Não há amor à camisola!

OPINIÃO20.11.202003:00

EXCECIONANDO um ou outro caso, os atletas, treinadores, dirigentes e restantes agentes desportivos que percorrem o atual setor do futebol profissional a nível global são, cada vez mais, meros assalariados transitórios. Neste mundo sustentado por um único pilar de intransigência inamovível de convicções composto tão somente pelos sócios e adeptos, todos os restantes envolvidos no enredo são adornos revestidos de atores principais e secundários remunerados para o efeito.

Pode-se discutir se os artistas que preenchem diariamente os jornais desportivos representam devidamente ou com distância e irrelevância a entidade para a qual foram contratados ou eleitos, mas a verdade é que a própria indústria do futebol foi intencionalmente transformada para se comercializar e vender o seu produto ao consumidor final, o adepto.

Em Novembro de 1997, Vale e Azevedo referiu que o mundo do futebol não se diferenciava daquele dos negócios e da alta finança. Enganou-se e a sua curta passagem assim provou. É mais intricado e viral e (muito) menos regulado. Assim, quando consideramos o possível regresso de Hulk à cidade do Porto, não o fazemos porque acreditamos no amor que ele tem à camisola que outrora vestiu. Fá-lo por ternura e apreço pelo programa apelidado a hora de regressar a casa e que se traduz num apoio fiscal. Tal como o central Pepe e sustentado pelo n.º 1 do artigo 12.º-A do Código do IRS, Hulk poderá ficar excluído de tributação em 50% dos rendimentos do trabalho dependente se (I) tiver residido em Portugal antes de 31 de Dezembro de 2015, se (II) não tiver residido em Portugal em qualquer dos três anos anteriores e se (III) tiver a sua situação tributária regularizada.

No regresso a casa, os jogadores podem beneficiar deste regime por um período de 5 anos a partir do daquele em que se tornem, de novo, residentes em Portugal. O imaginário guarda as estórias de amor (à camisola, aos clubes e a Portugal).