Fazer mais com menos
Rui Costa terá de contratar melhor e mais barato; Villas-Boas parte atrás dos rivais mas isso nem sempre é mau: basta recordar Sérgio Conceição
Das muitas ideias que passaram para a opinião pública da ronda de perguntas e respostas de Rui Costa aos jornalistas na última quinta-feira, houve uma que retive a propósito do comportamento que as águias terão neste defeso prestes a iniciar: haverá um refreamento no investimento comparativamente aos dois anos anteriores, período em que a SAD investiu perto de 200 milhões de euros em reforços para conquistar dois títulos em nove possíveis. O presidente do Benfica prometeu maior contenção, justificando a decisão com o facto de muito do trabalho já estar feito, tal como prova a média de idades do atual plantel (25 anos), num processo de rejuvenescimento levado a cabo em quatro janelas de mercado.
Por outras palavras: desta vez Roger Schmidt não pode esperar futebolistas tão caros. Apesar de a base estar feita, há ainda muita parede para encher. Serão contratados pelo menos três jogadores para cumprir exigências óbvias e imediatas (dois laterais e um ponta de lança), mas isso não chega: Trubin precisa de melhor concorrência na baliza e dependendo do que aconteça a nível de vendas não será surpreendente se chegar à Luz mais um médio (mediante saída de João Neves ou Florentino), mais um avançado (se saírem Arthur Cabral e Tengstedt) e um central (se saírem António Silva e/ou Morato).
Ainda é cedo para antever qual será o encaixe das águias poderão fazer no mercado estival, mas é evidente que as vendas terão de ser superiores às compras porque os atuais custos da SAD assim o obrigam (caso a administração pretenda continuar a apresentar contas positivas). Ora, imaginando que o Benfica poderá ter de contratar pelo menos meia dúzia de reforços e gastando muito menos do que o fez nos últimos dois anos significa que terá de pagar, em média, menos por cada cara nova – talvez metade. E esta é, precisamente, a maior mudança que se adivinha (ou que se exige) à estrutura: fazer mais e melhor com menos. Por exemplo, contratar um goleador por muito menos que custou Cabral. Esta é a única vantagem da derrota: chamar de volta à terra quem pensa ter asas resistentes a todos os ventos.
Mas se no Benfica já se percebeu quais são as diretrizes – tal como no Sporting, cuja ordem é para bater recorde de investimento – no FC Porto reside uma grande curiosidade sobre a forma como o clube, agora sob a liderança de André Villas-Boas, vai movimentar-se no mercado. Mais: quais são as reais capacidades financeiras dos dragões para reforçar a sua equipa. Porque é agora que tudo vai começar a doer: os sorrisos (muitos forçados) da transição darão lugar ao estudo das contas da SAD e é dessa profunda análise que o novo presidente fará as contas ao que pode ou não gastar, sabendo desde já que num mundo tão concorrencial os dragões partem atrás dos rivais, que teoricamente já estão em campo há mais tempo, muito embora pertença ao treinador que agora se vai embora o feito de ter conquistado um título em condições financeiras talvez ainda mais penosas. Esta é vantagem de viver com a míngua: mais eficiência e melhor reação à adversidade.