Da «portização do Benfica» à ‘evertonização’ do Man. United

OPINIÃO10:44

Ou de como a ascensão de Liverpool e City ajudaram ‘blues’ e ‘red devils’ a definhar...

A propósito da muito escrutinada expressão «portização do Benfica», usada por Frederico Varandas em entrevista à RTP e que teve direito a rápidas e incisivas reações dos clubes visados, surgiu em conversa com o meu companheiro de redação (e merecedor, garanto-vos, do prémio revelação do jornalismo 2024), Francisco Alves Tavares, um tema de discussão bem mais do nosso agrado: a evertonização do Manchester United.

E o que é, então, este processo de evertonização dos red devils e do seu histórico e enorme emblema da metrópole do noroeste de Inglaterra? É simples. Antes de mais, trata-se da inquestionável perda gradual e contínua de influência e, sobretudo, de conquistas para o grande rival, neste caso o Man. City.

Gary Stevens, em 1987, com o último troféu de campeão do Everton, então ainda uma potência da cidade de Liverpool e de Inglaterra (foto: Imago)

Ora, o Everton — os blues da cidade de Liverpool, vizinha de Manchester, da qual não dista mais do que 50 quilómetros — é um clube com uma história riquíssima e plena de glórias que, ainda hoje, fazem dele o quinto da lista de equipas mais vezes campeãs de Inglaterra, com um total de nove títulos, num registo iniciado em 1890/1891 (o Everton foi o terceiro campeão inglês, depois de dois títulos do Preston North End), porém terminado em 1986/1987. Ou seja, os toffees não conquistam o título há quase 40 anos.

Um pouco antes, no final dos anos 60 do século passado, o Liverpool somava o mesmo número de campeonatos ganhos pelo Everton (7), mas, desde então, acrescentou 12 aos registos, somando hoje um total de 19, sendo rei e senhor da cidade e um dos maiores colossos de Inglaterra e da Europa.

O Manchester United foi campeão pela última vez em 2012/2013, a última época de Alex Ferguson (foto: Imago)

Pois a última década em Manchester apresenta-nos cenário semelhante: um United em queda à mesma proporção da ascenção do seu grande rival. As contas são simples: quando em 2010/2011, em pleno período de ouro da era Alex Ferguson, os red devils conquistaram o seu 19.º e penúltimo título, o City tinha no seu museu somente dois troféus de campeão inglês, conquistados em 1936/37 e em 1967/1968 — curiosamente a época em que a formação de Old Trafford se sagrou campeã europeia pela primeira vez, após bater, na final em Wembley, o Benfica por 4-1, após prolongamento.

Desde 2010/11, isto é, nos últimos 14 anos, tudo mudou: o United venceu a Premier League apenas mais uma vez — em 2012/13, o último de 27 anos de Sir Alex no comando — ao passo que o City engordou a sua vitrina de troféus de campeão com mais 8, somando hoje 10, numa caminhada que, na última temporada, levou os citizens à glória europeia há muito desejada na Champions. Os red devils órfãos de Ferguson definham, os sky blues com Pep Guardiola no leme tornaram-se numa potência mundial.

A frustração tem sido um sentimento crescente na última década em Old Trafford (foto: Imago)

Em tempos idos, muito se falava por cá da belenensização do Sporting, por conta dos longos anos de jejum de títulos de campeão — apenas dois entre 1982 e 2020 (os de 1999/00 e 2001/02), ou seja, no espaço de 38 temporadas. A chegada do tridente formado por Amorim, Varandas e Viana parece ter silenciado os arautos da desgraça por cá e, noutro plano, pode permitir vaticinar que também em Manchester a situação poderá, um dia, inverter-se.

Mas o que esperar de um clube histórico como o United que, não satisfeito com tão longo período a ver o rival celebrar ano após ano, uma das medidas que toma é afastar do clube a sua maior figura de sempre, Alex Ferguson? Pois… não se augura grande sucesso, pelo menos num futuro próximo.