Dias claros noites em branco
«Quando eu nasci, as frases que hão de salvar a humanidade estavam todas escritas. Só faltava uma coisa - salvar a humanidade.» Esta frase é dum dos maiores pensadores do século XX, José de Almada Negreiros, no livro A Invenção do Dia Claro e, salvo as devidas e as enormes distâncias entre o futebol e a humanidade, pode ser aplicada aos clubes, no caso aos dois grandes de Lisboa.
No caso do Sporting toda a gente tem a solução para tirar o clube da depressão no futebol profissional e levá-lo ao título que foge há 17 anos, a caminho dos 18. Basta ouvir qualquer putativo candidato à cadeira presidencial para atestar a veracidade desta frase. Andando cerca de um quilómetro para oeste, aterra-se no Estádio da Luz e na dimensão europeia ou nem por isso do Benfica. Luís Filipe Vieira continua a bater no peito e a reclamar ter salvo o Benfica, mas depois dos títulos nacionais falta dar um passo em frente para aquilo que os sócios tanto anseiam, respaldados num passado europeu glorioso mas que já vai com quase… 60 anos. Tanto num caso como no outro, a forma mais fácil de chegar ao objetivo é com algo tão frio e por vezes vil como o dinheiro. Pode ir-se por caminho mais difícil, mas que exige mais criatividade de quem o define e mais paciência de quem espera pelos resultados.
No Benfica, por exemplo, parece óbvio que este plantel é mais débil do que o de há nove anos - o de 2009/2010, no primeiro título de Jorge Jesus. No Sporting, este plantel, por força das circunstâncias mas também de muita inépcia, é dos mais débeis da última década.
Como a humanidade inventou o dinheiro e este não nasce nas paredes, não cai das árvores nem pode ser semeado, para que os dois grandes de Lisboa cheguem aos objetivos propostos - no caso do Sporting aproximar-se dos outros dois grandes, no do Benfica dos gigantes europeus - têm de passar muitas noites… em claro para que os dias sejam claros.