A montanha-russa de opiniões

OPINIÃO26.09.202206:35

O mesmo Portugal que goleou os checos não foi melhor do que a Sérvia e falhou entrada direta no Mundial. O melhor está para vir?

PORTUGAL goleou a República Checa e ficou mais perto da Final Four e de, eventualmente, repetir a conquista da Liga das Nações. Não é, há muito o digo, uma competição relevante para mim. Gostaria, isso sim, de acreditar que, depois da vitória expressiva sobre o terceiro classificado de um grupo ganho pela Bélgica (que eliminou a Seleção no Euro-2020) e que teve como segundo classificado o País de Gales (vítima da equipa das quinas nas meias-finais do Euro-2016), e que falhou a presença no próximo Mundial ao cair na meia-final do play-off diante da Suécia, Fernando Santos e companhia ficaram mais perto de levantar o caneco no Catar. O talento é imenso, como nunca houve, e claro que a festa é possível, embora ainda assim pouco mais provável do que um raio cair duas vezes em cima da mesma seleção, com seis anos de intervalo e a mais de 6 mil quilómetros de distância.
Podemos deixar que a ingenuidade nos arrebate e acreditar que esta Liga das Nações foi medir de pulso ideal para candidatos como França, Alemanha, Inglaterra ou Espanha e ainda desvalorizar que ainda há poucos meses se falhou a qualificação direta (atrás da Sérvia) e houve necessidade de ultrapassar Turquia e Macedónia do Norte para garantir o bilhete, porém não devemos embarcar constantemente numa montanha-russa de opiniões em que tudo muda com um ou dois resultados, qualquer que seja o adversário. Nem o próprio selecionador, que desde 2016 se alimenta das habituais fezadas e misticismos, se deveria sentir com moral suficiente para deixar sair aquele «o melhor está para vir». Torres lá disse que o deixássemos sonhar antes do tomahawk de Carlos Manuel em Estugarda e do México-86 e Fernando Santos tem obviamente idêntico direito, apesar de as últimas presenças em fases finais terem esbarrado nos oitavos de final, acompanhadas de promessas semelhantes. Os últimos tempos deveriam refrear o ímpeto.
 

Bernardo Silva está a dar sinais de crescimento no contexto de Seleção Nacional


Para completar o ramalhete, não me lembro de ver o selecionador tão errático nas decisões e explicações. Se, por um lado, mantém fidelidade aos seus, por outro explica apostas com argumentos que não são válidos para os primeiros. Decide-se por Ramos por causa de Félix com a renúncia de Rafa, e agora tem Ramos e Félix, mas não tem Rafa ou alguém de perfil parecido. O comentário sobre a rábula de Tiago Djaló que se sentiu obrigado a proferir para evitar eventuais especulações sobre a importância no grupo do defesa do Lille - ou de qualquer outro que não os habituais - também não deixa boa imagem. O mesmo acontece, num outro plano, com o puxar de galões pelo terceiro lugar na Taça das Confederações.
Nota-se a falta de um plano que, na realidade, a Rep. Checa pouco poderia expor, mesmo com jogadores competentes e um ou outro acima da média. O problema não é o agora e também poderá não chegar a existir diante de uma Espanha pressionada. No entanto, apertará no Médio Oriente, sobretudo a partir da fase de grupos.
Há, contudo, boas notícias. Bernardo Silva, Bruno Fernandes e Rúben Neves e Dalot parecem crescer em contexto Seleção, e Rafael Leão acrescenta uma imprevisibilidade que não existia antes. O talento ainda consegue resolver a maior parte da equação.