Abriu o mercado: «Faites vos jeux!»

OPINIÃO15.06.201904:01

Hazard oficializado no Real Madrid, Griezmann, muito provavelmente, a chegar a Barcelona, ambos por valores um pouco acima de 100 milhões de euros. Está marcada a referência para a sempre excitante e despesista época de transferências. A partir daqui, todos estão convidados: «Faites vos jeux», como se diria à mesa da roleta, em qualquer casino.

Atendendo ao que se tem passado nos últimos anos, não se pode falar em louca extravagância nas transferências do belga ou do francês. Houve anos em que o mercado disparou por desalvoradas loucuras. Já aconteceu por causa de Cristiano Ronaldo, antes tinha acontecido por causa de Figo e, mais recentemente, surgiu um imprevisto e monumental boom, quando Neymar rumou ao Paris Saint-Germain e os fundos de capital de estado do Catar, que sustenta e inunda de petrodólares o clube francês, entregaram, numa bandeja de ouro, o valor exigido pela brutal cláusula de rescisão que ligava o brasileiro ao Barcelona.

Depois deste épico acontecimento, que, tal como dizia o José Manuel Delgado em A BOLA TV, foi o mesmo que pagar muito dinheiro para levar o pato Donald para a Disneyland, Neymar fez tudo, mas mesmo tudo, para destruir uma fantástica oportunidade de suceder, com toda a naturalidade, a Messi e a Cristiano como o melhor futebolista do mundo.

Teria sido dramático para o Paris Saint-Germain, se, de facto, o dinheiro investido tivesse de ser justificado, tivesse de ter o retorno de resultados e não pudesse, pura e simplesmente, ser esbanjado e apenas tornado útil ao poder tentacular de Nasser Al-Khelaifi, presidente do PSG, mas também chairman da beIN Media Group do Catar, uma empresa renascida da Al Jazeera media Group, e ainda chairman da Catar Sports Investments, além de ministro sem pasta, nomeado pelo seu particular amigo, o emir Sheik Imanin.

Todo esse poder político, económico, social de Al-Khelaifi, apesar de ter recebido do L`Équipe o título de mais influente figura do futebol francês, não permitiram a realização do sonho de fazer, finalmente, do clube da capital francesa, um dominador no mundo do futebol. Pelo contrário, o PSG, que continua a ser um crónico e inevitável campeão francês, está hoje mais distante da organização, do planeamento, do rigor da estrutura organizacional dos clubes ingleses e assiste, assustado e incrédulo, ao crescimento do futebol em Espanha e em Itália, continuando cada vez mais distante do topo e tentando perceber porque razão o poder do dinheiro não compra tudo.

Não se sabe ainda como o PSG e o seu protetorado de estado vai reagir à queda desamparada de Neymar, mas sabe-se que a guerra do mercado de transferências abriu cedo e, apesar de forte, sem números exibicionistas, atendendo ao passado recente.

Os clubes portugueses, os mais exportadores de todos os clubes da Europa, iniciam agora, verdadeiramente, os seus lances de propostas de venda. Sabem-se os nomes, conhecem-se hipóteses e isso tem sido quanto basta para todo esse caleidoscópio de fake news que por aí têm sido exaustivamente comentadas sem nexo.

O FC Porto poderá ser o clube mais exposto à venda; o Benfica tem vários jogadores na montra, mas vai tentar vender pouco e bem; o Sporting tem em vista um bom negócio com Bruno Fernandes, mas vai ter de saber ser hábil, paciente, corajoso. A ideia de que precisa, mesmo, de fazer esse negócio não ajuda e pode baixar o valor de um jogador que tem excelente qualidade, mas cujo futebol não se adapta a todos os campeonatos europeus. Tal como sucede, aliás, com João Félix, ainda numa fase muito vulnerável.