Moura, caso único no mercado
Recrutado ao Famalicão, lateral esteve em destaque no triunfo do FC Porto em Guimarães, com duas assistências, e é o único reforço dos candidatos ao título contratado no mercado nacional
Depois do bis de Samu na vitória do FC Porto em Guimarães, a estreia inspirada de Harder no Sporting-Aves SAD e até o golo de Pavlidis no Bessa vieram recuperar a pertinência de um tema já aqui abordado: a tendência do mercado português para procurar avançados que dão enorme dimensão física ao jogo, como consequência inevitável do impacto que Viktor Gyokeres teve na equipa de Rúben Amorim.
Mas a exibição dos dragões na cidade-berço, no passado sábado, justifica uma outra nota de destaque individual para além de Samu: ao segundo jogo às ordens de Vítor Bruno, Francisco Moura serviu dois dos três golos do encontro. O lateral esquerdo, que curiosamente tinha perdido em Guimarães 20 dias antes, ainda ao serviço do Famalicão, começa a mostrar que é uma alternativa muito válida a Wendell e Zaidu. Recrutado por cinco milhões de euros, valor relativo a 90 por cento do passe, Francisco Moura é um exemplo muito particular no último mercado de transferências, já que é caso único de um jogador contratado pelos crónicos candidatos ao título em Portugal. O FC Porto recorreu sobretudo ao mercado italiano (Nehuén Pérez e Tiago Djaló), mas também Espanha (Samu), Suécia (Deniz Gul) e Inglaterra (Fábio Vieira). O Sporting apostou em mercados mais periféricos no contexto europeu, como Dinamarca (Harder), Bélgica (Debast), Polónia (Kovacevic) ou México (Maxi Araújo). O Benfica investiu sobretudo em Alemanha (Beste e Leandro Barreiro) e Inglaterra (Amdouni e Kaboré), mas contratou também em França (Renato Sanches), nos Países Baixos (Pavlidis) e na Turquia (Akturkoglu).
O último jogador recrutado pelas águias em Portugal foi Petar Musa, ao Boavista, no mercado de verão de 2022. Sporting e FC Porto têm olhado mais para dentro, nos últimos tempos, mas a aposta é irregular, como mostra a última janela de transferências. Fica a ideia de um certo preconceito na forma como é encarada a possibilidade de contratar um jogador da Liga, ainda mais se falarmos de escalões inferiores. Os elogios à prospeção são proporcionais ao desconhecimento sobre o jogador, e até mesmo entre adeptos parece existir predisposição natural para olhar com maior entusiasmo para um reforço que vem de fora, por mais desconhecido que seja. Francisco Moura dispensa pressão acrescida, mas acaba por ter essa missão paralela de mostrar que vale sempre a pena olhar para o mercado interno. Promete corresponder.