A BOLA DE BERLIM Lágrimas bem portuguesas
BERLIM - A última imagem é a que fica, pelo que é provável que a memória da participação portuguesa no Euro-2024 fique colada à imagem de Pepe, a chorar, confortado por Cristiano Ronaldo. Com o capitão distante do legado que construiu, e em silêncio após a eliminação diante da França, o central sobressaiu como figura principal da campanha de Portugal, até pelo cenário de um eventual final de carreira. Pepe talvez nem tenha sido o melhor jogador português na prova – o meu voto vai para Vitinha –, e teve momentos de fragilidade. Tudo seria diferente se Diogo Costa não tivesse negado o golo a Sesko, por exemplo, mas a linha é assim tão ténue. E se há mérito que não se pode tirar a Pepe é a capacidade para reagir à adversidade. Basta recordar o lance em que foi ultrapassado por Thuram, para lá do minuto 90, em que acabou a festejar o corte na linha de fundo. Talvez tudo tivesse sido diferente se um (outro) português não tivesse oferecido uma baguete no dia em que Pepe chegou ao país e gastou o único dinheiro que tinha, para ligar à mãe. A carreira do central na Seleção foi sempre guiada pela gratidão. É certo que existem jogadores que não escolhem o país que representam pelos melhores motivos, mas no caso de Pepe ninguém ousa dizer que aquelas lágrimas não são portuguesas.