sabe quem lhe calha na rifa. 


FC PORTO 

Também com sinceridade e algum interesse próprio, gostaria que o FC Porto desse a volta ao resultado negativo que fez no Dragão, quando, amanhã, em Lyon, tentar recuperar o 0-1 de há uma semana. 


SC BRAGA 

Os minhotos, cuja época interna não está a ser gloriosa (têm os vizinhos do Gil Vicente à perna), está a fazer uma boa carreira na Europa. Amanhã, no Mónaco, aguentar o 2-0 conseguido em casa não é tarefa impossível. Espero que façam o melhor.