Copo meio cheio
Benfica opta por manter no plantel todas as opções que tão boa resposta têm dado esta época...
Ésabido e já aqui fiz alusão a isto. Há uma tese bastante popular segundo a qual quem não se entusiasma com este Benfica e decide criticar a atual direção, os jogadores ou a equipa técnica é automaticamente visto como um inimigo do Benfica ou alguém que pretende beneficiar dos insucessos do clube. Por isso, esta semana decidi fazer diferente e procurar ver o copo meio cheio.
Depois de uma exibição dominadora frente ao Boavista na meia-final da Taça da Liga, a equipa acabou por ser condicionada pelos regulamentos, que obrigaram à marcação de penátis quando tudo parecia indicar uma goleada categórica aos boavisteiros em jogo corrido.
Já na final da prova, a equipa do Benfica marcou primeiro e criou numerosas oportunidades de golo, como afirmado pelo nosso treinador no final. Infelizmente passámos ao lado de mais uma goleada, desta vez ao Sporting, e acabaríamos a sofrer o infortúnio de terminar a partida com menos golos do que o adversário, não tendo por isso recebido a taça de maior dimensão que se encontrava no estádio. Ainda assim, vimos alguns laivos que contrariam a típica narrativa absolutista de vencedor vs. derrotado que carateriza este tipo de jogo e que os organizadores da prova lamentavelmente tentaram impor. Apesar desses condicionamentos, vimos algumas exibições individuais que ameaçam dar ao Benfica as condições para voltar a vencer o Sporting algures no futuro. De saudar também a discrição de Rui Costa no final do jogo. O presidente optou por não estar presente na entrega do troféu, uma decisão que provocou alguma celeuma entre adeptos do desportivismo. O que os críticos não perceberam é que Rui Costa quis simplesmente dar o protagonismo às verdadeiras estrelas, os atletas. Este altruísmo terá sido mal interpretado, mas a verdade vem sempre ao de cima.
Em vésperas de novo jogo para o campeonato, os adeptos anseiam ver evoluir o futebol desta equipa e, mesmo sabendo que tem faltado à equipa qualidade, atitude, alegria, entrosamento, uma ideia de jogo clara ou níveis de energia necessários para fazer a diferença em alta competição, a verdade é que adeptos e equipa continuam unidos em torno do grande objetivo comum: começar a jogar à bola, se possível ainda em 2022. A expectativa é que tal possa vir a acontecer.
Vasco Mendonça escreve, com ironia, que o Benfica passou ao lado de aplicar uma goleada ao Sporting na final da Taça da Liga
A noite foi muito bem passada, na melhor e mais surpreendente companhia. O ex-presidente Luís Filipe Vieira decidiu assistir à final no estádio e pôde tirar selfies e ouvir algumas palavras de apoio por parte dos adeptos de ambos os clubes. O anunciado regresso de Luís Filipe Vieira ao Benfica, ou tentativa de retomar a presidência do clube, é uma excelente notícia para os verdadeiros benfiquistas. Numa altura em que o clube atravessa aquilo que algumas pessoas mais negativas poderão descrever como dificuldades, é reconfortante saber que temos agora duas opções para presidir à direção do clube, com Rui Costa a assumir essa pasta para já, e Luís Filipe Vieira de reserva caso a situação o justifique. Os relatos de quem esteve nas imediações do estádio também dão conta de um desaguisado com alegados críticos da gestão de Vieira, situação que carece de esclarecimentos - seriam figurantes? A ser verdade, tal situação representa mais um triste exemplo de ingratidão e falta de memória.
O calendário desportivo nacional continua a ser aproveitado da melhor forma e cada jogo realizado é mais uma oportunidade para a equipa técnica aprender e garantir a preparação que este tipo de prova exige. Não é ainda certo quando teremos condições para vencer jogos consecutivos, mas os sinais são promissores e será só uma questão de tempo. Feitas as contas, o que sabemos hoje é que o Benfica continua a depender exclusivamente de si para obter a totalidade dos pontos em disputa nos jogos que lhe restam. Devemos aplaudir o trabalho silencioso que vem sendo realizado para garantir que a equipa comparece em todos os jogos.
A semana prosseguiu com uma atuação cirúrgica em dia de fecho do mercado. Além das cedências oportunas de alguns atletas da formação a título de empréstimo ou a título definitivo, a direção desportiva fintou tudo e todos optando estrategicamente por não realizar nenhuma venda significativa e decidiu ainda não contratar ninguém para a primeira equipa. Os motivos são simples e devem ser enaltecidos. Ao invés de introduzir fatores de instabilidade com a contratação de novos atletas que poderiam ou não ser uma mais valia, a direção desportiva optou e bem por garantir a estabilidade necessária para que tudo fique exatamente como está, até eventualmente deixar de estar. Enquanto uns mordem o isco e falam em «investir» ou em «reforçar» plantéis (que cliché!»), o Benfica ignora as ideias feitas do mercado de transferências e opta antes por manter no plantel todas as opções que tão boa resposta têm dado esta época. Os cínicos diriam que é um plantel grande demais e simultaneamente curto. Eu diria que se trata de uma grande família que importa acarinhar.
Foi mais ou menos isto que se passou esta semana, não foi? Que é como quem diz, está tudo bem e não há grande motivo para preocupação. Era capaz de me habituar a esta perspetiva copo-meio-cheio do mundo, se ao menos esta tivesse um pingo de realidade.