Sérgio ou Serjão! Nunca Serginho...
'Hat trick' é o espaço de opinião semanal do jornalista Paulo Cunha
Dito assim, em italiano, soa ainda melhor: «Il calcio per me è semplice, c’è una porta dove segnare e un’altra da proteggere, il calcio dominante per me è fare risultato. Il tiki-taka per me è metterla dentro.»
Na apresentação como treinador do Milan, Sérgio Conceição evocou a essência do jogo que muitos técnicos por esse mundo fora esqueceram enquanto procuram o Santo Graal e tentam ganhar o prémio Nobel da física aplicada ao desporto-rei com saídas de bola suicidas a partir do guarda-redes e afins.
«O futebol para mim é simples, há uma baliza para marcar e outra para proteger, o futebol dominante é conseguir resultados. O tiki-taka, para mim, é metê-la lá dentro», disse, então, agora traduzido em português, o treinador que soube esperar pelo clube certo para voltar ao ativo, após ter dito adeus ao FC Porto a 26/5/2024, garantida a Taça de Portugal frente ao Sporting, o 11.º troféu festejado ao leme da nau azul e branca que comandou durante sete anos.
«Não venho para aqui aprender, venho para aqui ensinar», eis a frase marcante daquele 8/6/2017, quando chegou ao Dragão para terminar, concluída essa época de 2017/18 com a celebração da Liga, jejum de títulos que durava desde agosto de 2013, mês em que Paulo Fonseca — o compatriota que substituiu nos rossoneri — ergueu a Supertaça Cândido de Oliveira. E aí começou a maior seca do reinado de Pinto da Costa.
Por explicar continua a saída do FC Porto — ao serviço do qual nunca ninguém fez tanto com tão pouco, não me canso de repetir —, o final da relação com Vítor Bruno, aquela reunião com André Villas-Boas no ocaso da temporada passada... Mas, um dia, não resistirá a esclarecer as pontas soltas deste fim de ciclo ensombrado por um apoio explícito a Pinto da Costa, pouco antes do ato eleitoral, que lhe minou a palavra dada para mais tarde ler o que não queria pela pena de PC no livro Azul até ao Fim.
Na estreia pelo Milan, segunda maior potência da Taça dos Clubes Campeões Europeus (1962/63, 1968/69, 1988/89 e 1989/90) e Liga dos Campeões (1993/94, 2002/03 e 2006/07), total de sete orelhudas, apenas superado pelas 15 do Real Madrid, Sérgio Conceição carimbou passaporte para a decisão da Supertaça italiana. Um triunfo sobre a Juventus, por 2-1, o primeiro golo de penálti e a reviravolta selada com autogolo do arco da velha, a provar que o importante é «metê-la lá dentro» seja de que maneira for.
Nos dragões, não obstante o feitio irascível que redundou em inúmeras expulsões e outros momentos que lamentará, mostrou que é um dos grandes treinadores da atualidade. O melhor português? Não vejo outro melhor que ele, embora vários possam estar no mesmo patamar…
Aos jogadores do Milan aconselharia que se concentrassem em «metê-la lá dentro», sem pensarem que o trabalho de Sérgio Conceição se reduz a máxima tão simples, como demonstrou no FC Porto que mudava consoante os executantes à disposição, exceto em 2023/24 que foi para esquecer. E acreditem que o homem está decidido a «ensinar e não aprender», ao cuidado, sobretudo, de personalidades como a de Rafael Leão… É que já sabem que poderão vê-lo no Milan em versão Sérgio ou Serjão, nunca como Serginho…