Este é o nosso caminho!...

OPINIÃO17.07.202206:30

Importa também falar das entradas, que mais uma vez, na era Amorim, se fizeram tranquila

 pouco mais de um mês, concretamente no início do mês de Junho, escrevi sobre a tranquilidade que vivia perante o terminar de uma época desportiva e o começo da de 2022/2023 com uma tranquilidade que há muito não sentia, mesmo que há muitos anos não tivesse funções (como não tenho) no clube ou na SAD. E isto porque, mesmo não tendo responsabilidades directivas ou de outra natureza, não deixo de viver e de me preocupar com o que se passa no meu clube.

No início da época que terminou em 30 de Junho passado nem tive tempo para pensar muito no que se iria passar em 2021/2022, porque o sabor da vitória no Campeonato Nacional ou de Portugal, ora denominado Liga, depois de tantos anos, ainda permanecia e, portanto, não tinha tempo para preocupações. Além do mais, o treinador Rúben Amorim permanecia, apenas se verificou a transferência de Nuno Mendes - um bom negócio, com o adicional de um Sarabia para nos encantar - e confiava no olho cirúrgico de Rúben e da sua equipa para encontrar outras e novas soluções. Vivi a época tranquilamente, confiante na vitória final, apenas um pouco abalada quando a distância passou aos seis pontos. Mesmo assim, a minha esperança só se desvaneceu naquele jogo de má memória no Dragão, quando o árbitro entendeu inclinar o campo a favor da equipa de casa!...

De resto, cumpriram-se alguns objectivos, designadamente, a conquista da Taça da Liga e a entrada directa na Liga dos Campeões, ainda que por força de um segundo lugar que, desportivamente, não é evidentemente a mesma coisa que ser campeão. Mas manteve-se a estabilidade e competividade que, francamente, há dois ou três anos não pensava ser possível.

E depois de um defeso tranquilo e estável, com a garantia da continuidade de Rúben Amorim e, até agora - e espero que assim seja até 31 de Agosto -, com uma única saída não desejada por mim (e muita gente mais): Palhinha. Eu, e muitos mais, não desejávamos a saída de Palhinha, mas o certo é que ele o desejou, legitimamente, e merece que nós tenhamos atendido esse seu desejo. Só tenho pena que tendo saído para um campeonato maior, não o tenha feito para um clube maior. Desejo-lhe toda a felicidade nesta fase da sua carreira, e este é certamente o desejo de toda a família leonina, particularmente, daqueles que assistiram à sua despedida em lágrimas. Comoveu-me a mim e a muitos mais, porque mostrou gratidão, depois de ter honrado a camisola que envergou. São assim os homens de carácter, de um carácter que se encontra cada vez mais ausente. Espero que um dia voltes!...
 

Trincão foi o último reforço a chegar ao plantel de Rúben Amorim depois de uma negociação bem sucedida por parte da Direção 


Tem-se falado muito da saída de Matheus Nunes e aí, honestamente, já será saída a mais, pese embora os muitos milhões que possa render. Acho, porém, que poderá render ainda mais na óptica dos milhões, com a vantagem de o Sporting poder obter dele, pelo menos mais uma época, rendimento desportivo. Tanto quanto me apercebo, Matheus Nunes parece ter bom senso relativamente ao momento em que deve sair e ao tipo de clube que quer. Não gostaria de o perder já, e, muito provavelmente, Rúben Amorim também não. Espero que a vontade dos dirigentes, particularmente de Frederico Varandas, de Rúben Amorim, Matheus Nunes e dos associados, coincida e fiquemos todos felizes e mais fortes para enfrentarmos não só os nossos adversários, como, sobretudo, os nossos inimigos que tão incomodados se mostram com o nosso equilíbrio e estabilidade, pese embora o cinismo dos seus votos para que o Sporting seja forte!...

Falamos de saídas ou possíveis saídas, sem grandes sobressaltos, e importa agora falar das entradas, que mais uma vez, na era Amorim, se fizeram tranquila e cirurgicamente, e não entradas porque é preciso animar a malta, como diria o Zeca Afonso. Foram, efectivamente, entradas cirúrgicas, porque dentro de casa há uma outra porta aberta aos jogadores da formação: a porta que Rúben, numa das suas mensagens mais felizes e acutilantes, deixou aberta aos jovens candidatos a jogadores profissionais de futebol, no dia em que, com a audácia que se lhe reconhece, e na altura me fez tremer, lançou o Dario Essugo na primeira categoria, como soe dizer-se. Olhem como está crescido aquele menino, agora de 17 anos!...

A propósito de formação, foi com enorme curiosidade e atenção que segui o jogo em que empatámos com a formação belga. Fiquei extremamente agradado com a qualidade e vontade que por ali anda. Eu não perceberei muito de futebol, mas acho que passa por eles, e por muitos mais, um futuro tranquilo do clube. Assim o queiramos todos!...

Como me deu prazer ver o Coates e o Neto no meio deles. Só pensei como seria agradável, noutros sectores da sociedade e da vida, ver esta convivência das gerações e não conflitos completamente inúteis, criados por pessoas totalmente incompetentes, qualquer que seja a sua geração. É tão triste ver os disparates que dividem a sociedade!...

Isto foi na quarta-feira, em que adormeci alegre e tranquilo, porque trilhando um caminho desportivo que está correcto, sem prejuízo de continuar a entender que é necessário encontrar um caminho para a robustez económico-financeira, que nos permita reter mais tempo o talento e assim aspirar a uma posição sólida no panorama europeu. Temos talento na equipa técnica, temos talento na matéria prima que joga, temos nós, associados, que ter talento para continuar a merecer o talento deles. É este o nosso maior desafio na actualidade!...

Em matéria de entradas, não posso deixar de manifestar o meu agrado pelas contratações de Rochinha e Morita, mas, sobretudo, pela vinda de Trincão, pelo que ela tem de simbólico, de ambição e satisfação de um desejo, que terminou num negócio bem engendrado e bom para todos, e por muitos - até adversários - elogiado. Apenas com a excepção de alguns que para disfarçarem o teor de cláusulas suspeitas chamam a atenção para uma disposição, que aliás não conheço, que tem como pressuposto a descida de divisão. Noutras circunstâncias, acho que se poderia considerar humilhante. Mas o que o passado recente mostra é que andaram bem os nossos dirigentes em prevenir determinadas situações por mais incompreensíveis que sejam. Se os corporativistas da Assembleia Geral da FPF nos tiram títulos, por que não lhes passar pela cabeça mandar-nos para a segunda liga? Falem com o furriel...

E quero terminar hoje falando de um evento ocorrido há quize dias, já depois da publicação da minha crónica, sendo que, na semana passada, por razões profissionais, dei uma folga aos meus pacientes leitores. Refiro-me ao Sarau da Ginástica do Sporting Clube de Portugal, um grande espectáculo em qualquer parte e uma manifestação de grandiosidade que nos deixa a todos orgulhosos. A mim, além disso, avô babado de ver os seus netos gémeos, Francisco e Maria, com 3 anos e meio, sócios do Sporting desde os primeiros minutos de vida, e já ginastas, na continuidade dos pais, que praticam ginástica no clube desde tenra idade, aí se conheceram e, em consequência, se casaram, não foi possível conter uma lágrima de emoção pelo que isso significa: as gerações sucedem-se, e a instituição mantém-se na altivez com que encara o esforço, a devoção, a dedicação e a glória.
Há quem não saiba, mas os primeiros estatutos do SCP apontavam como principal fim do clube a educação física dos associados, designadamente a ginástica. Foi na era de João Rocha que ele, Matos de Oliveira e Reis Pinto deram um enorme incremento à ginástica, com largos benefícios para o engrossamento da massa associativa, nomeadamente, com elementos oriundos de famílias de outras cores.

João Rocha interpretou bem esse desígnio dos primeiros estatutos e pode agora ver, onde quer se encontre, o pavilhão com o seu nome, cheio dos dedicados ginastas do Sporting. Este, um segundo momento da minha emoção, que viria a terminar num terceiro, assente em 116 anos verdadeiros de história, e de olhos postos num futuro que defenderá esse passado, e que nenhuma assembleia, seja ela qual for, poderá apagar.

«Para onde vai um vão todos» - e o caminho, o nosso caminho, é o da verdade histórica e da verdade desportiva, custe o que custar!