O que desejo ao Sporting e a todos os sportinguistas

OPINIÃO25.05.202206:55

Sendo a última crónica que escrevo para A BOLA (e sem nunca dizer que jamais reincidirei), aqui deixo os melhores desejos para todos e, em especial para o meu clube

NUNCA trabalhei em jornais, ou órgãos de comunicação social que me impusessem o que quer que fosse. Em o velho O Jornal, antes disso na empresa do Jornal de Notícias (neste jornal e no efémero Notícias da Tarde); depois no Expresso e, também, como colaborador da SIC, da Rádio Renascença e de A BOLA, tive sempre inteira liberdade. Mais: direi que em qualquer dos locais contei com a simpatia e cumplicidade dos seus dirigentes, fossem eles diretores, editores ou administradores.

Sempre compreendi as dificuldade que alguns deles (cada vez mais, ou mesmo todos eles) passam, e nunca fiz disso um drama. Escrever foi sempre, para mim, um imperativo ético de quem tem, por uma ou outra razão, acesso a poder fazê-lo. Aqui, neste jornal, confirmei a regra. Desde logo, com esse grande profissional e velho camarada, que é o diretor, Vítor Serpa; do mesmo modo com José Manuel Delgado, o seu adjunto, e ainda Fernando Urbano, Gonçalo Guimarães e Hugo Forte, que consistentemente me aturaram e ajudaram nestes mais de três anos, bem como os designers que paginaram as mais de 160 páginas que aqui deixei. Um palavra amiga e agradecida para o administrador Paulo Cardoso com quem estabeleci laços de boa camaradagem; e também para os outros colaboradores com quem me fui cruzando - do meu consócio José Dias Ferreira, aos meus adversários, como Fernando Seabra (que é conterrâneo, não obstante). E ainda os velhos profissionais de campo com quem me encontrei e matei saudades, com destaque para aquele que aqui já descrevi como meu guru da arbitragem, Duarte Gomes.

A minha decisão de deixar de escrever neste espaço tem a ver com a minha vida, como comuniquei a Vítor Serpa e a Paulo Cardoso; não com qualquer mínimo problema que aqui tivesse encontrado. Pelo contrário, se a atenção, a simpatia e a camaradagem fossem critérios, poderia aqui ficar até cair da tripeça, como se costuma dizer.

Acontece, porém, que não posso assegurar uma época mais. E considerei eticamente errado do meu lado, pouco sério para com A BOLA e incompreensível para os leitores, que deixasse - sem que isso fosse absolutamente necessário - algo como uma época de futebol a meio. Deixo assim ao critério dos responsáveis do jornal a liberdade de fazerem o que entendam ser melhor para o jornal, pois é o melhor para o jornal o que eu também pretendo.

Naturalmente, como compreenderão, o facto de aqui deixar de escrever, sem que vá para qualquer outro lado espalhar as angústias e alegrias sportinguistas, não me torna desinteressado do fenómeno que é o futebol nem do meu clube de sempre, que é o Sporting.
 

Frederico Varandas e Rúben Amorim conduziram Sporting à conquista do título em 2021

O QUE DESEJO PARA O SPORTING? 

ACIMA de tudo honra e dignidade. O Sporting não é, nem nunca quis ser, que eu saiba, um clube qualquer. Não pretende imitar o FC Porto ou o Benfica, mas pretende ganhar títulos. É diferente, sempre foi, salvo em períodos em que imperou uma visão errada. Há pouco mais de quatro anos (16 de maio de 2018) insurgi-me publicamente contra os destinos do clube que a direção de então imprimia. Fez ontem quatro anos, demitia-se o diretor e coordenador do departamento médico do Sporting. Na carta de demissão, depois de sublinhar os princípios democráticos, éticos e competitivos do nosso clube, assinalava que longe de se afastar do Sporting se comprometia a liderar uma solução de direção para o clube. Como já adivinharam, essa personalidade era Frederico Varandas. Ainda nesse mês, o presidente da AG do SCP, perante a demissão da totalidade dos membros do Conselho Fiscal e Disciplinar do clube, nomeou-me presidente de um Conselho de Fiscalização (CF), previsto nos estatutos. Comigo foram nomeados, sempre por quem de direito, o prof. João Duque, o dr. Paulo Santos, a dra. Rita Garcia Pereira e o dr. Luís de Sousa. O CF debruçou-se sobre várias denúncias de violação dos estatutos perpetrados por elementos da então direção, ouviu as partes ou os seus representantes, e determinou a suspensão e expulsão de vários (embora sujeito a confirmação da AG). Durante esse período, tanto eu como os meus colegas do CF fomos alvos das mais diversas ameaças e insultos. O mesmo se passou com o então presidente (Jaime Marta Soares) e demais membros da MAG e com o presidente do Conselho de Gestão nomeado (Artur Torres Pereira) e todos os que dele faziam parte, incluindo o presidente provisório da SAD (Sousa Cintra) e outros excelentes sportinguistas.


OS TEMPOS QUE VÊM 

PASSÁMO maus tempos, mesmo quando a 8 de setembro a nova direção, com Frederico Varandas à frente, foi eleita e nós todos nos retirámos de quaisquer órgãos sociais, cumprindo a determinação de não fazer campanha por ninguém; apenas sanear o clube, o que se conseguiu com duas AGs históricas e com participações recorde, em que alguns ex-dirigentes foram suspensos e expulsos. 

O meu primeiro artigo para A BOLA a 7 de fevereiro de 2019 dava conta desse ambiente. Tinha como título Guardem-se os lenços brancos e os ânimos exaltados. Se o fim da época 2017/2018 tinha sido mau, em 3.º, a 10 pontos do campeão, FC Porto, a de 2018/2019 foi desastrosa - 3.º a 13 pontos do Benfica. Mas 2019/2020 foi simultaneamente catastrófica - em 4.º, com os mesmos pontos do que SC o Braga, mas a 22 pontos do FC Porto - e esperançosa - contratara-se, já na parte mais final da época, Rúben Amorim.

Até essa altura, as guerras com as claques, que a direção conduziu como pôde, eram constantes. Os assobios à própria equipa, a incompreensão de algumas contratações, tudo parecia correr mal ao Sporting. Mesmo Rúben, cujo preço foi altíssimo, não teve a concordância de muitos, mesmo daqueles que tinham votado Varandas e não queriam voltar - de forma nenhuma! - ao que se passava antes. No entanto, o presidente arriscou o pescoço, jogou tudo e ganhou. Há que lhe tirar o chapéu por isso.

E foi assim que chegámos a 2020/2021. Época gloriosa, em que o Sporting consegue, 19 anos depois, vencer de novo a Liga e com avanço considerável sobre FC Porto e Benfica, relegados para 2.º e 3.º. Na época que agora termina, o Sporting conseguiu os mesmos pontos, mas ficou atrás do FC Porto, em 2.º, de qualquer modo com entrada direta para a Champions. 

Além do futebol, o clube teve vários sucessos. Reelegeu com grande margem a direção de Varandas; nas modalidades teve vitórias (nomeadamente no futsal) e retomou o seu lugar nos grande clubes, «tão grandes como os maiores da Europa».

O lema Esforço, Dedicação, Devoção e Glória voltou a fazer sentido no nosso Sporting. Glória não trata apenas de vencer, mas de competir com fair-play e sem truques. O orgulho de ser sportinguista desde criança, que parecia quase perdido em 2018, regressou. Mas ainda há muito para fazer.

Dr. Varandas, restantes consócios dos corpos sociais, repito: há ainda muito para fazer. No campo estatutário e organizativo; na governança do clube; na disciplina de sócios que nos fazem pagar multas em quase todos os jogos; na disciplina de jogadores. E, sobretudo, em manter entre nós Rúben Amorim, mostrar-lhe como a nossa casa é a dele, e agradecer-lhe o que fez pelo clube - e por vós, direção, que estaríeis em muito maus lençóis, não fora ele. Como aqui ontem escreveu Vítor Serpa, Rúben (e ele engloba Conceição, mas essa é conversa de outro clube) tem uma equipa de autor. O Sporting joga bem e tem sabido fazer contratações, que, no geral, se revelam acertadas e potencialmente lucrativas. Tem olhado para a Academia e sabido lá ir buscar os que se destacam. É um grande clube, é o nosso grande amor. Eu sei, vocês sabem e o mundo sabe que…