Tribuna Livre: Antes de Gabriel e depois de Gabriel
Como sou dos que têm memória, não me esqueço de que 2008 marca uma mudança estrutural (para pior) da comunicação dos clubes e para a qual não me orgulho de ter contribuído – Nuno Saraiva, Consultor de comunicação e comentador
Volta e meia, sobretudo em época estival, o Futebol português é acometido pelas visitas de fantasmas de natais passados. Socorro-me da inspiração de Dickens para fazer referência à recente vaga de artigos e opiniões de um antigo diretor de comunicação de Clube, que vem a terreiro procurar denegrir a imagem da Liga Portugal e apoucar o presidente eleito por todos os Clubes profissionais, incluindo aquele em que a assombração, figurativamente falando, milita.
Como sou dos que têm memória, não me esqueço de que 2008 marca uma mudança estrutural (para pior) da comunicação dos clubes e para a qual não me orgulho de ter contribuído. Digamos que há um a.G. e um d.G., antes de Gabriel e depois de Gabriel. Ou seja, foi ele o pioneiro de um estilo de comunicação e linguagem tóxicas para a indústria do futebol, protagonista de um discurso de ódio que acabou por contaminar as relações e o ambiente entre adeptos, sociedades desportivas e demais agentes do futebol português. Prática que aliás prosseguiu, com menor cadência é justo reconhecê-lo, a partir do exílio nos Emirados.
Lembro-me do tempo em que uns eram «burros», outros «aldrabões», outros ainda que «grande parte do currículo desportivo de 30 anos que tem devia ser apresentado como cadastro», e por aí adiante. Entre «cretinos» e «deslumbrados», nenhum adjetivo pejorativo ou insulto ficava por usar nos escritos ou intervenções de G.
Hoje, travestido de Madre Teresa, escreve de forma sonsa sobre o atual estado do futebol português, que está bem melhor, reconheça-se, desde que se libertou deste tipo de estratégias comunicacionais. Por exemplo, sugere que os principais clubes se sentem à mesa, ignorando, de forma intelectualmente desonesta, que já têm vindo a fazê-lo, como é público, sob a égide da Liga Portugal. Afirma que a Liga está carente de um líder que reforme e que o negócio corre perigo, ignorando, mais uma vez de forma intelectualmente desonesta, que quando o atual presidente da Liga chegou, em 2015, a instituição estava em situação catastrófica. Não havia dinheiro para pagar a água, a luz ou o telefone, tendo sido necessário um trabalho hercúleo de recuperação financeira para a resgatar da situação de quase bancarrota, reabilitar a sua confiança e credibilidade e desenhar um modelo de negócio que a trouxesse para o patamar de reconhecimento, nacional e internacional, em que hoje se encontra. Não foi aliás por acaso que esse reconhecimento se materializou na eleição de Proença como presidente da European Leagues.
A pergunta que se impõe é óbvia: que contributo deu G., até hoje, para a melhoria do futebol português? Que propostas fez para benefício da indústria e do negócio? Mais, será que G., agora paladino da moral e dos bons costumes, acha que seria possível que os principais clubes se sentassem, lado-a-lado, estando ele à mesa depois de tudo o que disse e fez sem que, por uma vez, tivesse tido a humildade de fazer um ato de contrição público?
Tribuna Livre é um espaço de opinião, sem periodicidade certa, destinado a acolher colaborações ocasionais de personalidades externas. A BOLA reserva-se o direito de publicar apenas os textos que se enquadrem na política editorial e nos termos éticos de correção e lisura que nos norteiam.