As duas regras e o Dia do Orgasmo
A pré-época que se dane. O que verdadeiramente interessa surge a 9 de agosto, 27 de janeiro, 18/19 e 26 de maio. E o grande bibota Gomes!
DIZEM que há duas regras importantíssimas no mundo da gestão. A primeira é: nunca perder dinheiro. A segunda é: nunca esquecer a primeira regra. No futebol há muito mais regras, mas os adeptos, geralmente, têm apenas duas. A primeira é: ganhar. A segunda é: nunca esquecer a primeira regra. Há imensos anos que nos jogos de pré-época também utilizo duas regras. A primeira é: estou-me nas tintas para os resultados e as exibições. A segunda é: nunca esquecer a primeira regra. Dou um exemplo. Há 13 anos, o Benfica vinha de um supercampeonato 2009/2010 com Jorge Jesus (mais Maxi Pereira, Luisão, David Luiz, Fábio Coentrão, Javi García, Ramires, Aimar, Di María, Cardozo, Saviola ou Nuno Gomes) e a conquista da Supertaça Cândido de Oliveira de 2010/2011, frente ao FC Porto de Villas Boas (mais Fucile, Otamendi, Álvaro Pereira, Sapunaru, Guarín, João Moutinho, James Rodríguez, Cristian Rodríguez, Falcao ou Hulk), parecia favas contas. Até porque os encarnados tinham arrancado boas exibições nos jogos de pré-época e as dos azuis foram fraquitas. Porém, a 7 de agosto de 2010, em Aveiro, os dragões inverteram a lógica: 2-0, golos de Rolando e Falcao. Nos nove meses seguintes foi o que se sabe: FC Porto campeão nacional com 21 pontos de avanço, vencedor da Liga Europa e da Taça de Portugal. Para mim, repito, estou-me nas tintas para os resultados e as exibições da pré-época. Valem muito pouco. É como os primeiros quilómetros de uma maratona: valem zero. Há 39 anos, em Los Angeles, Carlos Lopes não apareceu na frente nos primeiros dez quilómetros. Depois, como se sabe, ganhou como quis. Também o grande leão tinha duas regras. A primeira era: ganhar. A segunda era: não esquecer a primeira regra. Grosso modo é assim: Roger Schmidt, Sérgio Conceição, Artur Jorge e Rúben Amorim não se iludam com os resultados e as exibições da pré-época. Se adeptos e jogadores estiverem inchados, metam gelo; se andarem deprimidos, deem-lhes carinho. O que interessa são quatro dias: 9 de agosto de 2023 (Supertaça), 27 de janeiro de 2024 (final da Taça da Liga), 18/19 de maio de 2024 (jornada 34 da Liga) e 26 de maio de 2024 (final da Taça de Portugal). E eventualmente 22 de maio de 2024 (final da Liga Europa) e 1 de junho (final da Liga dos Campeões). Muito eventualmente.
PARECE que hoje, 31 de julho, é Dia do Orgasmo. Homenageamos, pois, um dos portugueses que mais orgasmos tiveram num relvado de futebol e que não tiveram (e bem) qualquer pudor em falar deles: Fernando Mendes Soares Gomes. O Gomes. O bibota. O 9 do FC Porto. O craque dos golos. O homem que, só na Liga portuguesa, teve mais de 300 orgasmos. E que, um dia, disse: «Marcar um golo é como ter um orgasmo.» Há, porém, orgasmos e orgasmos. Os bons e os maus. Quando Pinto da Costa, recentemente, escreveu que os inimigos do FC Porto estavam em Lisboa, os fãs do presidente do FC Porto tiveram um orgasmo bom. Os restantes, os muitos que não gostam dele, tiveram um orgasmo mau e aproveitaram (e muito bem) para criticar aquelas palavras. Faz sentido. Utilizar a palavra inimigos em vez, por exemplo, de adversários diz mais sobre quem a profere do que sobre as pessoas que Jorge Pinto da Costa quis atingir. Porém, há quase 20 anos, na véspera da Supertaça Europeia entre Milan e FC Porto, Rui Costa, então ao serviço dos rossoneri, empregou a mesma expressão: «Após ter vencido Sporting e Benfica, agora toca-me os meus inimigos de sempre, no sentido da rivalidade que sempre houve entre Benfica e FC Porto.» Há, é certo, a nuance do então 10 milanista falar «no sentido de rivalidade», o que dá algum desconto à frase. De qualquer modo, a frase de 28 de agosto de 2003 pode dar origem a orgasmos. Bons e maus.