O fator Amorim nos rivais
Trabalho de Rúben Amorim tem levado o Sporting à conquista de títulos (Maciej Rogowski/IMAGO)

OPINIÃO O fator Amorim nos rivais

OPINIÃO08.05.202409:00

Sporting tem toda a legitimidade para acreditar que pode criar uma hegemonia em Portugal

Não sei se tinha o número preparado, mas Rúben Amorim acertou no momento, nas palavras e na performance: aquele largar de microfone no palco montado no Marquês de Pombal depois de deixar nas entrelinhas que iria continuar em Alvalade na próxima época foi de uma arte cénica de um showman, o que apenas confirma estarmos na presença de um tipo de múltiplos recursos e que, ao contrário do que chegou a prometer na conferência de imprensa anterior ao jogo com o Portimonense, nunca será um treinador aborrecido. Porque não é essa a sua natureza. A mesma sinceridade com que falou sobre a ida a Londres reunir-se com o West Ham é a mesma que expôs quando admitiu estar «perdido» sobre o futuro, mas é também esta transparência que faz a maior parte dos adeptos dos leões acreditar que ele vai mesmo ficar. E porquê? Porque, mesmo de uma forma dissimulada, disse-o. Nele, a palavra parece ter um valor facial maior.

Pelo que me é dado a perceber, para os sportinguistas este título de campeão não representa apenas mais um campeonato, mas a convicção de que está a começar qualquer coisa maior que um título. Ficando Amorim, apodera-se a ideia da possibilidade de uma hegemonia em Portugal num determinado período temporal, algo que nunca entraria no vocabulário do adepto mais otimista com menos de 70 anos. Não foi por acaso que o treinador falou no termo bicampeão: esta é uma expressão que desapareceu dos anos 50 do século passado, a última vez que o Sporting conseguiu vencer títulos de forma consecutiva. O facto de recolocar no imaginário coletivo leonino essa possibilidade representa, por si só, uma revolução cultural no clube, marcada por décadas de ressentimento, o tipo de mentalidade que no seu espectro mais amplo abriu alas para a vaga populista com os resultados que são conhecidos.

Não sabendo o que disse Frederico Varandas a Rúben Amorim, não é porém difícil de adivinhar: o Sporting tem toda a legitimidade para acreditar de que é neste momento o clube mais forte em Portugal. Porque, com Amorim, não tem apenas o melhor treinador e gestor de recursos humanos; tem também uma estabilidade que parece faltar aos rivais: o FC Porto ameaça passar por um período difícil de transição (nenhuma mudança a fundo se faz sem custos) e o Benfica continua a ter uma certa atração pela convulsão, a qual dificilmente diminuirá à medida que as eleições de 2025 entrarem em força nos mais variados fóruns de discussão.

Quando saiu do Sporting em novembro de 2009, Paulo Bento admitiu que a pré-época do Benfica de Jorge Jesus causou uma «depressão» nos leões, como se olhassem para o adversário e vizinho e vissem uma montanha impossível de escalar. Não sabemos até que ponto a continuidade de Amorim pode ter impacto na gestão dos rivais, mas é certo que, no caso da continuidade ou não de Roger Schmidt no Benfica, Rui Costa irá pesar não apenas a capacidade de o treinador alemão melhorar a sua equipa, mas se ele conseguirá vergar um adversário que parece ter voltado a ser grande. Porque, convenhamos: o Sporting de Amorim tem muito mais a ver com 2024 do que com 2023.