Durante algumas décadas, o Torneio de Natal do Real Madrid em basquetebol marcava as paragens dos campeonatos que então acontecia no período natalício e era a oportunidade, num mundo com pouca televisão em direto e sem internet, de assistir a algumas das melhores equipas e estrelas do basquetebol mundial sem ser da NBA.
Um artigo da página de Facebook espanhola Retrospectiva del Deporte trouxe à memória a importância e o que significava para os amantes do basquetebol, durante algumas décadas, o desaparecido Torneio de Natal do Real Madrid.
Apesar de, ao longo dos 37 anos (1967-2004) ter tido outras designações, algumas dependente de quem o patrocinava, poder ir à capital espanhola assistir àquela competição que decorria entre 22 e 26 de dezembro era quase como, atualmente, ir a Nova Iorque assistir a uns jogos da NBA no Madison Square Garden e no Barclays Center no mesmo fim de semana.
Na verdade, não. Era bastante mais que isso. Hoje podemos assistir aos encontros da NBA em direto, incluindo os cinco especiais de Natal. Vê-los na manhã seguinte e, se tivermos a aplicação da Liga, assistir a tudo onde desejarmos, sem viagens, e já com as sucessivas paragens dos jogos aparadas ou em resumos maiores ou menores, conforme desejarmos.
Naqueles anos, o desconhecimento do que eram verdadeiramente os melhores basquetebolistas do mundo era profundo. Vinha através de revistas ou filmes, ainda antes da era cassetes de vídeo, raros. Por vezes, com sorte, a RTP lá transmitia a final da Liga dos Campeões e as salas de quem já tinha televisão a cores transformavam-se em pavilhões lotados pelos colegas de equipa.
Mas, de regresso ao artigo, ele recorda quando, há 40 anos, um então jovem Arvydas Sabonis, pai de Domantas Sabonis, dos Sacramento Kings, ainda a atuar pela seleção da Rússia, partiu uma tabela e o encontro parou mais de meia hora para a substituição.
Miúdo, ouvia as histórias dos portugueses que lá haviam ido, alguns juntando-se tipo excursões, aproveitando a paragem natalícia dos campeonatos. Revelavam como era o evoluído basquetebol de clubes como o Real Madrid, Maccabi Telavive, Jugoplastika, Benetton Treviso, universidades americanas, ou seleções como a russa, jugoslava e até australiana.
Melhor judoca portuguesa de sempre retirou-se da competição mas não da modalidade onde foi construindo uma carreira impar que marcou o judo nacional e internacional e durante a soube ir renovando-se para se manter entre a elite ao longo de duas décadas.
Mais tarde, devido a ter passado a ser frequente a presença em Madrid por essa altura, como a cidade se engalanava por causa do torneio, e do patrocínio de uns grandes armazéns que ainda hoje existem, e das filas enormes que se faziam para entrar no pavilhão.
Nunca me esqueci da história de um jovem jogador português, com cerca de 2m, se ter sentido pequeno pela primeira vez na vida quando esteve num elevador em que também entraram os postes russos Sabonis (2,21m) e Vladimir Tkachenko (2,20m).
Drazen Petrovic, Oscar Schmidt, Dino Meneghin, Fernando Martin, Toni Kukoc foram algumas estrelas desses Natais do passado.
A pouco e pouco, com os campeonatos a não terem paragens e as televisões a mostrarem a melhor liga do mundo, o torneio foi definhando e das habituais quatro equipas em prova, passou-se a duas e depois nenhuma.
Como serão os Natais para os amantes do basquetebol do futuro? Vamo-nos sentar virtualmente num dos jogos de Natal da NBA em vez de só os estarmos a ver em direto? Ah, não, isso já posso fazer com os óculos de realidade virtual da liga e até escolher em que ângulo e onde junto ao court quero assistir. Mas nunca será o Torneio de Natal do Real Madrid.
A hipótese da liga norte-americana vir a organizar uma competição na Europa começa a dar passos cada vez mais certos e irá fazer concorrência à EuroLiga, onde existe descontentamento de vários clubes. O objetivo é fazer crescer o negócio do basquetebol no Velho Continente e acabar com clubes que dão prejuízo, a grande maioria se não tiverem apoios do futebol, das cidades ou do Estado. Donos de equipas da NBA a quererem entrar no plano europeu, alguns já têm investimentos em clubes de futebol.