OPINIÃO De futebol sabe Rui Costa
Verdadeiramente importante é o trabalho de Roger Schmidt a partir do momento em que foi contratado pelo Benfica e, até ver, o saldo é positivo
Não aconteceu uma desgraça em Moreira de Cónegos e Roger Schmidt tem razão ao afirmar que o Benfica teve oportunidades para marcar, tal como o seu brioso adversário, que até entrou melhor no jogo, controlando, assumindo a iniciativa e perturbando os encarnados, no primeiro quarto de hora.
O treinador alemão começa a empurrar com a barriga um problema por ele criado e para o qual não encontra solução. Há três jornadas, quando empatou na Luz com o Casa Pia, disse mais ou menos o mesmo: «Tivemos grandes oportunidades mas não decidimos o jogo.»
Na antevisão desse jogo, Schmidt confessou perceber a frustração dos adeptos, mas não sentia o lugar em risco. Agora, antes de defrontar o Moreirense, foi mais ousado na arte de prometer, afirmando que «toda a gente vê que estamos a melhorar», o que significa que «estamos de volta» e a posição na Liga (liderança) é «a consequência disso».
Apesar deste discurso positivo, não fica bem a Schmidt continuar a lamentar-se pelos jogadores que saíram (Enzo Fernández, Grimaldo e Gonçalo Ramos), em vez de integrar e motivar os que entraram e pôr na ordem os que se julgam com estatuto para afrontarem os adeptos, como mais uma vez sucedeu com Rafa Silva.
Vistas as coisas com a sensatez necessária, repito-me, nenhuma desgraça aconteceu. O empate espelha o equilíbrio observado, com mérito para o Moreirense que jogou muito bem. Já o tinha feito diante do FC Porto, mas está mais adulto. Praticou um futebol harmonioso, flexível e que se sente confortável em todos os espaços do campo. Rui Borges tem todos os motivos para se considerar um treinador feliz e não mentiu ao declarar que a sua equipa, em função das oportunidades criadas, poderia ter «saído com golos», isto é, ter vencido o jogo.
Escrevi neste espaço, não me recordo quando, que estaria na hora de Rui Costa ter uma conversa séria com Roger Schmidt, de patrão para empregado, e aclarar uma série de pontos mal esclarecidos. O presidente continua a ter total confiança no seu treinador, mas é preciso que este lhe retribua, de modo a justificar a renovação de contrato por números generosos e nivelados por padrões europeus.
Foi uma aposta de risco, admito, porque antes de chegar ao Benfica, em termos de títulos, o currículo do alemão era assim como o futebol que a equipa pratica, pobrezinho. Mas isso assume pouca relevância e deve sossegar os adeptos, porque de futebol e de treinadores sabe Rui Costa. Verdadeiramente importante é o trabalho de Schmidt a partir do momento em que foi contratado e, até ver, o saldo é positivo.
Pouco nobre
Um dos temas mais aguardados na próxima conversa em família que o Conselho de Arbitragem promove, uma vez por mês, para dar conhecimento público das conversas entre árbitros de campo e VAR em todos os lances avaliados no ecrã disponível no relvado, terá a ver com o penálti que devia ter sido assinalado e não foi contra o FC Porto, no jogo com o Famalicão, por intervenção irregular de Eustáquio na grande área portista.
Assim lido, creio que o caso em apreço nem se enquadra no espírito da redação do comunicado do CA. Apesar da Imprensa de Lisboa, expressão que me ocorre à boleia da ironia do presidente portista, ter considerado que ficou pontapé de penálti por assinalar a favor do Famalicão, por infração de Eustáquio, o qual, na sua área, desviou com o braço, zona do cotovelo, um remate de Gustavo Sá, a verdade é que o lance não foi avaliado no ecrã disponível no estádio. Provavelmente, por ser tudo demasiado claro, no entendimento de árbitro e VAR.
O árbitro António Nobre, pelo gesto que fez, e dono da certeza, mandou seguir. Na opinião dele, a bola bateu no peito de Eustáquio, tudo legal, portanto. Em relação a Rui Costa, o VAR, depreende-se que a observação que fez coincide com a opinião do árbitro, mas só saberemos quando o som da conversa for divulgado. Se é que houve conversa!...
O especialista Duarte Gomes escreveu em A BOLA que ficou um «pontapé de penálti por assinalar (nas imagens claro e óbvio), que pressupunha intervenção do VAR». Neste sentido, para nenhuma dúvida subsistir, nada melhor do que tornar pública a comunicação entre ambos.
Igualmente reprovável foi a dualidade de critérios em dois lances muito semelhantes e também com influência na história do jogo. Zaydou Youssouf teve entrada antidesportiva (pisão fora de tempo) sobre João Mendes, viu o segundo amarelo e consequente vermelho. Tudo correto, mas, vinte e tal minutos antes, Evanilson pontapeou Gustavo Sá na zona do tendão de Aquiles, uma falta considerada grosseira e perigosa que justificaria o cartão vermelho. António Nobre, porém, foi de uma doçura inexplicável, talvez devido à zona do campo em que a falta foi praticada…
Não saiu cartão de nenhuma cor do bolso do árbitro, mas teve de sair de campo o jogador famalicense, logo a seguir, fisicamente limitado. Assim, Sérgio Conceição lá saberá por que disse, no final da partida, que não se importava de ganhar por meio a zero. É que da outra metade devem tratar os nobres do antigo reino do Bonjardim…