O escudo de Varandas
Frederico Varandas e Rúben Amorim a 5 de março de 2020, quando o técnico foi apresentado em Alvalade (Foto: Sérgio Miguel Santos)

O escudo de Varandas

OPINIÃO24.04.202409:00

Evitar vozes críticas que andaram caladas será o grande desafio do presidente do Sporting se perder o seu ‘Pedroto’

Há decisões que marcam uma carreira e a contratação de Rúben Amorim representou, para Frederico Varandas, o mesmo que Pedroto para Pinto da Costa. Ainda sem ter os 40 anos completados, o jovem treinador prepara-se para ser bicampeão nos leões, algo que aconteceu pela última vez há 72 anos, sob o comando do inglês Randolph Galloway, entre 1950 e 1952. E antes dele apenas Joseph Szabo tinha-o conseguido, embora não em duas épocas consecutivas. Ou seja, o antigo treinador do SC Braga deverá tornar-se o primeiro técnico português bicampeão no Sporting (considerando que Juca o foi na condição de braço direito de Otto Glória).

Se dúvidas houvesse que são os títulos e estabilidade numa equipa de futebol que alavancam a restante gestão empresarial, o Sporting dos últimos anos é o perfeito exemplo: nota-se em muitos detalhes que está um clube mais moderno, mais ágil e financeiramente mais estável. O leão de 2020 é muito diferente de 2024 e tudo assentou numa escolha: um treinador que faria a roda girar.

É, pois, muito natural que muitos sportinguistas temam a partida de Amorim. Não só por causa dos méritos de um homem que parece ter nascido para esta função (a de jogador profissional foi apenas um ensaio), mas também por culpa dos erros de casting do jovem presidente que precederam a chegada de Rúben. Marcel Keizer ou Jesé Rodríguez ainda são nomes muito presentes na memória coletiva verde e branca.

Nada ainda está fechado, mas a possibilidade de o futuro treinador campeão sair para Inglaterra é cada vez maior, razão pela qual vai colocar-se porventura um desafio ao presidente leonino tão ou mais exigente do que pegar num clube em cacos após o furacão Bruno de Carvalho. Varandas terá de mostrar à saciedade que a sua liderança é superior à força de qualquer treinador; de que o Sporting é maior que a gravitas de Amorim.

Dito isto deste modo parece um cliché, mas quem conhece o pulsar leonino sabe há uma tendência histórica para um certo dramatismo, forjada em anos consecutivos de deceções – basta recordar, por exemplo, o caso de Balakov, recentemente entrevistado por A BOLA: foi um dos melhores estrangeiros de sempre do futebol português, integrou excelentes plantéis, mas só ganhou uma Taça de Portugal.

Saindo Amorim, é um escudo de Varandas que desaparece e que tão bem o protegeu, a ponto de se ter criado a ideia (provavelmente injusta) de que o atual líder dos leões só sobreviveu no lugar e de uma fação mais extremista e ruidosa graças à capacidade aglutinadora do treinador. Por outras palavras, um presidente que sempre teve pouca margem para errar.

Por outro lado não será expectável que a escolha de um eventual sucessor incorra nos erros do passado recente. É certo que a tarefa de quem vier a seguir a Amorim será muito difícil e não há treinadores iguais, mas mais que os resultados será o perfil de treinador escolhido que vai ajudar a perceber (ou confirmar) que o Sporting tem uma estratégia desportiva muito clara, acima das qualidades do português.

Será seguramente uma separação difícil e vai gerar um sentimento de orfandade, mas, como diz o povo: mas difícil do que chegar lá acima é manter-se no topo.