Quem é Jaime Faria, o português que venceu set a Djokovic no Open da Austrália

TÉNIS07:43

Tenista luso fez história apesar da derrota diante do sérvio

Jaime Faria perdeu com Novak Djokovic no Open da Austrália, mas o modo como enfrentou o sérvio na segunda partida colocou-o no centro das atenções: quebrou por duas vezes o serviço do adversário e venceu no tie break, por 6-7 (4-7).

Quem é, afinal, Jaime Faria, o português de 21 anos, que bateu três tenistas no qualifying do Open da Austrália, festejou como Gyokeres e que depois de vencer Pavel Kotov na estreia em majors deu luta ao histórico Djokovic, vencedor de 24 títulos do Grand Slam?

Número 2 nacional e 125.º do ranking mundial, Jaime Faria despertou para o ténis com apenas cinco anos, quando o pai, Nuno, curador de museus, o levou a assistir a um evento que reuniu antigos tenistas como John McEnroe, Mats Wilander e Marcelo Rios.

«Eu, o meu irmão e todas as crianças ficávamos num lugar dedicado às crianças. No primeiro dia, dissemos 'Queremos ver os jogos, não queremos ficar aqui'. Queríamos ver os jogos, dissemos que iríamos comportar-nos e desfrutámos das lendas a jogar. Foi incrível. Depois pedi ao meu pai para jogar ténis», recordou à ATP o tenista luso.

«Sempre tive a sensação de que queria jogar ténis, mas nunca acreditei, porque nunca fui o melhor da minha idade, nem estava entre os três ou quatro primeiros. Só comecei a vencer alguns atletas melhores quando tinha 16 anos. Sempre tive na minha cabeça que queria jogar e ir para a faculdade, aproveitar essa experiência, estudar. Sempre coloquei os estudos à frente do ténis. A determinada altura, aos 16 anos, isso mudou», contou no passado.

O ténis universitário norte-americano chegou a estar nos planos aos 18 anos, mas Rui Machado convenceu-o a iniciar carreira profissional. E aceitou o desafio. «Disse-me 'Fica connosco. Vais ser bom, acreditamos em ti e tu acreditas em nós. Se quiseres fazê-lo, será o melhor para ti'. Fiquei e foi nesse momento que decidi ser tenista», lembrou.

O caminho não foi fácil e foi na adversidade vivida em 2024, que encontrou forças para reerguer-se. «Entretanto já levei mais uma sova de humildade do ténis. Tive ali uma fase em que saí do rumo que queria ter. Foi mais inconsciente... bom, foi consciente senão teria levado mais tempo a recuperar. Depois de Wimbledon, perdi um bocadinho o rumo que estava a ter, a humildade no trabalho, não foi fácil. Tive ali três, quatro meses sempre a perder nas primeiras rondas, apesar de não estar a jogar mal nos treinos. Sinto que não foi a melhor fase, acabei bem a época, voltei a meter os cavalos todos. Lá está, houve a recompensa do meu trabalho, consegui acabar bem a época, com um título e uma final e colocar-me como cabeça de série na Austrália, aqui no qualifying, que me deu mais chances de me qualificar para o quadro. Isto é tudo um bocado assim», disse à Renascença.

Aos resultados negativos respondeu com 20 vitórias seguidas e quatro títulos de Future, além dos Challengers de Oeiras e Curitiba, que lhe permitiram subir mais de 300 posições num ano.

Entre as armas que lhe são apontadas está o o serviço. O melhor da história do ténis nacional? Jaime Faria não vai por aí. «[Risos] Não sei, não sei.O Pedro [Sousa, treinador] é especialista no serviço. O Pedro e o Rui Machado também foram grandes servidores, eles ensinam-me bem [risos]. Diria que os melhores servidores são o Nuno Borges, Gastão Elias, Nuno Marques e o Leonardo Tavares. Tenho trabalhado bastante na perfeição do meu serviço. Mas não só o serviço, a saída para a primeira bola. Aproveitar melhor o meu serviço não só no ás, no serviço ganhante, mas também para assumir o ponto. Podemos ver os melhores do mundo, não são os que destroem os outros em ases, mas são aqueles que conseguem aproveitar várias vezes o serviço na construção do ponto. Tenho feito um bom trabalho no serviço e na primeira bola.»