Jogo branco
A derrota do Sporting em Alverca podia ser vista à luz dum epifenómeno. Mas não, não foi; não é. Os números, no futebol, não explicam tudo, mas podem explicar muita coisa, como o de a derrota de ontem não ser uma coisa que aconteceu por acaso.
Em 12 jogos esta época, os leões perderam metade, empataram dois e ganharam quatro - e dois deles, frente ao SC Braga e ao LASK quase com graça divina. Na Supertaça foi o que foi, na Liga está em sexto, já está fora da Taça de Portugal, na Taça da Liga está em situação complicadíssima. Resta a Liga Europa com as conhecidas dificuldades de qualquer equipa portuguesa em vencê-la. E ainda se vai em outubro. Frederico Varandas pode continuar a despedir treinadores ao ritmo dos assobios das bancadas que pouco ou nada vai melhorar, pela simples razão que o plantel tem uma qualidade muito inferior à exigível para o Sporting.
O presidente pode dizer que herdou situação financeira muito difícil. É verdade. Mas, para todos os efeitos, tem o terceiro maior orçamento do futebol nacional. E tem de ganhar muito mais. O presidente também pode justificar que a massa adepta está completamente dividida. É verdade e a culpa não é dele, mas convinha dar uns passitos no caminho para o união e não continuar no pedestal, porque nem todos os adeptos do Sporting fazem parte das claques a quem acabou com o negócio. Varandas, no fundo, pode apresentar todas as justificações para uma época que está a correr mal, sobretudo no futebol. Mas aí está o problema.
Na campanha eleitoral colocou todo o enfoque no futebol e disse que sabia tudo sobre a modalidade. Portanto, o responsável pela situação é ele. As circunstâncias podem ser todas desfavoráveis, mas quando se candidatou à presidência do clube já lá trabalhava há sete anos, pelo que tinha um conhecimento muito maior da realidade leonina do que qualquer mero associado. Foi a jogo e convenceu os sócios que no futebol tinha ases, manilhas e reis de trunfo. E arriscou tudo. Mas, afinal, só tem jogo branco. E arrisca-se a perder tudo, que no futebol, esta época, já é pouco.