Metodólogo de Treino Desportivo; Mestre em Psicologia Desportiva; Doutorado em Ciências do Desporto; Formador de Treinadores FPF – UEFA; Docente Universitário – Universidade da Maia, José Neto escreve na Tribuna Livre, um espaço de opinião de A BOLA aberto ao exterior
«É um erro comum confundir o desejar com o querer… O desejo mede os obstáculos… A vontade vence-os!...» Alexandre Herculano
Fatores psicológicos associados à prevenção e recuperação de lesões desportivas. Avaliação do impacto emocional do atleta lesionado.
São vários os motivos que nos levam a considerar as lesões como acontecimentos negativos da vida dos praticantes. Em primeiro lugar a produção de dor e a interrupção da atividade desportiva e competitiva, com todas as consequências que daí podem advir: perda do lugar na equipa, prémios pecuniários, perda do estado de forma desportiva, etc.
Das várias ciências que justificadamente se dedicam a este fenómeno, a Psicologia do Desporto assume um significado especial, pois tem-se notado que variáveis psicológicas como a motivação, o stress, a autoconfiança, a persistência e o estado de ânimo poderão influenciar, aumentando ou diminuindo a possibilidade dos desportistas se lesionarem e nestes casos, contribuindo positiva ou negativamente, para os processos de recuperação de lesões e prevenção de futuras recaídas.
As lesões, como todos sabemos, assumem uma importância fundamental no rendimento desportivo. A longevidade e o sucesso da prática desportiva poderão estar na capacidade do atleta resistir às lesões e na possibilidade de uma boa recuperação, quando tal acontecer. De facto, uma lesão pode provocar na pessoa lesionada um estado traumático de consequências psicológicas e físicas de uma enorme imprevisibilidade.
No âmbito da prevenção e recuperação de lesões uma das questões que imediatamente se deve colocar a quem tem a responsabilidade de recuperar a pessoa lesionada, consiste na avaliação das reações comportamentais do atleta, dado que o possível abandono da prática desportiva pode conduzir a uma perda de identidade, medo e ansiedade associados à preocupação da capacidade de recuperar totalmente, gerando como consequência falta de confiança, podendo evidenciar para os atletas decréscimos significativos de rendimento.
São referidas algumas técnicas e estratégias de intervenção, tais como:
— A relação a ser mantida com o atleta deverá ser baseada na seriedade e no otimismo;
— A metodologia de treino a efetuar deve ser do conhecimento do atleta lesionado;
— O uso de competências psicológicas como a visualização mental e o treino de relaxamento deverá ser convenientemente programado;
— O atleta lesionado deverá estar preparado para ultrapassar quaisquer fatores imprevisíveis no decorrer da recuperação;
— Deve ser tido em conta uma dinâmica de apoio e ajuda emocional constante por parte das pessoas que partilham mais diretamente a vida do atleta.
Anotamos alguns aspetos fundamentais a ter em atenção para uma recuperação com sucesso:
— Formular objetivos diários para a recuperação, bem como objetivos a curto e médio prazo e utilizar algumas das técnicas já referidas; enfatizar os aspetos positivos da recuperação; descrever ao atleta a lesão, expressando sempre as imagens positivas da recuperação; estar em alerta em relação ao discurso interno, evitando aspetos negativos ao nível do pensamento, dada a intranquilidade que pode despertar; ser encorajador perante os desafios, estabelecendo rankings comportamentais ajustados á evolução da recuperação;
— Tentar recolher o maior número de informação possível acerca da lesão, da evolução da recuperação, incorporando estas temáticas na metodologia de treino.
Metodólogo de Treino Desportivo; Mestre em Psicologia Desportiva; Doutorado em Ciências do Desporto; Formador de Treinadores FPF – UEFA; Docente Universitário – Universidade da Maia, José Neto escreve na Tribuna Livre, um espaço de opinião de A BOLA aberto ao exterior
No correspondente à Avaliação do impacto emocional do atleta lesionado, podemos referir como diagnóstico causal, desde os fatores precedentes à lesão como a aproximação de competições de maior significado, distúrbios alimentares, mudanças significativas na vida pessoal, até aos fenómenos da somatização muitas vezes caraterizados por uma longa história de dor e variadas queixas somáticas, pelo frequente uso de medicamentos e propensão para múltiplas consultas médicas, tendo como origem fenómenos vagamente definidos.
Ainda a considerar, entre outras, o estado psicológico do jogador marginalizado, porque geralmente têm tendência a ocultarem lesões, com receio de perderem a oportunidade de serem convocados; a sobrecarga de treino que se manifesta por um aumento desregulado da fadiga que acusa uma evidente instabilidade emocional no aumento e a suscetibilidade a doenças infeciosas, perturbação do sono, etc. ; os fatores psicológicos associados à lesão e a carga emocional correspondente durante a reabilitação, em que a sensação da dor, o local onde ocorreu a lesão, a perceção de culpabilidade, etc., podem estar ligados ao potencial sucesso e insucesso da reabilitação da mesma.
Ainda a referir, os momentos da ocorrência das lesões em que no caso de ocorrerem no ponto fulcral da carreira de um atleta, ou até em final de época, condicionando o regresso em forma na época seguinte, poderão ter consequências tremendas; o apoio social e emocional de pessoas significativas e importantes na vida dos atletas lesionados merece um significativo e importante interesse, pois ajuda a transmitir confiança, a enfrentar os problemas e dificuldades com mais empenhamento, gerando um aumento de perceção de eficácia e autoconfiança na reabitação com êxito; a anotar ainda as reações dos adeptos e da comunicação social que podem trazer um efeito relevante, mas que tanto pode ser positivo ou negativo, dependendo da formulação de expectativas e sua conversão nas respostas.
Para terminar esta segunda parte gostaria de referir algumas das questões mais pertinentes a fazer no processo de avaliação da lesão ou pós-lesão, valendo-me da opinião cientificamente comprovada por autores consagrados, por exemplo, Heil (1993), Buceta (1996), Williams & Roepke (1993), Sooligard (2010) e Tessitore (2008):
1 -Identificação: Em que consiste exatamente a lesão? A lesão produz muita ou pouca dor?
2 - Dor: Qual a zona do corpo que está lesionada? Está a ser administrado algum medicamento?
3 - Atividade: A lesão interfere com a atividade normal do desportista? Ou terá de interromper a atividade? Por quanto tempo? Tem limitações da prática desportiva? Quais?
4 - Hospitalização: A lesão obriga a hospitalização? Por quanto tempo? Vai ser submetido a intervenção cirúrgica? Qual? Vai aplicar-se algum tratamento imediato? Qual?
5 - Ajudas: Qual o impacto para o atleta lesionado, das medidas adotadas? Qual o tipo de ajudas?
6 - Recuperação: Qual o prognóstico da lesão? Quanto tempo para o seu reaparecimento? Poderá voltar a render como antes? Deverá restringir a atividade futura? Será provável uma diminuição das capacidades ou possibilidades de rendimento? Quando se espera que comece a recuperar? Em que consiste o trabalho de recuperação? É possível a implementação de algumas estratégias capazes de otimizar o trabalho de recuperação? E que forma é ocupado o tempo que está a recuperar?