Lesões, as piores inimigas do atleta (2.ª parte)
As lesões, como todos sabemos, assumem uma importância fundamental no rendimento desportivo (Foto: Imago)

Lesões, as piores inimigas do atleta (2.ª parte)

OPINIÃO05.12.202409:00

Metodólogo de Treino Desportivo; Mestre em Psicologia Desportiva; Doutorado em Ciências do Desporto; Formador de Treinadores FPF – UEFA; Docente Universitário – Universidade da Maia, José Neto escreve na Tribuna Livre, um espaço de opinião de A BOLA aberto ao exterior

«É um erro comum confundir o desejar com o querer… O desejo mede os obstáculos… A vontade vence-os!...» Alexandre Herculano

Fatores psicológicos associados à prevenção e recuperação de lesões desportivas. Avaliação do impacto emocional do atleta lesionado.

São vários os motivos que nos levam a considerar as lesões como acontecimentos negativos da vida dos praticantes. Em primeiro lugar a produção de dor e a interrupção da atividade desportiva e competitiva, com todas as consequências que daí podem advir: perda do lugar na equipa, prémios pecuniários, perda do estado de forma desportiva, etc.

Das várias ciências que justificadamente se dedicam a este fenómeno, a Psicologia do Desporto assume um significado especial, pois tem-se notado que variáveis psicológicas como a motivação, o stress, a autoconfiança, a persistência e o estado de ânimo poderão influenciar, aumentando ou diminuindo a possibilidade dos desportistas se lesionarem e nestes casos, contribuindo positiva ou negativamente, para os processos de recuperação de lesões e prevenção de futuras recaídas.

As lesões, como todos sabemos, assumem uma importância fundamental no rendimento desportivo. A longevidade e o sucesso da prática desportiva poderão estar na capacidade do atleta resistir às lesões e na possibilidade de uma boa recuperação, quando tal acontecer. De facto, uma lesão pode provocar na pessoa lesionada um estado traumático de consequências psicológicas e físicas de uma enorme imprevisibilidade.

No âmbito da prevenção e recuperação de lesões uma das questões que imediatamente se deve colocar a quem tem a responsabilidade de recuperar a pessoa lesionada, consiste na avaliação das reações comportamentais do atleta, dado que o possível abandono da prática desportiva pode conduzir a uma perda de identidade, medo e ansiedade associados à preocupação da capacidade de recuperar totalmente, gerando como consequência falta de confiança, podendo evidenciar para os atletas decréscimos significativos de rendimento.

São referidas algumas técnicas e estratégias de intervenção, tais como:

— A relação a ser mantida com o atleta deverá ser baseada na seriedade e no otimismo;

— A metodologia de treino a efetuar deve ser do conhecimento do atleta lesionado;

— O uso de competências psicológicas como a visualização mental e o treino de relaxamento deverá ser convenientemente programado;

— O atleta lesionado deverá estar preparado para ultrapassar quaisquer fatores imprevisíveis no decorrer da recuperação;

— Deve ser tido em conta uma dinâmica de apoio e ajuda emocional constante por parte das pessoas que partilham mais diretamente a vida do atleta.

Anotamos alguns aspetos fundamentais a ter em atenção para uma recuperação com sucesso:

— Formular objetivos diários para a recuperação, bem como objetivos a curto e médio prazo e utilizar algumas das técnicas já referidas; enfatizar os aspetos positivos da recuperação; descrever ao atleta a lesão, expressando sempre as imagens positivas da recuperação; estar em alerta em relação ao discurso interno, evitando aspetos negativos ao nível do pensamento, dada a intranquilidade que pode despertar; ser encorajador perante os desafios, estabelecendo rankings comportamentais ajustados á evolução da recuperação;

— Tentar recolher o maior número de informação possível acerca da lesão, da evolução da recuperação, incorporando estas temáticas na metodologia de treino.

Lesões, as piores inimigas do atleta!... (1.ª parte)

18 novembro 2024, 09:00

Lesões, as piores inimigas do atleta!... (1.ª parte)

Metodólogo de Treino Desportivo; Mestre em Psicologia Desportiva; Doutorado em Ciências do Desporto; Formador de Treinadores FPF – UEFA; Docente Universitário – Universidade da Maia, José Neto escreve na Tribuna Livre, um espaço de opinião de A BOLA aberto ao exterior

No correspondente à Avaliação do impacto emocional do atleta lesionado, podemos referir como diagnóstico causal, desde os fatores precedentes à lesão como a aproximação de competições de maior significado, distúrbios alimentares, mudanças significativas na vida pessoal, até aos fenómenos da somatização muitas vezes caraterizados por uma longa história de dor e variadas queixas somáticas, pelo frequente uso de medicamentos e propensão para múltiplas consultas médicas, tendo como origem fenómenos vagamente definidos.

Ainda a considerar, entre outras, o estado psicológico do jogador marginalizado, porque geralmente têm tendência a ocultarem lesões, com receio de perderem a oportunidade de serem convocados; a sobrecarga de treino que se manifesta por um aumento desregulado da fadiga que acusa uma evidente instabilidade emocional no aumento e a suscetibilidade a doenças infeciosas, perturbação do sono, etc. ; os fatores psicológicos associados à lesão e a carga emocional correspondente durante a reabilitação, em que a sensação da dor, o local onde ocorreu a lesão, a perceção de culpabilidade, etc., podem estar ligados ao potencial sucesso e insucesso da reabilitação da mesma.

Ainda a referir, os momentos da ocorrência das lesões em que no caso de ocorrerem no ponto fulcral da carreira de um atleta, ou até em final de época, condicionando o regresso em forma na época seguinte, poderão ter consequências tremendas; o apoio social e emocional de pessoas significativas e importantes na vida dos atletas lesionados merece um significativo e importante interesse, pois ajuda a transmitir confiança, a enfrentar os problemas e dificuldades com mais empenhamento, gerando um aumento de perceção de eficácia e autoconfiança na reabitação com êxito; a anotar ainda as reações dos adeptos e da comunicação social que podem trazer um efeito relevante, mas que tanto pode ser positivo ou negativo, dependendo da formulação de expectativas e sua conversão nas respostas.

Para terminar esta segunda parte gostaria de referir algumas das questões mais pertinentes a fazer no processo de avaliação da lesão ou pós-lesão, valendo-me da opinião cientificamente comprovada por autores consagrados, por exemplo, Heil (1993), Buceta (1996), Williams & Roepke (1993), Sooligard (2010) e Tessitore (2008):

1 -Identificação: Em que consiste exatamente a lesão? A lesão produz muita ou pouca dor?

2 - Dor: Qual a zona do corpo que está lesionada? Está a ser administrado algum medicamento?

3 - Atividade: A lesão interfere com a atividade normal do desportista? Ou terá de interromper a atividade? Por quanto tempo? Tem limitações da prática desportiva? Quais?

4 - Hospitalização: A lesão obriga a hospitalização? Por quanto tempo? Vai ser submetido a intervenção cirúrgica? Qual? Vai aplicar-se algum tratamento imediato? Qual?

5 - Ajudas: Qual o impacto para o atleta lesionado, das medidas adotadas? Qual o tipo de ajudas?

6 - Recuperação: Qual o prognóstico da lesão? Quanto tempo para o seu reaparecimento? Poderá voltar a render como antes? Deverá restringir a atividade futura? Será provável uma diminuição das capacidades ou possibilidades de rendimento? Quando se espera que comece a recuperar? Em que consiste o trabalho de recuperação? É possível a implementação de algumas estratégias capazes de otimizar o trabalho de recuperação? E que forma é ocupado o tempo que está a recuperar?