O palco

OPINIÃO16.07.202107:00

Uns saem de cena outros entram; uns calam-se, outros gritam!

N OS últimos três anos, através de alguns dos seus canais oficiais (televisão, internet, redes sociais) o FC Porto desencadeou um combate feroz contra o Benfica, especialmente conduzindo pelo diretor de comunicação do clube, e não deu tréguas aos responsáveis do clube da Luz, muito em particular ao já demissionário presidente Luís Filipe Vieira, acusado de tudo: corrupção, subversão da verdade desportiva, conluio, pressão, chantagem, domínio, esquemas, cartilhas.
Agora, o clube que tantas pedras atirou ao telhado do vizinho e o acusou de ser o único a comunicar através de cartilha e respetivos cartilheiros, submete-se a um silêncio ensurdecedor, e oficial, sobre a bomba que detonou na Luz e atingiu, sobretudo, Filipe Vieira, nos últimos anos o «rosto do mal» para todos os acólitos do presidente do FC Porto. Parece estranho, pois parece.
Mas nem sempre o que parece é. Basta considerarmos a reaproximação (real, não ficção) entre o já demissionário presidente de Benfica e o presidente do FC Porto para percebermos, até, a surreal autorização dada por Vieira - só pode ter sido Vieira a dá-la - para o presidente portista filmar em pleno Estádio da Luz, imagine-se, um dos episódios de uma série produzida pelo Porto Canal, na qual o líder dos azuis e brancos relata histórias com as quais quer ser recordado pela história azul e branca.
Mandou, evidentemente, a cartilha do presidente do FC Porto (sim, acreditem em mim, há cartilhas em todos os grandes clubes!...) que se silenciassem as habituais vozes do clube, mais ou menos oficiais, que pululam pelos diversos meios de comunicação, sejam eles televisivos, na internet ou nas redes sociais, estas ainda mais tóxicas em matéria de agressões, provocações, acusações, insinuações, suspeições, julgamentos e condenações.
O silêncio de quem andou a gritar durante tanto tempo quase se faz ouvir com a mesma intensidade sonora. É, repito, o chamado silêncio ensurdecedor, que só passou despercebido aos mais distraídos. Pode surpreender, mas não se deve estranhar, e realmente prova, se ainda fosse preciso, a reaproximação entre o já demissionário presidente do Benfica e o presidente do FC Porto, nada favorável, pelo que se foi percebendo e sentindo ao longo dos últimos meses, a Luís Filipe Vieira, independentemente do que vier a resultar do que se julga estar também a ser investigado pelo Ministério Público no âmbito de algumas práticas ou negócios no FC Porto.
Ninguém sabe ainda do que Luís Filipe Vieira poderá ou não vir a ser realmente acusado, se vai a julgamento e se, nesse caso, vai ou não ser condenado por algum crime. Não contribuirei para julgamentos populares em sérias e legítimas investigações da Justiça.
Mas é discutível a liderança de Vieira, sobretudo nos últimos tempos de Benfica, claro que é, como foi, por exemplo, não é difícil reconhecê-lo, muito discutível pelo menos uma parte da intervenção de Vieira na Assembleia da República, perante os deputados. Julgo, aliás, que se alguém o ajudou a definir algumas das diferentes estratégias agora conhecidas, bem o enganou.
E paga Vieira as favas, mesmo que as não mereça todas!

DIZEM-ME que o advogado de Luís Filipe Vieira é um dos grandes cérebros portugueses em matéria de Direito Penal, e na realidade outra coisa não seria de esperar que não fosse ver o já demissionário presidente do Benfica a ser defendido por um advogado de excelência, uma espécie de Cristiano Ronaldo do Direito. Mas o dr. Manuel Magalhães e Silva, porventura até por ser fervoroso adepto do FC Porto, parece não ter entendido bem a realidade sócio política do Benfica e muito menos a realidade conjuntural do momento do clube, e não apenas terá deitado, involuntariamente, admito, mais gasolina para a fogueira ao transmitir a ideia que Filipe Vieira teria ficado muito amargurado com Rui Costa pelo modo como Rui Costa se proclamou «novo presidente», como ainda apimentou mais o clima com a afirmação de que Vieira estaria a «ponderar» reassumir o cargo de líder do clube.
No primeiro caso, Magalhães e Silva, pelos vistos sem falar mais com Vieira sobre esse assunto, terá interpretado o que lhe pareceu ser a melhor defesa da posição de um Vieira então com o mandato suspenso. Se tivesse combinado com Vieira, provavelmente Magalhães e Silva não teria dito o que disse na entrevista na TVI, porque nessa altura já Vieira, tudo o indica, estava serenamente convencido da posição e da forma como Rui Costa fez o que fez e disse o que disse.
No segundo caso, também não me parece que o advogado de Filipe Vieira tenha consertado, em rigor, posições com o entretanto demissionário presidente do Benfica, porque, caso contrário, julgo que teria facilmente compreendido não ser propriamente o momento adequado para, sequer, admitir que Vieira estaria a «ponderar» voltar ao cargo efetivo de presidente do clube.
O lume estava ainda - como continua a estar - demasiado quente para admitir o que já ninguém - nem mesmo o próprio Vieira, como se vê - conseguia admitir, como voltar a ver, pelo menos nos tempos mais próximos, Luís Filipe Vieira no lugar que foi inquestionavelmente seu durante os últimos quase 18 anos!
Pode o advogado de Filipe Vieira ser, realmente, um «Cristiano Ronaldo» do Direito Penal português, e pelo menos o agora demissionário presidente do Benfica esperará e desejará seriamente que o seja para o ajudar a ultrapassar aquele que é, seguramente, até agora, o mais difícil momento que teve de enfrentar na vida pública e profissional.

Ofestival de hipocrisia e de contradições que vai decorrendo nos média desde que Luís Filipe Vieira se viu forçado, por detenção, a esperar nas instalações da polícia para ser ouvido por um juiz, chega a atingir proporções inquietantes. Muita gente parece falar, realmente, do que não sabe, e porventura nunca soube, e muita outra gente dá clara ideia de tanto querer marcar território para se manter na primeira fila quando, na cabina de imagem, o filme mudar de bobine, que chega a parecer... rídicula.
Repare-se no que ouvimos, por exemplo, dizer ao ex-candidato e provável futuro candidato à presidência do Benfica, Rui Gomes da Silva: «Quando acabou o BES, Luís Filipe Vieira passou o Benfica para Jorge Mendes». E ainda. «O Benfica deve trabalhar com todos os empresários».
Saberá Rui Gomes da Silva realmente do que está a falar? Tenho dúvidas. Quando muito se fala ou se fala demais, corre-se, também, o risco de entrar mosca ou sair asneira, como diriam as nossas queridas avós.  O ruído é tanto que mais parece estar apenas a querer-se atirar areia para os olhos de quem ouve.
Por um lado, dificilmente (ou nunca) o Benfica teria conseguido realizar alguns grandes negócios que realizou sem uma relação profissional e empresarial forte com o maior dos agentes, como é reconhecidamente Jorge Mendes, mesmo tendo de lhe pagar as altas comissões que segura e devidamente o Benfica, e tantos outros clubes, lhe têm pago.
Por outro lado, se o Benfica deve trabalhar com todos os empresários, como diz Rui Gomes da Silva, então ou Rui Gomes da Silva não conhece a realidade, porque o Benfica, na verdade, trabalha com empresários que nunca mais acaba, ou finge desconhecê-la, o que é manifestanente pior. Se tivesse dito que o Benfica trabalha, porventura, com empresários a mais, talvez lhe tivesse saído melhor o sermão. É apenas um exemplo da confusão (e alguma hipocrisia) que por aí anda.

S E excluirmos a vitória, ainda na pré-história do Tour, do francês Henri Cornet, que em 1904, quando foi o primeiro, ainda não completara os 20 anos, este rapaz esloveno que dá pelo difícil de pronunciar nome de Tadej Pogaçar (com cedilha, para soar como na língua dele) é o mais jovem ciclista de sempre a vencer o Tour, um Tour realmente a sério, um Tour contemporâneo, um Tour duro como rocha. Pogaçar ganhou o primeiro Tour o ano passado, em setembro, bem fora da época tradicional do Tour devido à pandemia, ainda com 21 anos, porque apenas fez 22 exatamente no dia seguinte a ter concluído, em Paris, o primeiro grande sucesso desta ainda curta carreira.
Agora, ainda com os mesmos 22 anos, o jovem Tadej prepara-se para somar a segunda vitória consecutiva na maior, mais longa, mais dura e mais espetacular prova de ciclismo do mundo, e, mais do que isso, tem vindo a mostrar etapa após etapa (como, mais uma vez, ficou claro este quinta-feira) como é verdadeiramente imbatível, do momento, seja por quem for. O rapaz esmaga todos os que se atrevem a atacar-lhe o trono. Com todo o respeito, e sem qualquer  baixa insinuação, Tadej Pogaçar faz-me lembrar (ainda que em idades diferentes) um tal de Lance Armstrong, que impressionava meio mundo (e, na maioria das vezes, o outro meio) com as exibições de gala com que foi brilhando no Tour. Espero que Tadej me faça lembrar Lance apenas por isso.

PS: Vieira sai de cena no Benfica. Fez muito bem. O Benfica precisa de paz. E Vieira também, para se defender!

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