As perguntas que eu faria

OPINIÃO11.01.202205:55

O Benfica e aqueles que o lideram estão a ser completamente ultrapassados pelos acontecimentos

SE há uma semana questionei a estratégia de comunicação do clube num momento de tão grande fragilidade, só posso reforçar a preocupação que sinto hoje. À hora em que escrevo novo texto, o Benfica é vítima de mais uma exposição pública que corresponde a uma violação grosseira do segredo de justiça. Infelizmente, a forma como esse conteúdo tem vindo a ser distribuído e amplificado por muitos órgãos de comunicação social impede qualquer benfiquista de desviar totalmente o olhar. O Benfica e aqueles que o lideram estão a ser completamente ultrapassados pelos acontecimentos. Como dizia um adepto há poucos dias ao microfone de um canal televisivo enquanto se preparava para assistir ao Benfica-Paços de Ferreira, a situação hoje é sobre muito mais do que ganhar jogos. É sobre a dimensão institucional e reputacional do clube, é sobre a capacidade de exercer uma liderança, e perceber se conseguimos seguir em frente ou se vamos continuar a deixar que estas areias movediças nos afundem. É por tudo isso que devo salientar a importância da entrevista que Rui Costa se prepara para dar amanhã. Vejo-a como uma oportunidade única, diria mesmo histórica, para esclarecer os adeptos de forma categórica. Mas, para que tal aconteça, as perguntas não podem ser todas fáceis. E as respostas também não serão, provavelmente. Deixo aqui algumas das que gostaria de ver respondidas amanhã.

1. A 2 de fevereiro de 2021, após uma primeira volta desastrosa, afirmou, e passo a citar, que «é neste preciso momento que se vai ver quem tem capacidade para representar um clube com a dimensão do Benfica, ou não… e este é um aviso para nós, onde eu me incluo». Na mesma linha, disse que «até final da época vamos ver que homens temos dentro de casa». Quase um ano depois, o Rui Costa que fez esta afirmação é hoje presidente do Benfica e encontra-se numa situação igualmente frágil. Sente que o clube tem dentro de casa os homens que são necessários para inverter a atual situação?

2. Afirmou há pouco mais de três meses que o Benfica tem um projeto desportivo bem delineado. Consegue enquadrá-lo de forma simples para que todos os adeptos compreendam e esclarecer se esse projeto está a ser concretizado?

3. Muitos dos que olham hoje para a presença do Benfica nos media sentem que o clube é indefeso face aos ataques de que tem sido alvo. O que pode garantir aos benfiquistas estar disposto a fazer para proteger a instituição?

4. Aquando da sua tomada de posse, anunciou o início de uma nova era da transparência na vida do Benfica e disse que tudo faria para que o clube fosse notícia apenas por bons motivos. Sente que está a cumprir esta promessa?

5. Evitou ao longo destes meses pronunciar-se sobre as muitas questões que envolvem Luís Filipe Vieira, garantindo haver uma auditoria forense em curso. Perante os factos que vão sendo conhecidos, e a urgência de esclarecer os mesmos, como explica que os resultados prometidos para outubro de 2021 não tenham ainda sido apresentados? Quando podemos esperar ver esses resultados?  

6. Muito tem vindo a público sobre a conduta do anterior presidente no exercício de funções, e este tema parece ter vindo para ficar. Perante a fragilização a que Benfica tem sido sujeito, e mesmo sabendo que devemos deixar a justiça operar nos seus termos, não considera que o silêncio ou inação em relação a este tema pode em última análise prejudicar o Benfica?

7. Como reage ao facto de, num contexto como o atual, um vice-presidente da sua direção ter almoçado recentemente com Luís Filipe Vieira?
 
8. Sente que pode ficar permanentemente refém do seu passado conjunto com Luís Filipe Vieira?

9. Imagina algum cenário em que Luís Filipe Vieira possa ser expulso de associado?

10. Continuam a vir a público negócios de aquisição de jogadores e outras operações financeiras que estão a ser investigadas pelo Ministério Público e terão acontecido já quando Rui Costa tinha importantes responsabilidades no planeamento desportivo do futebol profissional. Consegue explicar-nos com maior detalhe aquilo que era concretamente o seu exercício de funções e responsabilidades durante este período?

11. Como explica que o ex-treinador do Benfica Jorge Jesus tenha reunido com dirigentes do Flamengo na véspera de dois jogos decisivos com o Futebol Clube do Porto? Teve conhecimento deste encontro antes de se realizar? Se sim, autorizou a sua realização?

12. Muitos adeptos sentem que a equipa foi prejudicada por esta situação em ambos os jogos contra o FC Porto. Como olha para esse descontentamento, sabendo da importância que estes dois jogos tinham em termos desportivos e também identitários?

13. Se fosse um mero sócio ou adepto do Benfica e estivesse a assistir a um FC Porto-Benfica, o que teria pensado se visse o presidente do seu clube, em dezembro de 2021, abraçar Pinto da Costa?

14. Alguns dos seus críticos dizem que o Rui Costa tem de levar a cabo uma limpeza muito maior se quer realmente fazer a mudança de que o Benfica precisa. Sente que o clube já é fundamentalmente diferente desde a sua tomada de posse como presidente ou, por outra, dispõe-se a fazer mais para acentuar essa mudança de ciclo?