Opinião Este Sporting não é uma equipa

OPINIÃO06.12.202409:30

Pedro Gonçalves recorreu a uma máxima de Ruben Amorim para apelar à união em dia de prova de fogo: «Só nos ganham se deixarmos de ser uma equipa.» Ninguém lhe fez caso. Este é o 'Nunca Mais é Sábado', espaço de opinião de Nuno Raposo

Ruben Amorim ia deixar o Sporting um dia. Disse-nos o treinador, na altura de prematuramente ir para o Manchester United, que estava decidido ser no final desta época — nunca no entanto foi bem explicado como, porque o contrato que o ligava aos verdes e brancos só terminava em 2026, apenas disse que estava acordado assim com o presidente Frederico Varandas, sem sabermos os termos para tal.

Ruben Amorim ia deixar o Sporting um dia e nesse dia o Sporting iria sentir muito a sua falta. Ruben Amorim ia deixar o Sporting um dia e, quando deixou, o leão perdeu dois jogos em três. O novo técnico, João Pereira, logo em prova de fogo ao segundo jogo na Liga, com o Moreirense, o quarto desde que orienta a equipa A. E nova derrota!

Mas não foi só sem Ruben Amorim que o Sporting ficou desde o dia 10 de novembro, o da despedida do técnico em Braga, 4-2 em reviravolta hollywoodesca. Nesse dia, o Sporting perdeu também Pedro Gonçalves, lesionado — só volta no início de 2025. E essa perda tem sido pouco relevada. Quando não devia. Pelo que Pote empresta à equipa em campo, elemento fundamental no trio de ataque a permitir golos a Gyokeres, a ele mesmo os marcar — é nesta altura o 3.º melhor marcador da equipa, com cinco, só atrás dos pontas de lança Gyokeres (25) e Conrad Harder (6) —, nos desequilíbrios que é capaz de criar, tanto na frente como quando aparece entre linhas.

Pedro Gonçalves, porém, não é importante apenas dentro de campo. Não faz parte da estrutura de capitães que Hjulmand muito bem lidera, com Daniel Bragança e Gonçalo Inácio, mas é sem dúvida um dos elementos com voz mais ativa, e ouvida, no grupo. E não foi apenas para ficar bonito nas redes sociais que esta quinta-feira, dia do jogo em Moreira de Cónegos, prova de fogo para o Sporting, deixou mensagem.

«Vamos, amigos. Só nos ganham se deixarmos de ser uma equipa.»

Numa altura em que João Pereira se mete a jeito para justificar como desporto nacional as críticas de que é alvo — dos adversários a torcer pela queda do rival aos próprios sportinguistas, agora deprimidos como noutros tempos, passando pelos críticos adivinhos do totobola à segunda-feira e ávidos de sangue —, Pedro Gonçalves, mesmo distante, falou ao grupo, à sua união que antes parecia inabalável. Sim, ter um líder como Amorim é meio caminho andado para esse espírito, mas como disse Hjulmand, «é um desafio ganhar o campeonato sem ele». «A vida continua e queremos demonstrar que já não precisamos dele», atirou o dinamarquês. Pois então seria esta a hora de os jogadores também mostrarem a fibra de que são feitos. Porque a prova de fogo é também para eles.

O mote cedo deixado por Pedro Gonçalves em dia de jogo onde o Benfica empatou e o FC Porto foi eliminado na Taça de Portugal deveria ter servido para agregar. O golo aos 12' também, só que outro sofrido aos 19' destapou as feridas deixadas pelas duas derrotas anteriores e pelo facto de os jogadores se sentirem órfãos de quem os criou e saiu para outras paragens.

Curiosamente, Pedro Gonçalves recorreu a uma frase dita por Amorim no balneário, durante a corrida ao título da época 2020/2021, para motivar o grupo agora liderado por João Pereira. «Só nos ganham se deixarmos de ser uma equipa.» E a verdade é que este Sporting está a deixar de ser uma equipa. Jogadores ansiosos, pouco confiantes, jogo a não fluir, nervos que fazem desde cedo contestar qualquer decisão do árbitro… Tudo exemplos de quando um grupo deixa de ser uma equipa.

Cabe a João Pereira conseguir dar o toque a reunir, que já não tem muito tempo, pois a paciência de muitos já se esgotou, de outros está no limite e num clube grande não há tempo para mais. Cabe a João Pereira e aos jogadores parar e respirar fundo para encontrar o que eram ainda há menos de um mês. E se para isso for preciso ir às máximas (dentro e fora de campo) de Amorim, não há mal nenhum nisso...